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Homenagem a Felipão e amor pela dança: conheça Rwan Seco, aposta do Santos

Rwan, atacante do Santos - Pedro Azevedo/Santos FC
Rwan, atacante do Santos Imagem: Pedro Azevedo/Santos FC

Lucas Musetti Perazolli

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

05/02/2022 09h57

No dia 6 de dezembro de 2021, o Santos venceu o Flamengo por 1 a 0 no Maracanã pela 37ª rodada do Campeonato Brasileiro, mas perdeu Marcos Leonardo e Raniel por suspensão. Na entrevista coletiva, o técnico Fabio Carille foi perguntado sobre a possibilidade de dar a primeira chance ao atacante Rwan, destaque do sub-20, contra o Cuiabá. E a resposta foi negativa: "Não sei quem é, não pude ver muito a base".

Mas Carille conhecia Rwan. O problema é que, para ele, só existia o "Seco", apelido do centroavante por medir 1,87 m e pesar 73 kg. O treinador não apenas sabia do talento do jogador de 20 anos, como já projetava a promoção dele ao elenco profissional após a Copinha deste ano. E foi justamente o que aconteceu nesta semana.

O nome difícil fez Fabio Carille se confundir. E a origem é bem curiosa. A família queria homenagear o técnico Luiz Felipe Scolari, o Felipão. Mas Luiz Felipe seria comum. Pintou a ideia de Juan, por causa do ex-zagueiro da seleção brasileira. E aí pintou Rwan Philipe...

"A avó dele queria que fosse Luiz Felipe, pelo técnico Felipão. Mas já tinham muitos e queríamos que fosse algo mais especial, então o pai dele sugeriu que mudássemos para algo com a sonoridade parecida com Juan, por conta do Juan zagueiro da seleção brasileira. Achamos bonito e adotamos, mas eu modifiquei para 'Rwan Philipe' para ele ser diferenciado. É difícil, mas sempre escrevi certinho (risos)", contou Kédma Rodrigues, mãe de Rwan, ao UOL Esporte.

A trajetória de Rwan Philipe foi ainda mais difícil que acertar seu nome. Criado no Cajueiro Seco, um pequeno bairro na zona sul de Recife, o jogador começou em uma escolinha de futebol aos 7 anos. Talentoso, foi chamado para a base do Náutico, mas o local de treinamento era distante e faltava dinheiro para a condução. Foi quando apareceu o Sport, mais próximo e com auxílio para transporte.

Rwan ficou três anos no Sport antes de chegar no Figueirense, onde teve problema de inscrição diante de mudança de diretoria e precisou sair após nove meses. A alternativa foi o Flamengo-SP, em Guarulhos. Com o início da pandemia pela covid-19, em 2020, o futebol parou, ele voltou para o Recife e trabalhou com o pai como ajudante de pedreiro.

Quando pensava em desistir da carreira, veio o convite para teste no Santos. Jorge Andrade, ex-gerente de futebol do Peixe e atualmente no Sport, trabalhou no Figueirense e conhecia o atleta. Ele foi aprovado nas avaliações para o sub-20 e também sub-23 e chegou por empréstimo. Como o Alvinegro estava proibido pela Fifa de registrar atletas, treinou meses sem contrato no CT Rei Pelé.

Em 2021, com a situação resolvida, foi artilheiro do sub-20 e sub-23 e acabou comprado por R$ 700 mil junto ao Flamengo de Guarulhos por 70% dos direitos econômicos. Nesta temporada, brilhou no vice-campeonato da Copinha e foi promovido pelo técnico Fabio Carille ao elenco profissional.

"Eu passei por muita coisa para estar aqui, foi muita dificuldade. Sempre sonhei com esse momento. Tenho que valorizar onde estou. Só de estar aqui já é um sonho realizado. Posso ajudar mais a minha família agora e isso é muito importante para mim", diz Rwan.

Rwan na adolescência - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Rwan, do Santos, e seu primo João (à esq.) e seu irmão Ray Rickelme (à dir.)
Imagem: Arquivo Pessoal

Artilheiro e dançarino

Rwan comemorou os seis gols na Copinha com dança. A música o acompanha desde a infância em Recife. O atacante, inclusive, pensou em ser cantor e chegou a ensaiar alguns shows caseiros.

"Sempre gostei de música e de dançar, sempre ouvi em tudo que eu faço. E agora posso comemorar meus gols assim. Quando eu era menor, um parceiro tinha computador, microfone e som em casa. A gente até gravou uma música, mas não consegui achar para recuperar. Eu cantava, me sentia um MC. Curto muito funk e pagode. Eu sempre gostei de dançar", comenta Rwan.

Para a mãe, a dança é um sinônimo de felicidade para Rwan depois dos altos e baixos na carreira.

"O Rwan sempre gostou de dançar. E, por sinal, meu neném dança muito bem (risos). Quando está dançando, é porque está feliz. Seja por comemorar um gol dele ou um gol dos companheiros. Ele sempre soube que existe um bem maior que é o time", orgulha-se Kédma.

Inspiração dentro e fora de campo

Rwan namora Thaís Regina, zagueira do São Paulo e da seleção brasileira. A atleta ajuda o atacante a se posicionar dentro de campo contra as defesas adversárias e incentiva o lado dançarino do santista.

"Eu gosto, mas tinha vergonha para as redes sociais. A Thaís me influenciou nisso. Perdi a vergonha na frente das câmeras", comemora Rwan.

O casal faz sucesso. No TikTok, Rwan tem mais de 50 mil seguidores e Thaís ultrapassou 216 mil. Eles têm vídeos juntos com mais de 400 mil visualizações.

"Ele é desenrolado demais, ensaia no quarto depois de olhar o aplicativo. Ele é pernambucano, tem molejo. Dou nota 10 para ele (risos)", brinca Thaís.

O casal evita falar de futebol o tempo todo, mas troca experiências sobre o esporte. O atacante Rwan ouve a zagueira Thaís principalmente para evoluir contra a marcação. E incentiva a namorada a consumir vídeos de suas referências.

"Ele sempre conversa comigo sobre posicionamento, sair do zagueiro e presença na área. E eu falo para ele que a marcação começa na frente para o pepino não estourar atrás. O Rwan é fascinado, sério. Vê jogos dele quando acaba, vídeo de Cristiano Ronaldo e Messi o tempo todo. Eu até comecei a fazer isso depois que comecei a namorar com ele", relata Thaís.

"É muito bom namorar uma atleta. A gente se dá muito bem. Quando estamos bravos nas derrotas, evitamos o futebol. Mas quando estamos felizes, conversamos muito. A gente se entende e se ajuda", conclui Rwan.

No ritmo das dancinhas, Rwan espera ansioso pela estreia no Santos. O atacante enfrenta a concorrência de Marcos Leonardo e Léo Baptistão e tenta convencer o técnico Fabio Carille nos treinamentos para poder repetir a artilharia na base agora com os mais velhos.