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Qual ligação do dono do Chelsea com Putin e como guerra afeta o clube?

Roman Abramovich foi beneficiado pelo governo russo após o fim da União Soviética - Gennadi Avramenko/Epsilon/Getty Images
Roman Abramovich foi beneficiado pelo governo russo após o fim da União Soviética Imagem: Gennadi Avramenko/Epsilon/Getty Images

Do UOL, em São Paulo

25/02/2022 04h00

Em meio à guerra envolvendo Rússia e Ucrânia, o Parlamento britânico proibiu, nesta quinta-feira (24), que oligarcas russos morem no Reino Unido, entre eles Roman Abramovich, dono do Chelsea. A decisão é parte das sanções à Rússia como resposta ao ataque à Ucrânia. A alegação é que Abramovich e outros 34 oligarcas têm ligação com a administração de Vladimir Putin. Mas qual a relação do dono do Chelsea com o atual presidente russo?

Dono de um patrimônio de US$ 14,5 bilhões (R$ 74,29 bilhões), o empresário ocupa a posição 142 no ranking das pessoas mais ricas do mundo da revista Forbes. A forma como Abramovich, atualmente com 55 anos, construiu seu império, a partir da queda da URSS, em 1991, é cercada de mistérios.

Após o fim do regime soviético, Abramovich, que era um comerciante, foi apresentado a Boris Yeltsin, o primeiro presidente da Rússia após o colapso da URSS, por Boris Berezovsky — o empresário, que morreu em 2013, ficou conhecido no Brasil por seu envolvimento com o escândalo Corinthians-MSI.

Abramovich, Berezovsky e outros empresários foram beneficiados pela decisão do governo russo de privatizar estatais em favor de alguns homens de negócio, que a partir daí tornaram-se magnatas.

Desde então, Abramovich foi responsável pela criação e venda de cerca de 20 empresas das mais diversas áreas de atuação. Em 1995, ele e Berezovsky compraram o controle acionário da companhia de petróleo Sibneft, em um programa estatal que ficou conhecido como "empréstimos de ações". Abramovich chegou a ter 80% das ações da quinta maior companhia petrolífera do país. A Sibneft foi vendida à estatal Gazprom em 2005.

Presidente da Rússia, Vladimir Putin, em Moscou - Thibault Camus/Pool via Reuters - Thibault Camus/Pool via Reuters
Abramovich teria influenciado Boris Ieltsin a fazer de Vladmir Putin seu sucessor
Imagem: Thibault Camus/Pool via Reuters

Influente figura dos mais altos círculos de poder do governo russo, Abramovich teria convencido Yeltsin a fazer de Vladimir Putin seu sucessor em 1999.

As vidas de Berezovsky e Abramovich, antes sócios e amigos, no entanto, tomaram rumos diferentes com ascensão de Putin. Enquanto, o primeiro bateu de frente publicamente com presidente, o segundo fez vista grossa para seus métodos pouco democráticos. Putin e Berezovsky trocaram farpas públicas, e o empresário alegou ter sido alvo de pelo menos duas tentativas de assassinato. Ele foi encontrado morto em 2013 em sua casa em Londres, e as investigações apontaram suicídio.

Segundo livro escrito por Berezovsky — e contestado pelo dono do Chelsea —, a proximidade entre Abramovich e Putin é tanta, que ele chegou a dar um iate de presente de aniversário para o presidente russo. Apaixonado por esse tipo de embarcação, Abramovich é dono da maior do mundo, o Eclipse, comprada em 2010 por US$ 400 milhões (cerca de R$ 2 bilhões, na cotação atual).

O dono do Chelsea também possui participações nas gigantes Evraz, produtora de aço, e na Norilsk Nickel, empresa russa de níquel e mineração. Abramovich ainda investe em startups, como a israelense SS, que desenvolve carregadores para celulares, e a norte-americana Via, concorrente do Uber nos Estados Unidos.

Compra do Chelsea

Roman Abramovich (alto) é o dono do Chelsea desde 2003 - Clive Rose/Getty Images - Clive Rose/Getty Images
Roman Abramovich (alto) é o dono do Chelsea desde 2003
Imagem: Clive Rose/Getty Images

Em 2003, Abramovich era governador da província russa de Chukotka, nomeado pelo próprio Putin, quando anunciou a compra do Chelsea. Com investimento de 100 milhões de libras (o equivalente a R$ 685,4 milhões, na cotação atual), o oligarca transformou o clube inglês.

Neste período, investiu mais de 2 bilhões de libras (R$ 13,7 bilhões), fazendo o clube de Stamford Brigde se transformar em uma potência.

Com investimentos massivos em grandes nomes, como Hernán Crespo, Juan Verón, Joe Cole, Didier Drogba, Tiago Mendes, Alex e o técnico José Mourinho, o Chelsea voltou a conquistar títulos importantes. O período entre 2005 e 2012 foi o mais vencedor, com a conquista dos Campeonatos Ingleses de 2006 e 2010, das Copas da Inglaterra em 2007, 2009 e 2010 e da Copa da Liga em 2007. O clube também faturou a Champions League em 2011/12 e na última temporada europeia, credenciando-se a disputar — e vencer — o Mundial de Clubes, em cima do Palmeiras.

Perda de visto

Não é a primeira vez que a relação de Abramovich com Putin influencia a permanência do oligarca na Inglaterra. Em 2018, quando o ex-agente russo Sergei Skripal e sua filha Yulia foram envenenados em solo britânico, o governo dificultou a renovação de visto de investidor. No mesmo ano, ele desistiu do pedido e adquiriu cidadania israelense, que lhe permite visitar a Grã-Bretanha por apenas seis meses.

Na época, durante um programa de TV comandado por Putin, o presidente russo revelou que fez um alerta a Abramovich. "Eu avisei ele sobre isso e recomendei que nossos negócios mantivessem o capital na Rússia."

Embora seja dono de uma mansão avaliada em 152 milhões de libras (o equivalente a R$ 1 bilhão) em Londres, Abramovich passou a viver em Tel-Aviv e apenas visitar o Reino Unido, onde tem negócios e empresas listadas em bolsa, entre elas a multinacional Evraz. Nesta semana, os papeis da mineradora tiveram uma queda brusca na bolsa de Londres, em meio às crescentes tensões por causa da iminente guerra, e Abramovich perdeu 776 milhões de euros (cerca de R$ 4,5 bilhões).

E a situação ainda pode piorar. Nesta quinta-feira, o deputado Chris Bryant, do Partido Trabalhista do Reino Unido, revelou documentos de 2019 que ligam o oligarca ao governo de Putin, e pediu na Câmara dos Comuns que os bens de Abramovich em solo britânico sejam confiscados e que ele seja removido do Chelsea.

O parlamentar britânico alegou que o bilionário já admitiu em processos judiciais que pagou por influência política, e que teria vínculos com o Estado russo e associação com atividades e práticas corruptas.

"Certamente deveríamos tentar confiscar alguns de seus ativos, incluindo sua casa de 152 milhões de libras. E garantir que outras pessoas que tiveram vistos de nível um como esse não estejam envolvidas em atividades malignas no Reino Unido", declarou Chris Bryant, que questionou a falta de mais investigações sobre o dono do Chelsea.