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Em 87, Globo flagrou líder da Mancha Verde apanhando da PM no Maracanã

Adriano Wilkson e Daniel Lisboa

Do UOL, em São Paulo

10/01/2022 04h00

Em novembro 1987, o Flamengo venceu o Palmeiras no Maracanã pela Copa União, o Campeonato Brasileiro daquele ano, mas quem foi ao estádio teve a atenção atraída para a disputa que acontecia nas arquibancadas. As torcidas dos dois times receberam o apoio de corintianos e vascaínos e promoveram uma pancadaria entre si e com a polícia, em um dos episódios mais marcantes da crescente onda de violência daqueles anos.

A câmera da TV Globo captou uma cena marcante. Cleo Sóstenes, principal líder da Mancha, acabou cercado por quatro policiais militares e foi espancado com cassetetes enquanto rolava as arquibancadas do Maracanã.

O assassinato de Cleo, que aconteceria um ano depois em São Paulo, é o tema de "Sobre meninos e porcos", a terceira temporada do podcast "UOL Esporte Histórias", cujo episódio final pode ser ouvido no player acima e nos principais agregadores de podcasts.

O historiador Bernardo Buarque de Hollanda tinha 13 anos em 87 e estava no Maracanã no dia em que as torcidas do Rio e de São Paulo de enfrentaram. Hoje uma das principais referências acadêmicas no tema das torcidas, o pesquisador diz ter ficado impressionado com a dinâmica do confronto naquele sábado: "Faz algumas décadas e minhas lembranças podem não ser tão precisas, mas lembro de ter a atenção deslocada, já no primeiro tempo, do campo para a briga na arquibancada."

O confronto expôs a complexa rede de alianças que começava a se formar entre as organizadas do Rio e de São Paulo. As amizades e rivalidades entre as organizadas são o pano de fundo dos confrontos entre torcedores em caravanas e viagens interestaduais. No dia seguinte, o Vasco receberia o Corinthians em São Januário, o que levou milhares de corintianos ao Rio naquele fim de semana. As torcidas do Corinthians eram aliadas das do Flamengo, ao passo que palmeirenses tinham amizade com os vascaínos.

"Lembro claramente de ver bandeiras e camisas da Gaviões da Fiel entre a torcida do Flamengo", afirma Bernardo Buarque, que hoje é professor da da FGV/CPDOC (Fundação Getúlio Vargas) e desenvolve estudos sobre o assunto. O livro "Territórios do torcer" (Educ), escrito por Bernardo em parceria com o pesquisador José Paulo Florenzano, fez parte da pesquisa que deu origem ao podcast "Sobre meninos e porcos".

De acordo com uma reportagem da revista "Placar" sobre aquele Flamengo 2 x 0 Palmeiras, "dez torcedores foram atendidos com rostos e cabeças cortados pelas pedras que voaram por todo lado. Até um grampeador voou da geral para a arquibancada". A revista também entrevistou a médica Leonor Pinto, que dava plantão no Maracanã naquele dia. "Foi a briga mais séria que vi em seis anos de trabalho no Maracanã."

Dentro de campo, o clima foi diferente. Com o retorno de Zico após um longo período contundido, o Flamengo venceu com gols de Renato e Ailton. A vitória rendeu ao atacante flamenguista um mimo inusitado. De acordo com a "Placar", Renato (que mais tarde seria chamado de Renato Gaúcho) recebeu como prêmio pela boa atuação o direito de passar uma noite no Motel Champion, com direito a uma garrafa de champanhe. "Vai ser ótimo pra eu manter a forma", brincou ele.

Sobre meninos e porcos

"Sobre meninos e porcos" é a terceira temporada do premiado podcast "UOL Esporte Histórias", que conta a história de como as torcidas organizadas saíram da festa e chegaram à violência. O relato é centrado no assassinato de Cleo Sóstenes Dantas nos anos 1980, considerado o marco da chegada das armas de fogo às brigas de torcida. Você pode conhecer essa história, que os repórteres Adriano Wilkson e Daniel Lisboa investigam há um ano, em um podcast de seis episódios.

1: Respeito é pra quem tem

2: E ninguém vai me segurar

3: Sangue derramado

4. Calibre 38

5. Chumbo de caça

6. Se eu morrer, não chorem por mim (disponível no player acima).

Os podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts e em todas as plataformas de distribuição. Você pode ouvir "UOL Esporte Histórias", por exemplo, no Spotify, na Apple Podcasts e no Youtube.