Topo

Calor no Qatar na repescagem reforça que Copa em junho seria inviável

Verão do Qatar tem sol escaldante - Igor Siqueira/UOL
Verão do Qatar tem sol escaldante Imagem: Igor Siqueira/UOL

Igor Siqueira

Do UOL, em Doha (QAT)*

13/06/2022 04h00

Classificação e Jogos

Respirar o ar do Qatar longe dos aparelhos de ar-condicionado de hotéis, carros e restaurantes é a prova de que seria inviável a realização da Copa do Mundo no verão. A temperatura, que ronda —e nos últimos dias chegou a passar— os 40° durante o dia, justifica a alteração no calendário internacional feita pela Fifa para que o Mundial seja em novembro. Até as noites são muito abafadas. Mas por que, então, os jogos que definem os últimos classificados ao torneio estão em Doha?

O estádio Ahmad Bin Ali, do Al Rayyan, é o palco escolhido para abrir os confrontos Peru x Austrália, hoje (13), e Costa Rica x Nova Zelândia, amanhã (14). Ambos os jogos serão às 21h, no horário local —15h (de Brasília).

Inserir o Qatar na rota do playoff intercontinental conjuga os objetivos da Fifa e da organização local de testar o máximo possível as instalações que serão usadas no fim do ano - o país quer aproveitar cada chance para se mostrar receptivo e atraente para turistas.

Marcar partidas e treinamentos na parte noturna é a solução para amenizar os efeitos do clima, além da refrigeração artificial instalada nos estádios. Mas a questão é que a Copa do Mundo do Qatar demandará, por motivos de tabela e transmissão, ao menos quatro horários diferentes por dia. Encavalar todos os jogos apenas no horário nobre está fora de questão.

O clima desse período do ano afeta os hábitos da população local e dos visitantes. Os jogadores da seleção entram na rotina de pouca exposição ao sol porque já costumam passar a maior parte do dia no hotel.

Andar na rua é uma tarefa desafiadora. Mesmo à noite. O sol escaldante do deserto nasce cedo, pouco depois das 4h e vai castigando até as 18h30. A locomoção, em geral, é em carros (sempre com janela fechada e ar condicionado ligado) ou de metrô, também climatizado.

Por mais que haja pontos na cidade que poderiam ser usados para caminhadas ou desenhados especificamente para prática esportiva, os espaços públicos de Doha ficam praticamente desocupados ao longo do dia. O parque Al Bidda é um exemplo disso. Deserto no verão, ele receberá diversos eventos e fan fest durante a Copa do Mundo em novembro. Instalar uma fan fest no período atual seria, no mínimo, gatilho para insolação.

O principal mercado local, o Souq Waqif, vê o movimento aumentar quando escurece. E muito porque seus corredores têm ar-condicionado, o que alivia o mormaço. Na sexta-feira (10) e no sábado (11), inclusive, o calor em Doha teve um tempero de um vento nada refrescante. Era como se o rosto do pedestre, ainda que acostumado com o calor de zonas tropicais do Brasil, ficasse diante de um forno aberto. Por isso, os shoppings são os pontos de desafogo para o entretenimento nessa época do ano.

A temperatura ficou mais amena ontem (12) à noite, ficando em 32º perto das 21h. Foi quando a torcida do Peru se juntou na porta do hotel para dar apoio à seleção.

Olhando para dentro de campo, a Austrália está mais aclimatada que o Peru, já que, desde o começo de junho, já fez duas partidas no Qatar: venceu o amistoso contra Jordânia e derrotou os Emirados Árabes na fase anterior dos playoffs de repescagem para a Copa.

"Estamos aqui por duas semanas. O período de treinamento ajudou. Já jogamos um amistoso aqui no Qatar com ar-condicionado. Estamos familiarizados com o Oriente Médio porque jogamos na Ásia, fizemos jogos das Eliminatórias. Isso é uma vantagem", admitiu o técnico da seleção australiana, Graham Arnold, na coletiva de véspera da partida.

*O repórter viaja a convite do Supreme Committee for Delivery & Legacy