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Santos: Ex-atacante Basílio teme queda no Brasileirão e vê falhas na base

Basílio em ação pelo Santos durante partida contra o Botafogo, válida pelo Campeonato Brasileiro de 2004 - TASSO MARCELO/AE
Basílio em ação pelo Santos durante partida contra o Botafogo, válida pelo Campeonato Brasileiro de 2004 Imagem: TASSO MARCELO/AE

Augusto Zaupa e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

24/04/2022 04h00

A torcida do Santos é uma das poucas da elite do futebol brasileiro que pode bater no peito ao afirmar que nunca passou por um rebaixamento. O Peixe, no entanto, flertou recentemente com quedas no Brasileirão e Paulistão, o que deixa o ex-atacante Basílio, 49 anos, preocupado com a possível queda nesta temporada. Com uma vitória e um empate na atual edição do Nacional, o Alvinegro recebe o América-MG, hoje (24), às 16 (de Brasília), na Vila Belmiro, pela terceira rodada do Brasileirão.

"Esse ano está muito, mas muito mais difícil o campeonato. Se o Santos realmente não abrir os olhos, não fizer algumas contratações que façam a diferença, porque hoje você não tem mais o Robinho, Neymar, Elano, que faziam a diferença, realmente há um risco muito grande. Hoje tem um ou dois jogadores [de peso]. O elenco que disputou o Paulista era um dos mais novos. Sempre foi assim quando teve conquista, mas também tinha [atletas] mais rodados, como Rincón e Muller", comenta o ex-jogador, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

"No ano passado foi difícil, no finalzinho é que deu uma alavancada. No Paulista, agora, ao mesmo tempo em que poderia cair também poderia classificar. Foi o Red Bull Bragantino que ficou na primeira colocação do grupo, depois Santo André. O Santos tem que brigar pela primeira colocação, mas neste ano realmente o que eu ouço dos torcedores é este temor [de cair à Série B]. Pode ter um mal desempenho no Campeonato Brasileiro e pela primeira vez na sua história ser rebaixado. É uma coisa que a gente não quer, mas tem que estar muito atento. Por causa dessa questão técnica, vem técnico argentino e não deu certo e troca por outro. O Santos tem uma camisa de peso e talvez os jogadores que estão lá hoje tão têm o peso suficiente para manter a camisa", acrescenta Basílio, campeão brasileiro pelo clube em 2004.

Com quase 20 clubes ao longo na carreira, Basílio rodou o interior paulista e passou por Palmeiras e Grêmio antes de, enfim, acertar contrato com o Santos, em 2004, para defender o clube de coração. Depois da aposentadoria como atleta profissional, o ex-atleta natural de Andradina (SP) chegou a trabalhar na base do Peixe por cerca de três anos — foi contratado para o Departamento de Avaliação, Captação e Transição de Atletas (DACTA) em agosto de 2019. Por tanto, diz acreditar que houve falhas no trabalho para a montagem das equipes inferiores nas últimas temporadas.

Basílio (à dir.) ao lado de outros profissionais do Santos, em agosto de 2019, quando chegou para trabalhar na base - PEDRO ERNESTO GUERRA AZEVEDO / Santos - PEDRO ERNESTO GUERRA AZEVEDO / Santos
Basílio (à dir.) ao lado de outros profissionais do Santos, em agosto de 2019, quando chegou para trabalhar na base
Imagem: PEDRO ERNESTO GUERRA AZEVEDO / Santos

"Eu estive na base do Santos trabalhando como avaliador técnico nesses últimos três anos e o que eu percebi é que foram mal escolhidos os seus atletas de base no passado. É o que dá sustento para o profissional. Queira ou não o Santos sempre foi de revelar bons jogadores. A escolha errada na base, do sub-11 até o sub-17, onde o Santos tinha as melhores bases, eu vi que a base estava muito abaixo", analisa o ex-atacante, que disputou 116 jogos e fez 42 gols com a camisa santista.

"O Santos na base sempre era temido, fazia bons trabalhos, mas não conseguiu se classificar no sub-20 e no sub-17 em alguns campeonatos. Foram escolhas erradas, talvez dos avaliadores. [O atual time] Não têm aquela espinha dorsal ainda. Quando eu cheguei, em 2004, tinha uma espinha dorsal. Qualquer menino que chegasse não iria se abalar tanto. Hoje não tem isso", completa.

Confira outros trechos da entrevista com Basílio:

Chegada ao Santos

"Depois da minha passagem pelo Palmeiras [em 2001], eu fui para o Ituano, onde abriu a minha porta ao conquistarmos o Paulista [de 2002] porque não tinha os grandes [clubes do Estado disputando o torneio]. [Depois] Tive passagem pela Ponte Preta, pelo Grêmio do Tite e Marília, quando fizemos uma campanha da Série B muito boa e foi quando o [o técnico Emerson] Leão me convidou para ir para o Santos. Sempre foi o meu desejo de jogar lá, fui torcedor do Santos, nunca neguei isso, nem quando eu fui para o Palmeiras. Honrei a camisa do Palmeiras. Contra o Santos, eu comemorava quando fazia gol. Fiz uns dois ou três gols contra o Santos e comemorei. Nossa, era para eu ter ido para o Santos umas cinco vezes, mas Deus quer as coisas no momento certo."

