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Dirigente europeia questiona direitos humanos no Qatar, e Fifa vive climão

Congresso da Fifa para a Copa do Mundo de 2022 realizado em Doha, no Qatar, nesta quinta-feira (31) - Gabriel Carneiro/UOL
Congresso da Fifa para a Copa do Mundo de 2022 realizado em Doha, no Qatar, nesta quinta-feira (31) Imagem: Gabriel Carneiro/UOL

Gabriel Carneiro

Enviado especial a Doha (Qatar)

31/03/2022 08h18

Classificação e Jogos

O congresso da Fifa realizado hoje (31), no Qatar, teve um momento de tensão após forte discurso de uma dirigente europeia a respeito do que considera violação de direitos humanos no país que recebe a Copa do Mundo entre novembro e dezembro deste ano. A manifestação de Lise Klaveness, presidente da Associação de Futebol da Noruega, foi seguido por três respostas inflamadas - inclusive de Gianni Infantino, o presidente da Fifa.

Klaveness mencionou em seu discurso as mortes de trabalhadores migrantes nas obras da Copa do Mundo, a falta de acesso das mulheres à possibilidade de jogar futebol no país, a supressão de direitos da comunidade L.G.B.T.Q.I.A.+ e a "hesitação" da Fifa em relação à invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro. "Temo que nossos estádios fiquem vazios no futuro se ignorarmos a urgência do momento atual", afirmou a dirigente.

Logo após o discurso da norueguesa, três pessoas foram ao palco contra suas declarações: um representante da federação de futebol de Honduras, o secretário-geral do Comitê Supremo para Entrega e Legado [órgão que organiza a Copa do Mundo de 2022] Hassan Al Thawadi e o presidente da Fifa, Gianni Infantino.

"O tema de direitos humanos foi suscitado imediatamente após a concessão da Copa ao Qatar em 2010. Numa das minhas primeiras viagens quando vim a Doha depois de eleito presidente da Fifa foi para falar com primeiro-ministro, oficiais do governo, e abordar a temática dos direitos dos trabalhadores. Acredito a título pessoal que a única forma em que podemos alcançar mudanças duradouras é mediante diálogo e devemos dessa forma condenar a violência e buscar parcerias. É o que fizemos desde o princípio. Encontramos neles parceiros que estavam comprometidos a fazer o que era necessário para alcançar as mudanças. Existe mais trabalho a ser feito, mas muito foi alcançado e devemos reconhecer", disse Infantino, que ainda exibiu um vídeo sobre supostos avanços nos direitos de trabalhadores do Qatar nos últimos anos.

Uma reportagem do jornal The Guardian, de fevereiro de 2021, revelou que 6.500 imigrantes de países como Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka que trabalhavam nas obras da Copa do Mundo morreram desde dezembro de 2010, quando o país foi confirmado como sede do Mundial. O país nega e diz que foram apenas três.

Lise Klaveness mencionou a questão em seu discurso no congresso da Fifa. "Em 2010, a Copa do Mundo foi premiada [ao Qatar] pela Fifa de forma inaceitável com consequências inaceitáveis. Direitos humanos, igualdade, democracia, os principais interesses do futebol, só estavam no 11 inicial muitos anos depois (...) Os trabalhadores migrantes feridos ou as famílias daqueles que morreram na preparação para a Copa do Mundo devem ser atendidos. A Fifa e todos nós devemos agora tomar todas as medidas necessárias para realmente implementar a mudança", disse, antes de completar:

"Não há espaço para empregadores que não garantam a liberdade e a segurança dos trabalhadores da Copa do Mundo. Não há espaço para líderes que não podem sediar o jogo feminino. Não há espaço para anfitriões que não podem garantir legalmente a segurança e o respeito das pessoas LGBTQ+ que vêm a este teatro dos sonhos. Prometo que a Federação Norueguesa e eu apoiaremos pessoalmente todas as iniciativas que protejam o interesse central do futebol, os direitos humanos e promovam a diversidade e a antidiscriminação."