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Paquetá reina no Lyon, mas falta de desafio é má notícia para a seleção

Lucas Paquetá desafia a marcação de Jose Fonte durante jogo do Lyon contra o Lille: derrota por 1 a 0 - Olivier Chassignole/AFP
Lucas Paquetá desafia a marcação de Jose Fonte durante jogo do Lyon contra o Lille: derrota por 1 a 0 Imagem: Olivier Chassignole/AFP

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

28/02/2022 04h00

O Lyon perdeu ontem (27) para o Lille em mais uma demonstração de que o meio da tabela de classificação é seu destino nesta edição do Campeonato Francês. Em décimo lugar, o time oscila na tentativa de se aproximar do topo e até o futuro do técnico Peter Bosz no clube está ameaçado. Tudo isso parece muito distante, mas tem relação direta com a realidade da seleção brasileira.

É que este time sem regularidade, com ambições modestas e futebol contestável é onde joga o meia Lucas Paquetá. Titular da seleção em todos os jogos em que esteve à disposição há quase um ano, em mais de uma posição, o jogador de 24 anos vive um contexto que não é favorável em termos de competitividade em ano de Copa do Mundo do Qatar.

O problema não é seu desempenho no Lyon, pelo contrário. No jogo deste domingo, ele foi mais uma vez a principal fonte de criatividade da equipe. Posicionado como meia num esquema tático 4-2-3-1, partindo do centro para o lado esquerdo do campo, Paquetá reinou absoluto nas chances de ataque do Lyon contra o Lille.

O adversário abriu o placar aos 35 minutos do primeiro tempo num lance de desatenção da defesa do Lyon, que partiu em reação. Foram duas chances importantes de gol num intervalo de apenas dois minutos em que Paquetá mostrou seu melhor, com passes para Ekambi e Faivre perderam gols.

Paquetá - Divulgação - Divulgação
Paquetá tem contrato até 2025 com o Lyon
Imagem: Divulgação

O primeiro lance foi uma arrancada com a bola dominada. O segundo é mais emblemático, porque Paquetá recebeu a bola de costas para o gol do Lille e conseguiu dar uma meia-volta muito rápida e com drible que já cortou dois marcadores. O brasileiro quebrou a linha de marcação do adversário com um simples movimento de corpo e deixou Faivre livre. Com força física, drible e qualidade de passe, foi o homem do Lyon. Talvez mais do que o recomendável, aliás.

A impressão de que tudo de bom do Lyon passa pelos pés de Paquetá foi confirmada no segundo tempo. O goleiro Léo Jardim tentou sair jogando com a bola dominada, não conseguiu e foi interceptado pelo camisa 10, que fez o gol de empate. O problema é que a arbitragem consultou o VAR depois de validar o gol e cancelou a marcação por falta no momento do desarme. Até o gol anulado do Lyon foi pelos pés do brasileiro.

Lucas Paquetá encerrou o jogo de ontem com índice de acertos de passe de 91%, com três oportunidades de gol criadas, três dribles e sete vitórias em 13 duelos pessoais com seus marcadores. O dono do time.

Paquetá - Olivier Chassignole/AFP - Olivier Chassignole/AFP
Lucas Paquetá, sozinho, desafia marcação de quatro em Lyon x Lille pelo Campeonato Francês
Imagem: Olivier Chassignole/AFP

Quando o foco passa ser a Amarelinha e não o time, a coisa muda de figura e pode ser motivo de preocupação para o meio-campista. É que a seleção é uma equipe menos dependente de individualidades e que tem jogadores que atuam em níveis de competitividade mais elevados, com companheiros de mais qualidade que potencializam o desempenho do outro.

A subida de nível de Matheus Cunha quando trocou o Hertha Berlim pelo Atlético de Madri é um exemplo recente. O próprio Lyon viu há pouco o volante Bruno Guimarães decidir trocá-lo pelo Newcastle. O clube está nas últimas posições do Campeonato Inglês, mas o nível da disputa e a qualidade dos enfrentamentos que o jovem jogador vai ter com a mudança de liga já começam a ser observados. Ele foi elogiado na vitória por 2 a 0 de sábado sobre o Brentford.

Já com Lucas Paquetá, uma das poucas chances de competir em alto nível é a Liga Europa. Na quarta-feira da semana que vem, dia 9, o Lyon visita o Porto pela ida das oitavas de final. O time planeja a troca de técnico inclusive para ter alguma chance de classificação, já que o time português hoje está num patamar superior.

Paquetá - Ettore Chiereguini/AGIF - Ettore Chiereguini/AGIF
Lucas Paquetá comemora gol do Brasil contra Colômbia nas Eliminatórias, em novembro de 2021
Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

Se o Lyon for eliminado e se mantiver nesse limbo de meio de tabela do Campeonato Francês, a temporada 2022/2023 que precede a Copa do Mundo do Qatar será sem torneios internacionais no caminho. Enquanto os concorrentes de seleção se estabelecem nas grandes ligas enfrentando os melhores jogadores do mundo, Paquetá corre um risco ao permanecer no Lyon.

A próxima convocação de Tite será no dia 11 de março para partidas contra Chile e Bolívia pelas rodadas finais das Eliminatórias da Copa do Mundo. Frequentemente titular da seleção como meia centralizado ou aberto pela esquerda, Lucas Paquetá foi volante no último jogo, uma goleada por 4 a 0 sobre o Paraguai no Mineirão.

Ele é nome praticamente certo no Qatar. Tem 36 convocações, 28 jogos e seis gols marcados até o momento pela seleção.