Desconfiança da torcida no começo

"Cheguei já com a idade avançada [tinha 31 anos]. É muito difícil hoje, principalmente para o jogador que está aqui no Brasil com uma certa idade, ir para o clube grande. Quando o jogador tem uma certa idade, mas vem de fora do país, tem mais facilidade porque estava na Europa. Eu estava no Brasil disputando uma Série B do Brasileiro."

Medo de ser dispensado novamente por Luxa

"Fui convidado para ir para o Santos pelo Leão. Mas o Leão saiu e chegou o Vanderlei [Luxemburgo]. Aí eu pensei, 'o Vanderlei agora me manda embora porque não quis ter ficado com ele no Palmeiras e pode ser que ele não queira ficar comigo aqui no Santos. Na primeira preleção, ele chegou no dia de um jogo e quem estava como técnico era o [Serginho] Chulapa. O Vanderlei chegou e falou assim para mim: 'você não quis jogar comigo no Palmeiras, agora vai ter que jogar aqui no Santos'. Eu falei: agora, nós vamos jogar professor, vou jogar contigo'. Ele deu risada, sentou lá e o Chulapa deu a palestra. O Luxemburgo só ficou no camarote."

Melhor fase da carreira no Santos

Diego e Robinho juntos no Santos, em 2004, na Vila Belmiro - Fernando Santos/Folhapress - Fernando Santos/Folhapress
Diego e Robinho juntos no Santos, em 2004, na Vila Belmiro
Imagem: Fernando Santos/Folhapress

"Foi, sem sombra de dúvida. O Palmeiras foi muito importante naquela questão de visão, das pessoas me conhecerem nacionalmente e até mesmo fora do país, porque a gente jogou Libertadores. Você acaba ficando conhecido. O Palmeiras foi muito importante, não fiz tantos gols como no Santos. Todos os atletas gostariam de jogar no clube que era torcedor quando criança. Conseguir jogar, conquistar a torcida, conquistar título, ser bem quisto pela diretoria, nunca tive problema com a imprensa. Foi a melhor fase porque a gente estava jogando com a equipe mesclada de jogadores novos e experientes. Jogadores despontando, como Robinho e Diego. Tinha o Ricardinho, que já vinha de uma história longa, Elano, Renato... Era um timaço.

Reserva de Robinho

"Quando eu cheguei no Santos, o Leão me levou para a salinha para conversar. O Leão falou que me trouxe para ser reserva do Robinho, e não para ser reserva do Robgol [ex-Paysandu]. Quando o Robinho foi para seleção brasileira, eu já tinha sete gols quando ele voltou. O Robinho entrou no time, é obvio. Eu saí, mas o Robgol não tinha feito nenhum gol ainda. Eu não entrava na vaga do Robgol, mas até que teve um tempo que não teve como segurar e eu tive que entrar (risos)."

Robinho foi o melhor atacante que viu jogar

"O Robinho é muito diferente. Ele não tem um lado, ele tem os dois. Ele tem frente, ele corta, ele abre espaço... Foi no Santos que eu fiz mais gols. No vestiário ele já falava para mim. 'Basa, quando vier dois [marcadores] nem venha para fazer tabela, deixa que eu vou levar os dois e aí tem o goleiro, tem você, tem o Deivid [atacante]... Eu assistia o Robinho jogando dentro de campo, era o torcedor mais próximo dele, sabia que ele iria arrastar dois, três. Fizemos uma tabela uma vez e falaram que era Pelé e Coutinho, ai não né! Pelé pode ser o Robinho, mas Coutinho eu não (risos)."

Santos dos 103 gols no Brasileirão

Santos campeão brasileiro em 2004 - Fernando Santos/Folha de S. Paulo - Fernando Santos/Folha de S. Paulo
Time do Santos campeão brasileiro em 2004
Imagem: Fernando Santos/Folha de S. Paulo

"O Santos tinha o melhor time, melhores peças [jogadores], desde o goleiro até o ataque, foram jogadores extraordinários. O Ricardinho falava que nós jogávamos por música, que tínhamos que ganhar de três gols para cima. Naquele ano de 2004 o Santos fez 103 gols no Campeonato Brasileiro, eram 24 equipes. Eu fiz 15 gols neste Brasileiro sendo reserva. O Deivid e o Robinho fizeram 21 gols cada, o Elano 16, Ricardinho 11. A gente dividiu bastante."

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