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Marquinhos vê Neymar longe da Bola de Ouro e Ganso prejudicado por lesões

Marquinhos trabalha atualmente como coordenador técnico do Avaí - Avaí / Divulgação
Marquinhos trabalha atualmente como coordenador técnico do Avaí Imagem: Avaí / Divulgação

Augusto Zaupa e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

16/07/2022 04h00

Classificação e Jogos

Durou apenas um ano, mas foi o suficiente para o então meia Marquinhos acompanhar de perto a geração que iria garantir o último título do Santos da Libertadores, em 2011. Naquela safra de Meninos da Vila estavam Neymar e Paulo Henrique Ganso, principais estrelas do elenco à época. Passados 12 anos, o primeiro é um dos destaques do futebol europeu e principal esperança da seleção brasileira na Copa do Mundo do Qatar, enquanto o segundo atua pelo Fluminense e teve passagem apagada pelo Velho Continente. O Peixe enfrenta hoje (16), às 19h (de Brasília), o Avaí, na Ressacada, pela 17ª rodada do Brasileirão.

Campeão da Copa do Brasil de 2010 ao lado da dupla, Marquinhos hoje tem liberdade para opinar: para ele, Neymar dificilmente ganhará a Bola de Ouro, prêmio entregue ao melhor jogador do mundo. Já Ganso não alçou voos mais altos devido às sucessivas lesões, principalmente nos joelhos — operou os ligamentos cruzado de ambos.

Marquinhos em ação na vitória do Santos sobre o Oeste, em janeiro de 2010, pelo Paulistão - Santos / Divulgação - Santos / Divulgação
Marquinhos em ação na vitória do Santos sobre o Oeste, em janeiro de 2010, pelo Paulistão
Imagem: Santos / Divulgação

Atualmente trabalhando como coordenador técnico e espécie de auxiliar do técnico Eduardo Barroca no Avaí, Marquinhos acredita que passou o momento ideal para que Neymar fosse sido eleito o melhor do planeta.

"Acho muito difícil. O auge dele foi no Barcelona e ali poderia ter sido, mas veio o Mundial de 2014 e o Brasil não ganhou, e isso pesa bastante, por mais que ele tenha ganho a Champions League depois", comentou. "Ele teve boas fases lá na Europa, e conseguiu ganhar títulos, mas ele pegou dois caras que eram fenomenais, que são o Cristiano Ronaldo e o Messi. Assim é complicado ganhar a Bola de Ouro. Eles tinham números impressionantes e a qualidade deles era absurda. Quando os caras deram uma meia baixada na fase, o PSG não conseguiu passar das quartas de finais da Champions e isso pesa bastante. Para o Neymar agora fica mais difícil. Não falo impossível, porque para aquele menino não existe isso."

Ganso e Neymar beijam a taça da Copa do Brasil após Santos garantir o título do torneio -  -
Ganso e Neymar beijam a taça da Copa do Brasil após Santos garantir o título do torneio

Naquele Santos de 2010, Marquinhos também viu Paulo Henrique Ganso se destacar. Tanto que, à época, o atual meia do Fluminense era apontado como um jogador melhor e mais completo que Neymar. Para muitos torcedores brasileiros, o armador deveria ter sido convocado por Dunga à Copa do Mundo daquele ano, na África do Sul.

"Esperava [mais do Ganso], não só eu como todo mundo colocava o Ganso na frente do Neymar, todo mundo conversava sobre isso lá no nosso time, que o Ganso estava mais preparado naquela ocasião. Eram duas revelações com características diferentes. O Ganso estava mais formado, participava mais do jogo coletivo, pela inteligência dele. Mas o Neymar, com muito pouco tempo, evoluiu muito e teve maturidade, soube lidar com a pressão de ser o cara que ia resolver jogos. Quando eu cheguei no Santos, o Ganso estava mais pronto para Europa do que o Neymar", opinou.

"Infelizmente, veio a lesão do Ganso, uma segunda lesão que ele teve no joelho e atrapalhou muito a carreira dele. A gente viu que foi muito difícil ele retornar ao alto nível, deve ter jogado algumas partidas em cima de algumas lesões, não só aquela que ele teve no joelho, mas deve ter tido outras lesões. Eu não estava mais lá em 2011, mas sei que ele jogou um pedaço da Libertadores no sacrifício para ajudar o Santos e, consequentemente, queira ou não queira, o preço vem (...) O Ganso poderia ter ido um pouco mais longe do que foi, mas também é um grande jogador, por isso que até hoje joga, mesmo com as limitações físicas dele", completou.

Nova geração santista ainda não despontou

Além de Neymar e Ganso, Marquinhos atuou ao lado de outros Meninos da Vila em 2010, como André, Wesley e Alex Sandro e até Robinho, revelado do Peixe anos antes e que já acumulava passagens por Real Madrid e Manchester City. O hoje coordenador técnico do Avaí aponta que a nova safra de promessas ainda não despontou, sendo que a última a dar frutos foi a de 2020, vice-campeã da Libertadores daquele ano sob o comando de Cuca.

"Desde que foi para a final da Libertadores, [o time] mudou bastante, e isso acontece. Quase todos os times no Brasil têm problemas financeiros e a gente sabe que isso é complicado. O Santos parece que tem plantação de craques no CT, sempre aparece vários meninos, mas às vezes dá muito certo, demora um pouco mais para dar. Acredito que essa situação [geração] está demorando um pouco mais para vingar. E cada ano que passa o Brasileiro fica mais forte, as equipes se estudam, sabem o potencial uma das outras", analisou.

