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Gomes defende Dunga: 'se tivesse continuado em 2014, não teríamos o 7 a 1'

Gomes durante treino da seleção brasileira, em 2010 - Getty Images
Gomes durante treino da seleção brasileira, em 2010 Imagem: Getty Images
Vanderlei Lima e Augusto Zaupa

Do UOL, em São Paulo

03/10/2022 04h00

A pouco menos de dois meses para a Copa do Mundo do Qatar, o ex-goleiro Gomes saiu em defesa de Dunga, técnico que o levou para o Mundial de 2010, na África do Sul. Para ele, o treinador gaúcho foi injustiçado —nas críticas após a eliminação para a Holanda em 2010 e na demissão em 2016.

"Sou suspeito para falar sobre o Dunga, porque é um ser humano sensacional. Acho que ele não soube lidar com a imprensa, somente isso. O erro do Dunga é não saber lidar com a imprensa [o treinador chegou a xingar publicamente o apresentador Alex Escobar, da Rede Globo, durante a Copa do Mundo de 2010] e isso transparece que ele não é a cara da seleção brasileira. Talvez o Dunga, em equipes, não tenha ido tão bem, mas na seleção todo mundo gostava dele, todos os jogadores abraçaram a causa, ele era muito fiel aos jogadores que estavam com ele desde o início", analisou, em entrevista ao UOL Esporte.

Se o Dunga tivesse continuado em 2014, não teríamos levado 7 a 1. Se [a CBF] tivesse dado continuidade, a gente não teria uma decadência tão grande como nós tivemos nos últimos anos", completou.

Com Gomes ao fundo, Dunga conversa com Kaká em treino da seleção brasileira - Richard Heathcote/Getty Images - Richard Heathcote/Getty Images
Dunga conversa com Kaká em treino da seleção brasileira
Imagem: Richard Heathcote/Getty Images

Apesar de "não apontar o dedo", como ele mesmo disse, Gomes recordou que a expulsão do então capitão Felipe Melo, aos 28 minutos do segundo tempo, quando pisou no atacante Arjen Robben, que estava caído no gramado após sofrer falta do próprio volante — a já Holanda vencia a partida por 2 a 1.

"Tínhamos tudo para levar aquela Copa, a gente tinha tudo desenhado entre os jogadores. Foi a última grande seleção do Brasil que tinha o respeito muito grande diante dos adversários. Talvez essa de hoje, do Tite, chegue próxima àquela. Nós perdemos para nós mesmos aquele jogo com a Holanda. Infelizmente, a expulsão do Felipe Melo, a gente nunca apontou o dedo para ele, foi algo que mudou a situação do jogo, foi significativa. Iríamos ganhar [a Copa]? Não sei, até porque tinha a Espanha [que se sagrou campeã]. O pior sentimento dentro do esporte é você sair de campo e imaginar que você poderia ter feito mais e melhor, esse é o pior sentimento", comentou.

Pai morreu no dia da queda diante da França

Quatro anos antes da eliminação para Holanda, Gomes sofreu um outro baque particular: a morte do pai Antônio, então com 75 anos. O ex-goleiro esperava pela visita do pai na cidade de Eindhoven, visto que defendia o PSV à época.

"No dia daquele jogo emblemático que o Brasil perdeu para a França, que teve aquela situação do Roberto Carlos amarrando a chuteira [estava arrumando o meião no gol de Thierry Henry], exatamente naquele dia [1º de julho de 2006], meu pai teve parada cardíaca. Ele ia viajar pela primeira vez de avião, uma viagem internacional pra Holanda", contou.

"Eu tinha passado com ele dez dias no interior de Minas Gerais, eu estava de férias. Até falei para ele: 'pai, o senhor precisa fazer um check-up para viajar. Isso foi na segunda. Ele morreu no sábado. Ele estava descascando amendoim para fazer pé de moleque para levar [à Holanda]. Ele teve uma parada cardíaca fulminante, caiu com a peneira que tinha nas mãos e não teve nem chance de ser socorrido", acrescentou.

