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Cruzeiro quer virar empresa após Série B e acertar dívidas em até 60 dias

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Thiago Braga

Colaboração para o UOL, em São Paulo

07/11/2021 04h00

Único time a furar o eixo Rio-São Paulo e conquistar o título do Campeonato Brasileiro na última década — feito alcançado em 2013 e 2014 —, o Cruzeiro sucumbiu esportivamente em meio ao caos administrativo e financeiro que tomou conta do clube em gestões passadas, mas recentes.

A queda para a Série B estava com o roteiro pronto, mas nem mesmo o mais pessimista torcedor imaginaria que o clube completaria três anos seguidos na Segundona. Com a permanência prolongada num nível abaixo da elite, o clube perde mais uma oportunidade para fazer suas receitas crescerem. Para alavancar os ganhos financeiros, e assim voltar a ter ganho esportivo, o Cruzeiro aposta na transformação para o modelo do clube-empresa.

"Assim que terminar as competições que estamos disputando, vamos transferir os ativos do futebol para a SAF [Sociedade Anônima do Futebol], e aí esperamos fechar com um parceiro. O modelo associativo não é capaz de gerir os recursos, gera descontinuidade nos projetos. A mistura de gestão profissional com amadora não resulta eficiente. Vemos o modelo empresarial como um caminho para equacionar os problemas do Cruzeiro", afirmou ao UOL Esporte Paulo Assis, CEO do Cruzeiro.

Assis é um dos responsáveis por tocar a reestruturação do clube mineiro, que busca recursos com a consultoria Alvarez & Marsal e da XP Investimentos. A transição para a Sociedade Anônima de Futebol —um modelo de gestão sancionado em lei em agosto— deverá ocorrer até o final do ano. Os ativos do clube serão transferidos para a empresa e, por 49% da nova empresa, o clube espera arrecadar R$ 300 milhões.

"Nosso plano de negócios já está sendo enviado para interessados, mas não há propostas ainda, estamos na fase do 'flerte', apresentando nossa estratégia de reestruturação, pensando no potencial do Cruzeiro de gerar receitas, venda de transmissão, publicidade, venda de jogadores, previsão de avanço em competições, mas também pagamento aos credores", explicou o CEO da Raposa.

A dívida, que era de R$ 897 milhões em 2020, disparou e subiu para R$ 962,5 milhões. Hoje, a previsão de receitas não ultrapassa R$ 150 milhões. Recentemente, funcionários do clube entraram em greve por conta dos salários atrasados. O clube teve de recorrer ao auxílio do empresário Pedro Lourenço, dono dos Supermercados BH, que alugou o prédio onde funcionava a antiga sede administrativa do Cruzeiro, no bairro do Barro Preto. O valor da negociação ajudou a estancar a crise financeira que ameaçava paralisar o clube e o time profissional do Cruzeiro.

"A SAF nasce limpa, mas o passivo tem de ser resolvido. Nada impede que um investidor queira pagar o passivo de uma vez, mas isso é improvável. Para resolver isso, temos três caminhos, que são a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e
centralização das execuções trabalhistas e cíveis. Esperamos apresentar um plano de pagamento aos nossos credores em 60 dias, com base nas próximas receitas nos próximos anos", disse Paulo Assis.

Segundo apurou a reportagem, o Cruzeiro tem buscado atrair investidores estrangeiros para encarar o projeto para reerguer o clube. No primeiro momento, busca fundos de investimentos ou pessoas físicas que já tenham experiência em investir no futebol.

"É importante o torcedor saber que trabalhamos nesta estrutura há muito tempo, temos uma estrutura especializada para fazer essa transição, empresas competentes nos auxiliando. Mas a situação é difícil e não tem solução mágica", finalizou o CEO do Cruzeiro, Paulo Assis, escancarando a realidade vivida e o árduo trajeto que o clube terá de fazer para voltar a disputar com os melhores do país quem será campeão.