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Sorteio faz clima de Copa desembarcar no Qatar: dos protestos ao oba-oba

Bola da Copa do Mundo de 2022 numa paisagem do Qatar, com vista do bairro The Pearl - Mohamed Ali Abdelwahid/Fifa/AFP
Bola da Copa do Mundo de 2022 numa paisagem do Qatar, com vista do bairro The Pearl Imagem: Mohamed Ali Abdelwahid/Fifa/AFP

Gabriel Carneiro

Enviado especial a Doha (Qatar)

01/04/2022 04h00

Classificação e Jogos

As imagens do brasileiro Cafu e de outros sete ex-jogadores vão rodar o mundo hoje (1º), assim que eles sortearem as seleções dos oito grupos da Copa do Mundo do Qatar. O evento está marcado para começar às 13h (de Brasília) e já é certo que o Brasil será cabeça de chave.

O Mundial começa em 21 de novembro. Faltando pouco mais de sete meses, o país anfitrião parece que, enfim, começa a entrar no clima no torneio — para o bem e para o mal. Ao mesmo tempo em que a população local se anima com a Copa, enche as ruas e badala grandes jogadores, os protestos e movimentos contrários também passam a fazer parte da rotina.

Ontem (31) teve de tudo, com destaque para um discurso forte em pleno congresso da Fifa, o que causou polêmica no mundo do futebol. Lise Klaveness, presidente da Associação de Futebol da Noruega, falou diante de Gianni Infantino, presidente da Fifa, toda a cúpula da entidade e de várias autoridades públicas do Qatar, sobre controvérsias do país organizador da Copa do Mundo.

Lise - Reprodução/Fifa TV - Reprodução/Fifa TV
Lise Klaveness, presidente da Associação de Futebol da Noruega, durante discurso ontem (31)
Imagem: Reprodução/Fifa TV

Klaveness mencionou as mortes de trabalhadores migrantes nas obras da Copa, algo que o país nega, além de possíveis violações de direitos humanos, como a falta de acesso das mulheres à possibilidade de jogar futebol no país, a supressão de direitos da comunidade LGBTQIA+ e a "hesitação" da Fifa em relação à invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro.

"Temo que nossos estádios fiquem vazios no futuro se ignorarmos a urgência do momento atual", afirmou a dirigente.

Como um indicativo de que discursos contrários à Copa do Mundo podem ser dificultados no Qatar, três homens discursaram logo após Lise Klaveness no sentido de negar suas declarações. Entre eles o próprio Infantino, que pediu para exibir um vídeo que falava sobre conquistas dos trabalhadores qataris dos últimos anos, e um ríspido representante da Federação de Futebol de Honduras: "Este não é fórum e nem o momento para analisar estes temas."

Mas também tem festa

Apesar do clima tenso do congresso da Fifa, a quinta-feira também foi de alegria e expectativa sobre a Copa do Mundo. O evento aconteceu no Centro de Exibição e Convenção de Doha (DECC), localizado num bairro chamado West Bay. Os arredores do lugar ficaram tomados de curiosos e foi cena fácil de ver crianças jogando bola nas ruas e gritando o nome dos grandes astros, como Messi e Cristiano Ronaldo.

A Fifa ainda promoveu durante a tarde um campeonato de futebol que reuniu ex-jogadores famosos. Julio César, Kaká e Bebeto, de brasileiros, aparecem na academia Aspire. Isso além de astros internacionais, como Casillas, Pirlo, Materazzi, Del Piero, Mascherano, Drogba, Yaya Touré, Nery Pumpido, Van der Vaart, Michel Salgado, Seedorf, Zanetti, Diego Forlán, Njitap, Ayegbeni, Pascal e Antonio Valencia.

Lendas - UOL - UOL
Forlán, Bebeto, Zanetti e Pumpido formaram o time de lendas sul-americanas da Fifa
Imagem: UOL

As estrelas foram badaladas por convidados, patrocinadores, mídia internacional em peso e também pelos trabalhadores do lugar. Depois de cada um dos joguinhos de 12 minutos, eles faziam fila para tirar fotos com os ídolos. É um clima festivo que o país ainda não tinha vivenciado por causa da distância para o Mundial.

A grande quantidade de imprensa internacional em Doha para o sorteio da Copa do Mundo também faz o país tirar conclusões sobre seu transporte público, rede hoteleira e área de entretenimento — um exemplo: turistas só podem comprar bebida alcoólica em bares de hotéis internacionais no Qatar, e a semana do sorteio fez com que as reservas disparassem e em alguns lugares se esgotassem. Até novembro a expectativa é de que um grande fluxo de pessoas cause menos transtorno.

"Convidamos a vocês que venham ao nosso país, que é de porte pequeno, mas grandes ambições. Sediaremos o maior evento do futebol e representaremos não só nosso país, mas o mundo árabe. Poderão ver o espírito árabe na Copa do Mundo, que todos possam ver o potencial e a paixão que existem na nossa região. Queremos construir pontes entre nossa cultura e as outras, todos poderão viver o futebol", discursou Khalid Al Thani, primeiro-ministro do país.