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Show da torcida consolida redenção de Ceni e jogadores do São Paulo

Brunno Carvalho

Do UOL, em São Paulo

31/03/2022 04h00

Um desavisado que chegasse depois das 19h30 de ontem (30) na região do estádio do Morumbi ia ter que sentir o clima que contagiava quem vestia preto, vermelho e branco. As ruas interditadas para a chegada dos ônibus eram tomadas por torcedores que gastavam até o último ar do pulmão para empurrar o São Paulo em busca do bicampeonato paulista diante do Palmeiras. Circular por ali, apenas a pé. Os carros tentavam seguir em uma procissão que não saía do lugar.

A energia que tomou as ruas e explodiu com a chega do ônibus são-paulino invadiu o estádio. A organização do Paulistão decidiu fazer um show pirotécnico antes de a bola rolar. As luzes se apagaram e o Morumbi ficou iluminado pelas lanternas dos celulares e os sinalizadores que foram acesos em diversos setores das arquibancadas.

Era o início de uma noite diferente, a da consolidação de um São Paulo que começou 2022 pressionado, dos atletas ao treinador, e frequentando a zona de rebaixamento. No primeiro jogo da final, as duas maiores torcidas organizadas exibiram bandeirões em homenagem a Rogério Ceni. A rusga que havia com o treinador por palavras no passado ficou para trás.

O apoio durante os 90 minutos foi total. Não houve espaço para vaiar nenhum dos atletas, algo que atingiu Igor Gomes contra o São Bernardo e deixou Rogério Ceni e Jonathan Calleri incomodados. As únicas vezes que as arquibancadas se juntavam em raiva era quando uma decisão favorecia o Palmeiras ou um pênalti não era marcado para o São Paulo.

"Me deu saudade das noites de quarta-feira, seja de Brasileiro, Libertadores, Paulista, mas a atmosfera que cerca esse estádio é lindo demais. 60 mil pessoas no Morumbi, não tem preço. Falei para eles quando subissem a arquibancada que olhassem bem. Um cara que sobe com 60 mil pessoas aqui se torna um ser humano diferente, porque é curto, passa rápido", disse Ceni, em entrevista coletiva depois da partida.

O apoio não consolidou apenas a volta do amor com Rogério Ceni. Esse sentimento tem sido construído desde que o treinador colocou o dedo na ferida e apontou os problemas de estrutura do clube. Em campo, Éder também vivia um novo momento.

O experiente atacante terminou a temporada passada como carta fora do baralho. Ouviu da diretoria do São Paulo que não fazia mais parte dos planos e que não haveria empecilhos para uma saída. Bateu o pé e reafirmou o desejo de permanecer.

Mesmo no fim da fila, Éder seguiu como um dos líderes do elenco. Quando voltou a ter chance no time de titular de Rogério Ceni, na vitória sobre a Ponte Preta, recebeu do treinador a braçadeira de capitão. Dali em diante, foi ganhando cada vez mais espaço e começou a fazer dupla de ataque com Jonathan Calleri.

Um mês e meio depois da grande chance, o atacante recebeu das arquibancadas a confirmação de que o momento é outro. Aos 24 minutos da vitória por 3 a 1 sobre o Palmeiras, quando Marquinhos entrou em seu lugar, a torcida se uniu em um grito ensurdecedor: "Éder, Éder".

A partida de ontem marcou a despedida do São Paulo com a sua torcida. O duelo decisivo no Allianz Parque, no domingo (3), terá apenas palmeirenses nas arquibancadas. Caberá aos comandados de Rogério Ceni segurarem a vantagem de dois gols que construíram para levarem o bicampeonato paulista para o Morumbi, algo que não acontece há 30 anos.

"Fazia tempo que eu não via a torcida gritar 'time de guerreiro', que a gente saiba ser guerreiro para levar o título", completou Ceni.

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