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Anvisa é contra brasileiros vindos da Inglaterra para defender a seleção

Do UOL, em São Paulo

16/09/2021 16h31

Depois da ação da Anvisa que levou ao abandono da seleção argentina de campo no início do jogo com a seleção brasileira, que chamou a atenção para a restrição de pessoas com passagem pelo Reino Unido 14 dias antes da chegada no Brasil, o problema pode vir à tona com o próprio time de Tite, caso a CBF consiga a liberação dos clubes ingleses da convocação dos atletas que atuam na Premier League e a posição inicial do órgão fiscalizador é de não liberar.

Em entrevista a Mauro Cezar Pereira no programa Dividida, do Canal UOL, Alex Campos, diretor da Anvisa, afirma que a posição da agência em termos de excepcionalidade é conservadora e que, como cidadãos brasileiros, os jogadores precisariam passar 14 dias em quarentena na chegada ao país, fator que impediu, por exemplo, que Willian atuasse no último fim de semana pelo Corinthians. Por outro lado, ele admite que a exceção poderia ser concedida, já que ela depende da aprovação prévia de um grupo ministros, da mesma forma como ocorreu para a realização da Copa América no país, em julho.

"Alguém que tenha histórico de passagem por esses 14 países que seja estrangeiro, não pode entrar no Brasil, eles têm que fazer uma quarentena fora do Brasil. Então, se tiver histórico de passagem nos últimos 14 dias pelo Reino Unido, Índia e África do Sul, eles não podem entrar no Brasil se tiverem passagem nos últimos 14 dias por esses países. O brasileiro é exceção à regra, ele pode entrar no Brasil, mas tem que cumprir quarentena. Você vai me perguntar 'Alex, como aconteceu na Copa América?'. Ah sim, foi estabelecido um protocolo especial para esses jogadores e aí vem naquilo que a gente chama de um protocolo bolha, ele entra por um aeroporto, ele é monitorado pelas autoridades locais", explica o diretor da Anvisa.

"Os pedidos de excepcionalidade são submetidos a esse grupo de ministros que emitem a portaria. A Anvisa neste momento é consultada, assim como são consultados outros ministérios também. Então, o pedido de excepcionalidade é endereçado a esse grupo de ministros e é esse grupo de ministros que estabelece se vai acatar ou não a excepcionalidade. A Anvisa é firme no protocolo original, a Anvisa defende o protocolo original e o protocolo original é o RT/PCR negativo, 72 horas de voo e o protocolo que está na portaria, é essa a posição da Anvisa. Agora, a Anvisa não decide sobre a excepcionalidade", completa.

A questão sobre a excepcionalidade no caso dos jogos de outubro serviria não apenas para os jogadores da seleção brasileira, que precisariam passar por quarentena no caso de negada a exceção, mas também para os atletas de outras seleções, já que o Brasil enfrenta o Uruguai e, se não houver a excepcionalidade também para os atletas de seleções estrangeiras, Edinson Cavani, do Manchester United, não pode sequer pisar em solo brasileiro caso chegue com menos de 14 dias de sua saída do Reino Unido.

Alex Campos explica que o posicionamento da Anvisa é sempre conservador, mas que no caso de uma decisão de excepcionalidade por parte do grupo de ministros, o que a agência brasileira procura é reduzir os riscos.

"Obviamente que quando a decisão está tomada, a Anvisa se preocupa em minimizar os efeitos dessa exceção que é criada, obviamente que se faz uma opção de risco sanitário dentro de um grupo, digamos, restrito, ou seja, aqueles jogadores que podem. Porque é assim, eles já vêm, vou dar um exemplo, eles já vêm com RT/PCR negativo, chegam no país, fazem um teste de RT/PCR com dois dias, a gente realmente estabelece um protocolo para tentar minimizar. Se alguém é identificado, deve ser retirado desse grupo, então tem uma trajetória, tem uma lógica", explica o diretor.

"Mas se você pergunta qual é a posição da Anvisa, qual é a decisão da Anvisa, a decisão da Anvisa é sempre conservadora neste momento ainda de muita incerteza, onde as evidências científicas nos convocam e nos convidam a uma posição de muita cautela, por disseminação de variantes, mutações, em que o protocolo do país é um protocolo que cumpre uma lógica internacional, de maneira que eu acho que a gente deveria se restringir a cumprir esse que já existe, que já é difícil de ser cumprido, não é uma coisa simples, é preciso que as pessoas colaborem, então, a verdade é que o futebol brasileiro mobiliza os setores sociais, econômicos, institucionais do país, então esse é um dado de realidade", completa.

Servidor percebeu que foi enganado em Itaquera ao ouvir hino

Na entrevista o diretor da Anvisa também aborda o caso do jogo entre Brasil e Argentina pelas Eliminatórias Sul-Americanas, diz que os jogadores argentinos Buendia, Lo Celso, Martinez e Romero já haviam sido informados no sábado que deveriam estar em quarentena no hotel, mas mesmo assim saíram para treinar, além de irem à Neo Química Arena. Ele também cita constrangimentos com tentativas de impedir que o servidor Yunes Batista tivesse acesso aos atletas e que a chegada dele ao local da partida ocorreu 1 hora antes do apito inicial, mas a entrada em campo foi um ato extremo.

"Ele está sentado em uma área, percebe o hino nacional, já percebe que foi ludibriado ali pelas autoridades desportivas, vai ali, 'vamos ligar aqui para a Casa Civil, nós estamos tentando, vai vir uma decisão', e ele ligando para mim: 'tem alguma decisão?'. Eu disse Yunes, não tem decisão, não tem, isso já foi superado inclusive pelo Ministério da Saúde, não tem alternativa agora, a sua missão é só segregar ou promover o isolamento desses jogadores, simples assim, e a partida segue, não temos nada a ver com a partida, é só escalar outros jogadores, assim como o Brasil teve que convocar jogadores diversos", conta o diretor.

"Foi assim o limite, foi o imponderável, o imponderável, porque já era uma reiteração. Eles de manhã, no sábado, sabem que deveriam estar em quarentena, no sábado à tarde são reiteradas por várias autoridades, eles furam a quarentena no treino à noite, depois, a Polícia Federal chega ao hotel, eles saem com a delegação", conclui.

O diretor da Anvisa também explica na entrevista os casos de Willian, do Corinthians, e de Andreas Pereira e Kenedy, ambos do Flamengo, diz que a Fórmula 1 também precisará de pedido de excepcionalidade e defende a agência de críticas sobre buscar holofote com o futebol.

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