Topo

Corinthians: machismo e voto ao Fiel Torcedor são pauta para novo estatuto

Thiago Braga

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/01/2022 04h00

O novo estatuto do Corinthians, que ainda está na fase de elaboração, deverá ter um dispositivo que preveja punição para casos de ofensas ocorridas em ambientes virtuais.

"O caso da Analu servirá para que o estatuto abranja situações como a dela. Qualquer agressão de conselheiro, mesmo que em grupos de WhatsApp, ou em redes sociais, poderá ser enviado ao Conselho de Ética do Corinthians", afirma o advogado Domingos Zainaghi, relator da reforma estatutária, ao UOL Esporte.

No ano passado, a conselheira do Corinthians Analu Tomé protocolou uma representação ao Conselho de Ética do clube em que acusava o conselheiro vitalício Manoel Ramos Evangelista, conhecido como Mané da Carne, de machismo.

Apesar de apresentar prints de diálogos pelo WhatsApp em que Mané da Carne pede que Analu "arrume um tanque de roupa para se divertir", e diz que as sugestões propostas pela conselheira não passam de "bobagens", o Conselho de Ética do Corinthians decidiu pelo arquivamento da denúncia.

"O conselheiro errou, foi uma grosseria pesada. Mas juridicamente a decisão está correta", argumenta Zainaghi.

O Conselho de Ética do Corinthians é presidido por André de Oliveira, mais conhecido como André Negão - aliado político de longa data de Mané da Carne. Para os integrantes do órgão, a denúncia de Analu não prosperou porque não aconteceu dentro do clube.

Além de tentar dar uma nova diretriz aos comportamentos de seus associados, o Corinthians estuda aumentar sua democracia e ampliar seu colégio eleitoral.

"Nós vamos estudar a proposta para que o Fiel-Torcedor possa votar. É complicado do ponto de vista jurídico, já que teríamos de incluir no processo de votação pessoas que não são sócias do clube. Estamos fazendo um estudo minucioso e vamos começar buscando informações com o Internacional", revelou Zainaghi.

Outro ponto controverso e que deve fazer a temperatura do debate esquentar é a composição da diretoria por quem ganha as eleições. Desde 2018, os sócios do Corinthians elegem o presidente, dois vices e oito pequenas chapas com 25 representantes cada para o Conselho Deliberativo, para um mandato de três anos.

O sistema foi criado em oposição ao antigo "chapão", quando o grupo político vencedor nas urnas levava todas as cadeiras do Conselho. Além disso, alguns conselheiros defendem a volta da reeleição, extinta do clube desde o início da década passada.

"O Corinthians é muito plural e sei que vou tomar porrada. Tenho uma história democrática. Por isso, sou contra a volta do 'chapão'. E é muito difícil a volta da reeleição. Não há uma corrente no clube que tenha força política para defender. Não é impossível. Mas é antidemocrático. Prefiro aumentar o mandato para quatro anos, mas nunca tratei disso com o Duílio [Monteiro Alves, presidente]. Dois anos para arrumar a casa e dois para planejar", finalizou Zainaghi.

A comissão para a reforma estatutária do Corinthians foi criada em junho do ano passado. De acordo com o relator, a previsão é de que o texto final fique pronto em dois meses. A partir daí, os 19 membros da comissão votarão as propostas. Aprovado o relatório, ele será encaminhado à votação dos 319 conselheiros do Corinthians. Não há prazo para isso acontecer.