Gomes durante sua passagem pelo Cruzeiro - REUTERS - REUTERS
Gomes durante sua passagem pelo Cruzeiro
Imagem: REUTERS

Outros trechos da entrevista com Gomes:

Transferência para o PSV

Após sair do Cruzeiro, Gomes se destacou no holandês PSV e depois se transferiu para o Tottenham, da Inglaterra - Getty Images - Getty Images
Após sair do Cruzeiro, Gomes se destacou no holandês PSV e depois se transferiu para o Tottenham
Imagem: Getty Images

"Foi em 2004, quando fui vendido com a mão quebrada. Terminei a minha recuperação lá (Holanda). Minha esposa me acompanhou desde o início, fizemos 19 anos de casados. Minha mãe e meus irmãos foram me visitar algumas vezes. Foram quatro anos maravilhosos, com cinco títulos (quatro Holandeses e uma Copa da Holanda, além uma semifinal de Champions League). Depois tive a oportunidade de jogar num dos times mais tradicionais da Inglaterra, que é o Tottenham. Foi algo que já estava muito além daquilo que eu pedi a Deus."

Emoção de jogar Liga dos Campeões

"Todas as vezes que eu ouvia a música da Champions League eu me emocionava, porque a gente não via tanto futebol europeu. Estamos falando de 20 anos atrás, não tinha esse acesso que tem hoje, não tinha essa possibilidade de acompanhar todos os campeonatos. Hoje tem esses aplicativos de streaming que mostram todos os campeonatos. Se o cara não se emocionar com o hino da Champions, é porque tem o coração gelado. As oportunidades foram acontecendo e só no PSV foram mais de 50 jogos de Champions League."

SAF de Ronaldo salvou o Cruzeiro

"Se isso tivesse acontecido quando o time caiu [para a Série B, em 2019], não tinha chegado onde chegou, porque, infelizmente, no Cruzeiro tinham pessoas que realmente metiam a mão [roubavam os cofres do time]. O Sergio [Santos Rodrigues, presidente da Raposa] não soube comandar o Cruzeiro de maneira esportiva, porque não tinha entendimento da parte esportiva. Talvez ele possa ter entendimento de gestão, mas não tem entendimento da parte esportiva. Se não fosse a SAF, se continuasse com o Sérgio à frente, não sairia dessa situação de maneira alguma."

Defende técnicos estrangeiros no Brasil

"Tem um monte de treinador estrangeiro trabalhando no futebol inglês e nem por isso os caras criticam. Sabe o que eles fazem? Batem palmas de pé, porque talvez o treinador inglês não está no nível do que é um outro. Não são todos os treinadores ingleses que estão no nível que tem o futebol hoje lá. Infelizmente, apareceram treinadores brasileiros que tenham tido essa visão que as coisas mudaram. Você não tem como mudar a cultura, mas você tem como incrementar alguma coisa. Poxa vida, vai estudar, vai estudar lá fora, vai ver, vai fazer um estágio lá para ver o que os caras têm de diferente, porque os caras fazem sucesso. Por que o treinador do Cruzeiro faz sucesso? Com certeza ele teve uma escola diferente, uma escola que vem do Uruguai aqui do lado, mas ele foi em algum lugar, ele foi estudar em outros lugares, na Europa principalmente."

Gomes chora após vitória do Watford na Copa da Inglaterra  - Dan Istitene/Getty Images - Dan Istitene/Getty Images
Gomes chora após vitória do Watford na Copa da Inglaterra
Imagem: Dan Istitene/Getty Images

Diniz ou Ceni na seleção brasileira

"Não tenho nada contra estrangeiros na seleção, ainda mais que os jogadores hoje da seleção brasileira estão jogando fora do país. Claro que ele vai precisar se inteirar sobre o Brasil também. O mais importante, no entanto, é a gente não ter preconceito. Se tem alguém que encaixe na filosofia daquilo que é o Brasil hoje, porque não dirigir a seleção brasileira? Mas eu ainda penso que temos uns dois, três nomes que podem ainda estar dirigindo a seleção brasileira, digo treinadores brasileiros. Dois nomes: Fernando Diniz, do Fluminense, e Rogério Ceni (São Paulo). Primeiro o Diniz."