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Inspirado em Tite e Muricy, campeão pelo Inter inicia carreira de técnico

Renan, ex-goleiro do Inter, hoje é técnico do Barra-SC na categoria sub-17 - Divulgação/Barra-SC
Renan, ex-goleiro do Inter, hoje é técnico do Barra-SC na categoria sub-17 Imagem: Divulgação/Barra-SC

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

15/09/2022 12h00

Renan é um nome marcado na história do Inter. Goleiro presente no grupo campeão da Libertadores de 2006 e do Mundial de Clubes contra o Barcelona, titular na conquista da Libertadores de 2010, além de outros momentos marcantes na trajetória vermelha, hoje aos 37 anos ele já não defende a meta de qualquer equipe. Mas isso não quer dizer que esteja longe dos gramados, ou do sucesso. Técnico do time Sub-17 do Barra, de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, ele se prepara para decidir o Estadual da categoria contra a Chapecoense.

"Já vinha há algum tempo amadurecendo essa ideia de seguir no futebol. Primeiro passo foi buscar cursos para viabilizar isso. Me matriculei na Licença B da CBF para treinadores. Então, iniciei no módulo online durante a pandemia e segui jogando futebol. Até que chegou o momento das aulas práticas, em março deste ano, e coincidiu também com final do Catarinense, no meu último clube como jogador, que foi o Marcílio Dias. Então, tomei a decisão de mergulhar e buscar cada vez mais conhecimento e tentar, através de estágio e trabalhos, viabilizar um emprego nesta área. Foi onde surgiu dentro do Barra, quando fiz o estágio da Licença B, uma oportunidade como técnico individual, um setor novo dentro do clube, e foi minha primeira experiência dentro do futebol, como técnico", contou Renan ao UOL Esporte.

Renan foi cria da base do Internacional e desde cedo mostrou suas qualidades no gol. Esteve no grupo campeão dos principais títulos da história do clube, virou titular e foi vendido em seguida ao Valencia. Na Espanha também defendeu o Xerez antes de voltar ao Inter para vencer a Libertadores de 2010 e permanecer até 2012. Em seguida passou cinco temporadas defendendo o Goiás, esteve no Ceará, no São Bento, no Esportivo, no Pelotas, no Paraná, e encerrou carreira como atleta no Marcílio Dias.

"Já vinha há algum tempo com essa ideia [de ser técnico], após ter algumas lesões quando sai do Goiás e depois no Ceará. Não conseguia equilibrar a parte física para seguir dentro do alto nível. Optei por seguir dentro do futebol, por entender que o lado mental ainda tinha condição de jogar e as oportunidades que surgiram para mim já foram num cenário de divisões menores. E segui jogando e preparando a cabeça também para o momento de parar mesmo. Recuperei a parte física e fui jogar o Gauchão pelo Esportivo, surgiram novas oportunidades dentro deste nível de mercado. Mas já direcionei mais o meu tempo para entender os processos, entender até mesmo a rotina destes clubes de menor visibilidade para não ter só experiências do tempo que tive dentro do futebol de alto nível, onde tem maiores valores, melhores estruturas. Para que eu pudesse saber lidar com todos os níveis", contou

"A verdade é que a escolha foi bem feita, o processo também foi de uma maneira mais gradativa e benéfica para minha saúde mental e para aos poucos me sentir mais confiante para encarar o futebol agora como técnico", comentou.

Renan orienta jogadores da base do Barra-SC, clube em que trabalha - Divulgação/Barra-SC - Divulgação/Barra-SC
Imagem: Divulgação/Barra-SC

O Barra-SC é sua primeira chance como técnico e logo de cara o sucesso apareceu. Ele comanda o time desde agosto de 2022, na fase de mata-mata do Catarinense Sub-17. Foram quatro jogos até agora, com três vitórias e um empate. Sob seu comando o Pescador (apelido do time) marcou seis gols e sofreu três. Agora, se prepara para a final da categoria, contra a Chapecoense.

"Dentro do futebol, tive muita sorte. Desde a minha formação, os técnicos que trabalhei depois conseguiram ter espaço no futebol profissional. Trabalhei com Julinho Camargo, com Lisca, Mano Menezes, Osmas Loss, Guto Ferreira... Inúmeros treinadores que conseguiram chegar ao futebol de alto nível. Essas experiências, não só as de profissional, como as que tive no Inter, com Abel Braga, Tite, Dorival, lá fora com o Unai Emery, acho que são importantes, para mim, para em algum momento visitar o passado e refletir sobre experiências que vivi, como eles abordaram", disse.