Nas últimas semanas, o Peixe foi eliminado nas oitavas de final da Copa do Brasil e da Sul-Americana, o que gerou protesto de parte da torcida e até invasão de campo na Vila Belmiro, como no caso de agressão ao goleiro corintiano Cássio. Marquinhos pede mais paciência para que o clube paulista reencontre o caminho dos títulos.

Marquinhos comemora gol do Avaí sobre o Palmeiras - EDUARDO VALENTE/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO - EDUARDO VALENTE/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO
Marquinhos comemora gol do Avaí sobre o Palmeiras, em 2017
Imagem: EDUARDO VALENTE/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

"O Santos é um time gigantesco, a torcida não tem essa paciência, as pessoas não têm essa paciência. Eu não estou lá dentro, mas, às vezes, também é processo do treinador que não assimila, não consegue assimilar o que é passado. Não é que o treinador seja fraco, mas isso acontece porque muita troca de treinadores. O Alexander Medina veio para o Internacional e não deu certo, agora está lá fazendo nas quartas de final da Libertadores com o Vélez [Sarsfield], tirou o River Plate. Essas situações acontecem igual com os jogadores. Não deu certo aqui, ah ele é ruim. Amanhã ele sai daqui, vai para outro time e dá certo."

Mais trechos da entrevista com Marquinhos

Neymar precisa dividir protagonismo na seleção

"Eu torço muito para que ele ganhe a Copa. Mas penso que temos que tirar um pouco das cobranças, da responsabilidade só do Neymar. Então, eu vejo que um menino que passou aqui comigo no Avaí, o Raphinha [recém-contratado pelo Barcelona], também consegue chamar a responsabilidade. O Neymar é uma nota da música, não é a música toda, quanto mais dividir responsabilidade, tirar o peso maior sobre o Neymar... A gente sabe, principalmente depois da Copa do Mundo no Brasil e depois na Rússia, ficou tudo em cima do Neymar. Ele é um baita jogador, só que todo mundo tem que chamar um pouquinho da responsabilidade. Se cada um carregar, 10, 20% da responsabilidade, montando dentro de um grupo de 20, 25 jogadores, as coisas começam a ter mais tranquilidade. O Neymar tem que saber a importância dele, a liderança que tem, mas saber também que ele não joga sozinho."

Jogadores da seleção precisam esquecer as redes sociais

"Precisa ter um pouco mais de foco, porque hoje temos cada vez mais forte um amigo, ou inimigo, que são as redes sociais. Antigamente a gente não tinha isso. Hoje a gente tem que ficar monitorado tudo, olhando as coisas, preocupado com várias situações, não só o lado do campo. São só sete jogos [para conquistar o hexa no Qatar], é um menos de um mês, um mês que seja, é pouco tempo de concentração, de abdicar de algumas situações. É preciso se fechar ali entre eles para na frente ter o sucesso. Poucas pessoas são campeãs mundiais, e isso aí é um sucesso vitalício (...) Temos um bom treinador, mas tem que ter pulso firme, não abrir exceção para algumas situações, como cabeleireiro [Neymar levou dois cabeleireiros para o Mundial da Rússia e que estiveram na concentração]. Eles sabem a importância de ser campeão mundial, mas você tem que estar toda hora frisando, toda hora falando, toda hora motivando, toda hora blindando, não deixar nada de ruim chegar. Por isso o que eu falo, as redes sociais são complicadas. Tem 40 comentários [num post], 35 falando bem e cinco falando mal. A gente dá ênfase às cinco pessoas que estão falando mal, isso aí é coisa do ser humano. Não é coisa minha ou do outro, é do ser humano."

Brasil não é favorito ao título mundial

"Eu acho difícil [conquistar o hexa]. Penso que a França está um passo à frente. Eu não acredito que a Bélgica, que todo mundo pinta e borda, possa ganhar. A seleção favorita é a da França, que tem um ciclo de atletas que estão muito bem na Europa. Cada vez que tem um jogo da França a gente descobre um jogador. Aquilo que eles fazem, pegando jogadores de outros lugares e os naturalizando franceses, conseguem ter uma seleção de um nível muito alto. Se bater de frente com o Brasil, o Brasil vai se complicar. Vai ser muito difícil, não impossível."

Duelo entre Avaí e Santos, na Ressacada

"Se a gente for olhar principalmente, pela última rodada, o Santos é favorito. Mas falo tranquilamente que vai ser um jogo equilibrado. Apesar de ser o oitavo (Santos) e o 16º (Avaí), esse último jogo nosso (derrota Red Bull Bragantino por 4x0) foi um jogo fora da curva, nada deu certo. Nosso time teve muito abaixo, os jogadores tiveram muito abaixo do lado técnico, do lado de competitividade. A gente não conseguiu criar, foi um sábado para esquecer e isso acontece e o Vladimir (goleiro) foi muito bem no jogo, e foi 4x0, imagina se ele não fosse bem. Tanto é que na hora que acabou o jogo, eu falei: esquece o jogo, foi um jogo atípico. A gente está fazendo um bom campeonato, são 16 rodadas, e a gente não entrou nenhuma vez na zona de rebaixamento. Todo mundo falava que o Avaí era o primeiro rebaixado, que não iria fazer 20 pontos, e estamos com 18. O Barroca está fazendo um grande trabalho e os jogadores estão assimilando muito bem."