Arábia Saudita consegue Copa 2034 ao despejar dinheiro no futebol e na Fifa

A confirmação da Arábia Saudita como candidata única e — consequentemente — sede da Copa do Mundo de 2034 é a consumação de um plano de longa data de um aliado político e financeiro da Fifa durante a gestão Gianni Infantino.

O governo local é mais um a recorrer ao esporte como parte da espinha dorsal da estratégia de melhora de imagem do país, batizada de Visão Saudita de 2030. E ter no horizonte o evento mais importante do esporte mais popular do mundo era algo que os sauditas almejavam há algum tempo.

Houve movimentos para concorrer à edição de 2030 da Copa, mas o acordo com a Fifa envolveu tirar o time de campo e esperar mais quatro anos.

Mas isso não fez a Arábia Saudita tirar o pé dos investimentos no futebol, tanto que neste ano despejou dinheiro nos quatro principais clubes do pais para turbinar a liga local e contratar jogadores do quilate de Benzema, Neymar e outros.

A Fifa e os sauditas já estavam se entendendo bem quando colocaram o Mundial de Clubes 2023 no país. Nos últimos meses, Infatino fez visitas frequentes ao país. O dinheiro para a Fifa e a competição deste ano chega via patrocínio do Visit Saudi, o órgão governamental de turismo da Arábia Saudita. Houve conversas com a mesma marca para a Copa do Mundo Feminina, mas a discussão não avançou — até porque as jogadoras protestaram.

Novamente no Oriente Médio

No processo de candidatura mais recente, para a Copa do Mundo, a entidade máxima já tinha dado bandeira do caminho pavimentado para os sauditas quando anunciou que só aceitaria candidaturas de países da Ásia e da Oceania para o Mundial em questão. A Austrália retirou a candidatura. Os asiáticos, então, receberão a Copa pela terceira vez — as outras duas foram em 2002 (Coreia e Japão) e Qatar (2022).

O projeto saudita se parece muito com o qatari pela tática do sportswashing — uso do esporte para melhora de reputação —, mas a mudança socio-econômica proposta parece mais ambiciosa, até pelo porte do país.

O governante local é um monarca nada afeito à democracia e à liberdade de imprensa. Ainda há questões relacionadas ao fundamentalismo religioso, papel inferior das mulheres na sociedade e direitos humanos. As leis são mais duras que o Qatar em relação à comunidade LGBTQIA+, por exemplo.

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Apesar de fazerem fronteira entre si, Qatar e Arábia Saudita não têm a melhor relação diplomática. Durante o ciclo da Copa passada, houve, inclusive, um corte de relações entre os países árabes da região e o Qatar. Os sauditas faziam parte do bloco opositor.

E o calendário?

No que diz respeito à dinâmica do futebol, a Copa na Arábia tende a demandar adaptações similares às do Qatar no calendário do futebol mundial. A Fifa ainda não deu detalhes e até lá a gestão Infantino já terá acabado, mas a lógica é realizar o Mundial mais uma vez no fim do ano, entre novembro e dezembro.

Isso é uma dor de cabeça para os europeus, que já reclamaram da pausa para encaixar o Mundial do Qatar. A diferença é que em 2034 — salvo qualquer cavalo de pau da Fifa — o Mundial terá 48 seleções, 104 jogos e algo perto de 39 dias, tomando como referência a Copa de 2026 (a primeira desde a expansão).

O processo de candidatura na Fifa precisa seguir trâmites técnicos. Mais adiante, quando a Arábia Saudita formalizar o que os documentos da Fifa pedem, será possível saber quais e em quantas cidades a Copa do Mundo acontecerá, além da definição sobre os estádios.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemente do que foi informado na legenda da foto, o homem é o Rei Salman, e não o príncipe da Arábia Saudita. O erro foi corrigido.

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