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Estádio que vai receber dois jogos do Brasil é o mais polêmico da Copa

Imagem do Estádio de Lusail em 28 de março de 2022. Será o palco dos jogos contra Sérvia e Camarões - Gabriel Bouys/AFP
Imagem do Estádio de Lusail em 28 de março de 2022. Será o palco dos jogos contra Sérvia e Camarões Imagem: Gabriel Bouys/AFP

Gabriel Carneiro

Enviado especial a Doha (Qatar)

02/04/2022 11h00

Classificação e Jogos

O sorteio da Copa do Mundo realizado ontem (1) no Qatar definiu Sérvia, Suíça e Camarões no caminho da seleção brasileira em busca do hexa. Também já são conhecidos os estádios que receberão Neymar, Vini Jr e companhia: dois jogos no Estádio de Lusail e outro no 974, ambos construídos para o torneio.

O 974 fica a 7 km de Doha, capital do Qatar. Foi inaugurado só em novembro do ano passado e tem esse nome por causa do código telefônico do Qatar e do número de contâiners usados na sua construção. Já o Estádio de Lusail está pronto, mas ainda não foi inaugurado. Ele é o palco da final da Copa, portanto o mais importante erguido no país. Além disso, está no centro das maiores polêmicas relativas ao torneio.

As denúncias sobre violação de direitos humanos e mortes dos trabalhadores migrantes das obras da Copa passam diretamente por Lusail. É que tanto o estádio, quanto a cidade onde ele fica, estão sendo construídos praticamente do zero para o torneio. É uma obra gigantesca e sem igual em área de 38 km².

Cafu - Matthew Ashton - AMA/Getty Images - Matthew Ashton - AMA/Getty Images
Cafu foi um dos ajudantes do sorteio dos grupos da Copa ontem (1), em Doha
Imagem: Matthew Ashton - AMA/Getty Images

A 20 km de Doha, Lusail foi durante décadas uma vila isolada no meio do deserto, que virou parte de um projeto ousado de modernização que passa pelo esporte. Segundo ouviu o UOL Esporte, é símbolo da ofensiva de relações públicas do que o governo do Qatar quer mostrar para o mundo ao sediar a Copa de 2022. Em meio à visão internacional de que faltam liberdades individuais, uma demonstração de bem-estar do povo que passará a viver lá. Para contrariar a teoria de que se trata de um país preso ao passado por causa de sua riqueza gerada pela exploração de petróleo, um futuro tecnológico e sustentável.

A questão das condições de trabalho dos mais de 40 mil operários envolvidos nas obras da cidade e do estádio é delicada. Em fevereiro de 2021, o jornal The Guardian publicou que cerca de 6.500 imigrantes de países como Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka que trabalhavam nas obras da Copa morreram desde dezembro de 2010, quando o país foi confirmado como sede. O Qatar nega, diz que foram três e que os dados estão fora de contexto.

Veja imagens internas do Lusail

É sabido que o maior contingente de trabalhadores diz respeito a Lusail, então existe uma sensação no local de tema proibido. Pessoas sem autorização de órgãos públicos não podem entrar nos canteiros de obras ou conversar com os trabalhadores, sempre de coletes fluorescentes amarelos e laranjas. Essa onda de restrições também conta com placas indicando a impossibilidade de tirar fotos ou gravar vídeos. Quem descumpre as ordens pode ter problemas.

Para os responsáveis pela organização do Mundial, a ideia é virar a página do tema. O que se diz é que a vitrine do evento chamou atenção para a situação logo no começo, o que fez com que as condições de trabalho melhorassem. As próprias autoridades públicas do Qatar reconhecem que era tempo para mudar, tanto que leis trabalhistas do país foram revistas em 2020.

"Nossas reformas foram descritas como históricas. Nossa legislação é um marco da região e a Anistia Internacional reconheceu o progresso dos nossos comprometimentos", disse durante o congresso da Fifa no país o secretário-geral do Comitê Supremo para Entrega e Legado [órgão que organiza a Copa do Mundo de 2022] Hassan Al Thawadi, em reação a uma dirigente europeia que questionou o que considera violação de direitos humanos no país.

Lusail - Gabriel Bouys/AFP - Gabriel Bouys/AFP
Enquanto não é inaugurado, estádio tem recebido cuidados intensivos no gramado
Imagem: Gabriel Bouys/AFP

O Estádio de Lusail será o maior da Copa, com capacidade para 80 mil pessoas. Depois do torneio ele será reduzido, mas ainda não está definido o quanto. Dos outros estádios da Copa, cinco terão a capacidade reduzida até pela metade depois do torneio (Al Bayt, Al Janoub, Al Thumama, Education City e Ahmed Bin Ali), um terá a capacidade mantida (Khalifa Internacional, o único que já existia no país) e o 974 será completamente desmontado, o que mostra a preocupação do país com o risco de erguer elefantes brancos.

A fachada externa de Lusail é inspirada nas tigelas arredondadas características do artesanato local e seria preservada, mas na parte de dentro iria mudar tudo, com as estruturas sendo adequadas para receber uma escola, um shopping, uma clínica de saúde e até moradias. Muitos qataris esperam que o estádio não tenha a engenharia repensada e que o governo reveja a decisão.

O Brasil vai enfrentar em Lusail a Sérvia, no dia 24 de novembro, e Camarões, em 2 de dezembro. Os dois jogos às 16h (de Brasília). Segundo apurou o UOL, é proposital que as seleções cabeças de chave atuem mais vezes nos maiores estádios, como é o da final. Também jogarão por lá Argentina (contra Arábia Saudita e México) e Portugal (contra o Uruguai).

O outro mega-estádio é o Al Bayt, para 60 mil pessoas, que vai receber o jogão Espanha x Alemanha, por exemplo.

Já o 974 sedia Brasil e Suíça no dia 28 de novembro, às 13h.

974 - Gabriel Carneiro/UOL - Gabriel Carneiro/UOL
Estádio 974, onde o Brasil vai jogar contra a Suíça, será desativado depois da Copa do Mundo
Imagem: Gabriel Carneiro/UOL