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Aguirre resgata essência do Inter vice-campeão brasileiro e muda horizonte

Diego Aguirre, técnico do Inter, recupera essência do time vice do Brasileiro de 2020 - Ricardo Duarte/Inter
Diego Aguirre, técnico do Inter, recupera essência do time vice do Brasileiro de 2020 Imagem: Ricardo Duarte/Inter

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

11/08/2021 04h00

Ver o Inter golear o Flamengo — 4 a 0, no último domingo, pelo Campeonato Brasileiro - trouxe uma lembrança aos colorados. Um time com linhas mais baixas, explorando o contra-ataque e apoiado numa defesa sólida bateu um rival tecnicamente mais forte ignorando o favoritismo evidente. Foi essa essência que levou o time gaúcho, no início do ano, ao vice-campeonato do Brasileiro, e que está sendo resgatada por Diego Aguirre.

Muitos são os aspectos que o treinador uruguaio utiliza e remetem ao feito por Abel Braga. A ruptura, então, se deu com o antecessor, Miguel Ángel Ramírez. Mais firme atrás, sem receio de "jogar feio" e lutando muito por cada jogada, o Inter muda sua perspectiva.

E não é apenas dentro de campo. Segurança para jogadores perseguidos pela torcida, confiança para os que se viam ameaçados, um ambiente mais leve de trabalho, tudo está no contexto de recuperação do Inter;

"O Inter jogou de uma forma por muitos anos, no contra-ataque, aproveitando o espaço. A gente se sente bem assim. Fizemos uma estratégia mais cuidadosa contra o Flamengo, nos defendemos bem, aproveitamos as chances que tivemos. Isso tem que ser um recomeço de coisas boas. Eu sempre acreditei nos jogadores, merecíamos e, lamentavelmente, quando não se conquista o resultado, o merecimento não serve", disse o treinador.

No Beira-Rio, hoje (11), a goleada de domingo ainda ecoa. O time que antes se limitava a lutar para fugir do rebaixamento já pensa em sonhos maiores, já olha para frente ao invés de se preocupar com os rivais da linha da degola. A perspectiva mudou, e o desafio passa a ser dar sequência neste resgate.

Pilares do time recuperados e protagonistas

Diego Aguirre não desistiu dos pilares do time. Jogadores que foram muito criticados pelos torcedores não tiveram status abalados junto ao comando técnico. Edenilson e Patrick, por exemplo, foram pilares do time na temporada anterior e receberam muitas críticas recentes dos aficionados. Ambos não tiveram status abalado internamente, ganharam segurança e confiança para render o esperado. No último jogo, cada um deu duas assistências e ambos foram importantes ao conter os avanços do Flamengo pelos lados.

Paolo Guerrero de novo nos planos e reaproximado

Paolo Guerrero viveu dias de conflito no Inter. Tentou rescisão, se via fora dos planos, não se sentia importante. Mas o cenário mudou totalmente a partir de uma conversa com Diego Aguirre. O treinador chamou o peruano, explicou que gostaria de contar com ele, recebeu resposta positiva, tanto que Guerrero começou o jogo contra o Cuiabá mesmo sem estar nas melhores condições físicas e sem ritmo de jogo. Os sinais da relação construída entre eles são evidentes no dia a dia do Inter. Guerrero está de novo nos planos, entrou contra o Fla e será utilizado. Quem sabe até renovando contrato que vence no fim do ano.

Defesa firme, sem vergonha de jogar feio

Um dos principais defeitos do time que Aguirre tratou de resolver era a defesa. Nos dois últimos jogos sob comando de Ramírez, por exemplo, o Inter tinha sofrido oito gols. Ao receber reforços, firmou a dupla Bruno Méndez e Cuesta e terminou com a obrigação de procurar a saída de jogo curta. Hoje, o Colorado não tem receio ou vergonha de "jogar feio". Nos últimos sete jogos, o time sofreu gols apenas em um, contra o Athletico Paranaense. A média de gols sofridos com Aguirre no comando é inferior a um por partida.

Segurança para Daniel no gol

Foi Diego Aguirre quem firmou Daniel como goleiro titular do Inter. No início do ano, o camisa 42 era terceiro goleiro do time. Depois, reserva de Marcelo Lomba, que deixou o gol ao testar positivo para covid-19. Mas quando assumiu, o treinador manteve o goleiro no posto, independentemente do retorno do antecessor, e deu segurança para que ele pudesse ter a atuação que teve diante do Fla, quando fez uma série de defesas complicadas. Daniel foi titular em todos os jogos sob comando do atual treinador do Inter.

Oportunidade para "perseguidos" e confiança para abalados

Diego Aguirre dá apoio a Yuri Alberto durante jogo do Inter - Ricardo Duarte/Inter - Ricardo Duarte/Inter
Imagem: Ricardo Duarte/Inter

A torcida do Inter protestava muito nas últimas semanas. Seja no aeroporto ou na concentração, os alvos mais comuns eram atletas. Entre eles estavam Rodrigo Lindoso e Rodrigo Dourado. Ambos, porém, foram escalados juntos contra o Flamengo e tiveram boas atuações. Em momento algum, seja quando o time não foi bem ou quando conseguiu criar chances e não concluiu corretamente, Aguirre fez críticas ou desacreditou seu grupo. Pelo contrário, tratou de dar oportunidade a quem vinha recebendo críticas e passou confiança a quem não estava bem. Depois de um mês, por exemplo, Yuri Alberto voltou a marcar gols e agradeceu ao comandante pelo apoio recebido.

Identificação com o clube

A escolha por trabalhar no Inter também partiu de um desejo pessoal de Diego Aguirre. Além da passagem pelo Colorado como jogador, ele ainda carregava a lembrança do trabalho inacabado de 2015. Aguirre foi eliminado nas semifinais da Libertadores, participou do processo de lançamento de jogadores importantes como Rodrigo Dourado e William, que atualmente joga na Alemanha, tinha um trabalho bem executado até ser demitido por questões muito mais políticas do que técnicas. O desejo de voltar ao clube também foi importante nesta relação rapidamente criada em Porto Alegre.

Ambiente positivo, sorrisos e elogios

O ambiente no Beira-Rio, aos poucos, se transformou. Os ruídos sobre desacordo entre grupo de jogadores e comissão técnica, comuns na gestão de Ramírez, já não ecoam dos corredores do estádio vermelho ou do CT Parque Gigante. Aguirre é visto como um treinador hábil no ambiente de trabalho, que cobra e também conforta o elenco quando necessário. O uruguaio jamais duvidou do que poderia fazer com este elenco. E foi exatamente assim que o Inter encontrou seu melhor rendimento recente, quando por um gol não conquistou o Brasileirão, sob comando de Abel.

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