"Sobretudo sobre gestão de grupo, porque a gente sabe que a ideia do futebol é muito pessoal. A gente pode ver o jogo e cada pessoa terá uma visão diferente do que fazer, da tomada de decisão. Mas da gestão de pessoas, de ser o mais reto possível, o mais transparente e tentar entender também o jogador, acho que tudo isso aliado a experiência como atleta, de saber me colocar no lugar deles nestes momentos mais difíceis ou no momento positivo, saber manter o jogador dentro do foco, isso vai me trazer uma vivência mais positiva para tomar essas decisões e me equivocar menos", completou.

Hoje, Renan acredita que teve influência de grandes treinadores com os quais trabalhou e tirou lições das experiências no período de atleta. Como na vitória sobre o Barcelona no Mundial de Clubes de 2006, e a derrota na semifinal do mesmo torneio, em 2010, para o Mazembe.

"Acho que tive vários treinadores influentes na minha carreira. Hoje temos grandes nomes no futebol brasileiro, não só dos treinadores nacionais, mas também estrangeiros. Acho que o mais importante é tentar não copiar ninguém, é tentar criar o meu modelo de jogo, minhas ideias, minhas formas de liderar e também de dividir com o resto da comissão técnica, que a gente sabe que é muito importante ter uma equipe multidisciplinar e que participar destas decisões. Mas Abel Braga, Muricy, o próprio Tite são treinadores que me impactaram na forma de pensar o jogo, na forma de preparar os jogos, de serem detalhistas com relação ao adversário. Então, são nomes que sempre vou ter em consideração na hora de estar pensando no trabalho e até mesmo de pensar como vou enfrentar um adversário", explicou.

"Tanto na vitória quanto na derrota, você tem que saber equalizar bem os porquês tu venceu, os porquês tu perdeu. Acho que nos dois momentos você tira lições. No Mundial, a gente poderia, de repente, ter focado mais, ter nos preparado ainda mais para o Mundial. E os dois mostram a força do grupo. Quando não se esperava tanto, contra o Barcelona, a gente conseguiu. E quando se esperava mais a gente acabou decepcionando. Mas acho que tento sempre ver o lado bom, tanto na vitória quanto na derrota, e os detalhes que fizeram diferença. A gente sabe que essa linha de resultados é muito tênue no futebol. Não dá para só avaliar o resultado, mas, sim, todo processo para saber como venceu e como perdeu", disse sobre o aprendizado.

Com toda bagagem que conseguiu ao longo da carreira, ele foca na busca pelo primeiro título, mesmo com tão pouco tempo na nova função, e aproveita para aprender cada vez mais até receber oportunidade em uma equipe principal.

Renan comemora gol do Barra-SC, equipe que treina nas categorias de base - Divulgação/Barra-SC - Divulgação/Barra-SC
Imagem: Divulgação/Barra-SC

"Nossa equipe vem, depois da parada das férias de julho, num momento crescente, de entendimento também da competição, que, agora, é uma característica de decisão, de mata-mata. Estamos muito felizes com o que estamos apresentando até agora. Os meninos vêm se portando muito bem em jogos decisivos. Um cenário que não tínhamos vivido ainda era de sair perdendo e, neste último jogo, a gente conseguiu reverter e não perdemos o lado emocional. E é um fator importante em um jogo decisivo. Mas sabemos que vamos enfrentar a Chapecoense, que é uma forte equipe dentro da formação, uma equipe tradicional no futebol catarinense e tem toda a responsabilidade, vamos dizer assim, de chegar nesta final e ser protagonista. Nós vamos nos preparar muito bem nos dois jogos para os meninos desfrutarem também deste momento, mas sabemos que temos qualidade suficiente para enfrentar a Chape em dois bons jogos e buscar o título", disse.

"Eu escolhi o caminho de trabalhar na base para me preparar bem, entender os processos do futebol. O lado do clube com relação às exigências, desde um simples relatório até a maneira como se portar e as conexões de reuniões e trocas de informações. Não tenho pressa para chegar ao profissional, mas estou tentando criar meu método. Me avaliar todo dia para corrigir as coisas que preciso melhorar o mais rápido possível. Para quando tomar a decisão de saltar ao profissional e errar o menos possível. Claro que a gente vai se equivocar, o futebol é uma área de tomada de decisão e nem sempre a gente vai conseguir ter o melhor entendimento de qual a decisão a ser tomada e vai passar alguma coisa. Mas quanto mais eu ter a vivência, a experiência de tomar essas decisões, de resolver problemas, de conectar os setores, as pessoas de uma forma positiva, vai ser importante para chegar ao profissional mais preparado", finalizou.

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