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Opiniões divididas, privilégio branco e campanha contra Vini Jr

Vinícius Júnior comemora gol marcado pelo Real Madrid - Eric Alonso/Getty Images
Vinícius Júnior comemora gol marcado pelo Real Madrid Imagem: Eric Alonso/Getty Images

Lucila Runnacles

Colaboração para o UOL em Madri

17/09/2022 08h41

As redes sociais na Espanha continuam 'calientes' e as opiniões se dividem sobre o caso do jogador Vinicius Junior que recebeu comentários racistas em um programa de televisão espanhol.

A poucas horas do clássico entre o time merengue e o Atlético de Madri, a polêmica continua no ar e as hashtags #DancaViniJr #BailaViniJr #BailaViniBaila se multiplicam.

O UOL Esporte foi às ruas em Madri para saber o que pensam sobre o assunto tanto espanhóis como brasileiros que moram no país. Alguns dizem que há semanas o atacante do Real Madrid sofre uma campanha para ser desprestigiado.

Não achei racista

O espanhol Michael Beck faz uma analogia sobre o caso e conta que antigamente a seleção espanhola não tinha jogadores estrangeiros mas que isso foi mudando ao longo do tempo.

"Na Espanha a expressão 'no hagas el mono' significa basicamente não faça bobagem. Isso era mais utilizado no passado. Embora, se a gente quiser ser literal, Pedro Bravo, não o chamou de macaco", acredita. Michael diz que as manchetes dos meios que leu não expressam a verdade sobre essa polêmica. "Os títulos dizem que ele foi chamado de macaco, mas a realidade não é essa. Foi uma frase infeliz, mas não considero que ele tenha sido racista", esclarece.

Tratamento diferente da imprensa

"Não achei que a a intenção do presidente da Associação Espanhola de Empresários de Jogadores (AEAF) tenha sido racista, mas considero que a sua fala foi muito infeliz e de mau gosto. Vejo que a imprensa espanhola trata de maneira bem diferente os jogadores estrangeiros dos atletas locais", diz Klemen Ortiz, venezuelano filho de espanhóis.

Dupla nacionalidade

Há poucas semanas o atacante brasileiro, alvo da polêmica, recebeu a dupla cidadania e agora é hispano-brasileiro.

"Veja só, quando esse comentarista diz que é para o Vinicius ir dançar no país dele. Oras, mas a Espanha agora também é o seu país. Eu fico realmente indignada com esse tipo de coisa", diz a espanhola Marina White.

Torcedora do Real Madrid, para ela o Vinicius tem talento. "Ele é o segundo Pelé. Acho seu jogo maravilhoso e adoro qualquer jogador que dance de alegria ao celebrar um gol. O futebol brasileiro é o mais lindo que existe", elogia.

Marina conta que há poucos dias participou ativamente nas redes sociais com o hashtag #BastaAlAcosoYderriboAVinicius (chega de perseguir e derrubar o Vinicius). "Eu não acho que a imprensa espanhola seja racista nem com os brasileiros nem com outros jogadores estrangeiros. Essas campanhas contra um jogador já aconteceram antes. O Cristiano Ronaldo sofreu várias dessas no passado", relembra.

Campanha negativa

Quem também acredita nisso é o espanhol Carl Ruiz. "Atualmente existe uma campanha aqui na imprensa contra o Vinicius. O objetivo é que ele perca a concentração nos jogos. Isso está acontecendo não pelo fato dele ser negro e sim por ser do Real Madrid. O objetivo é desestabilizar o jogador", acredita.

Brasileiros na Espanha

Esse assunto incomodou muito os brasileiros que moram na Espanha. Junior Ribeiro é o criador de um dos maiores perfis no Instagram da comunidade brasileira em Madri, o @divulga.madrid que tem mais de 36 mil seguidores. O pernambucano fez stories e dois posts sobre a polêmica para que outras pessoas fora do circuito do futebol também fiquem sabendo o que aconteceu. "É preciso conscientizar e educar as pessoas de que esse tipo de expressão utilizada contra o Vinicius é racista. Eu já ouvi algo parecido do tipo volta para o teu país que aqui não é o teu lugar. Isso é xenofóbico e ouvir esse tipo de coisa dói", diz Junior que vive na Espanha há 10 anos.

junior - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Junior Ribeiro também é jogador de futebol em Madri
Imagem: Arquivo pessoal

"Olha só, lembro da época que o Kaká jogava aqui. Ele nunca sofreu esse tipo de preconceito só porque é branco", relembra o pernambucano que volta e meia bate uma bola como amador em Madri.

Privilégio branco

Para Eva Santtos, se justificar e pedir desculpas depois não serve. "Falar algo desse tipo e logo sair se desculpando é privilégio de branco. Existem outras maneiras de falar que alguém está fazendo algo bobo, se é que esse era o objetivo. Mas da forma como foi dito é sim um ato racista", diz a brasileira que mora na Espanha há 4 anos.

A baiana acredita que ainda falta um longo caminho pela frente. "Precisamos de mais espaço na mídia para continuar ensinando e explicando que os atos racistas aparecem da falta de informação. As pessoas precisam saber que essa é uma fala ultrapassada, retrógrada e que não é correta", desabafa Eva que convive diariamente com muitos espanhóis.

Enquanto a polêmica continua aquecida nas redes sociais, o Real Madrid vai enfrentar o Atlético de Madri neste domingo (18), no primeiro 'derby' madrileno da temporada. O jogo pelo Campeonato Espanhol vai ser às 21h (horário espanhol), 16h de Brasília, no estádio Wanda Metropolitano.

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