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Brasil chega à semifinal com melhor ataque, mas com atacantes em baixa

Danilo Lavieri e Gabriel Carneiro

Do UOL, no Rio de Janeiro

05/07/2021 04h00

O Brasil é dono do melhor ataque da Copa América depois de cinco jogos, mas tem sofrido mais que o normal em suas últimas apresentações: venceu Colômbia e Chile por um gol de diferença e só empatou com o Equador. Com trocas constantes de peças e sistemas de jogo, o time acumula dúvidas sobre seu poderio ofensivo. Ele será colocado novamente à prova hoje (5), às 20h, contra o Peru, no estádio Nilton Santos. Vale vaga na decisão.

É como se nestes últimos jogos estivesse faltando o segundo passo de uma equipe sólida defensivamente e com força mental para situações delicadas, como aguentar 48 minutos com um jogador a menos contra o Chile. Atestada como "copeira", a seleção brasileira agora vai em busca de reconquistar a confiança do torcedor em sua capacidade criativa e artilheira.

Depois de rodar o elenco na fase de grupos, Tite encerrou os testes e escalou o que julga como sendo o melhor da seleção na sexta-feira passada. Organizado no esquema tático 4-4-2 para defender e 4-2-4 quando tinha a posse de bola, o time só conseguiu chutar duas vezes no gol do Chile nos primeiros 46 minutos. A ideia era que Neymar e Roberto Firmino, que são os atacantes centrais [com Gabriel Jesus e Richarlison pelos lados], se comportassem como meio-campistas. Não deu.

Paquetá - Wagner Meier/Getty Images - Wagner Meier/Getty Images
Lucas Paquetá comemora seu gol contra o Chile com comissão técnica e reservas do Brasil
Imagem: Wagner Meier/Getty Images

O Chile apertou a marcação sobre Fred e Casemiro e praticamente isolou o quarteto de ataque em campo. Sem a possibilidade de toques curtos ou um jogador capaz de atuar entre uma intermediária e outra, o time sofreu. Um meia ofensivo é a grande lacuna do time atualmente. Philippe Coutinho foi esse homem na maior parte do ciclo para a Copa do Mundo do Qatar, mas está lesionado. Everton Ribeiro e Lucas Paquetá são os concorrentes mais próximos e atualmente convocados, mas ainda não convenceram Tite totalmente.

Quem está mais próximo disso é o jogador do Lyon, que entrou no intervalo contra o Chile e logo no primeiro minuto do segundo tempo fez uma tabela com Neymar e pisou na área para marcar o gol da vitória. O problema é que Gabriel Jesus foi expulso dois minutos depois, o Brasil precisou se defender e não conseguiu aplicar a estratégia de atuar no 4-1-4-1, com Fred e Paquetá alinhados no meio à frente de Casemiro, Neymar e Jesus abertos e Richarlison como centroavante. O time apelou para um 4-4-1 com Neymar avançado e se segurou como deu.

Sem Jesus para enfrentar o Peru, Paquetá deve começar jogando. Mas não é 100% garantido que Firmino tenha outra chance como titular, e aí Gabigol pode reaparecer. Tite fez mistério: "Terei uma equipe equilibrada com dois atacantes verticais que atacam espaço [um deles é Richarlison], além de dois articuladores [Neymar e mais um] e dois médios [Fred e provavelmente Paquetá]. Essa é a ideia."

Foram só sete finalizações contra o Chile, número que supera somente o do jogo contra o Equador, quando Tite escalou o time com dez mudanças de jogadores — um time praticamente reserva — e só conseguiu cinco chutes, sendo três certos. Contra a Colômbia tinham sido 12 e diante de Peru e Venezuela 16 em cada jogo. Exceção feita ao jogo atípico contra o Equador, há uma queda de produtividade.

Tite - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Tite durante a partida entre Brasil e Chile pela Copa América: vitória por 1 a 0 no Nilton Santos
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Intervalo para corrigir a rota

Outro elemento que demonstra o momento de dúvida na formação do ataque do Brasil é que é em quatro dos cinco jogos da Copa América houve substituições ofensivas logo no intervalo. Contra a Venezuela, saiu Everton Ribeiro e entrou Lucas Paquetá. Diante do Peru foi em dose dupla: Everton Ribeiro e Richarlison entraram para as saídas de Éverton Cebolinha e Gabigol. Diante da Colômbia foi a vez de Everton Ribeiro sair cedo e Roberto Firmino entrar e, nas quartas de final, Firmino saiu e Paquetá entrou.

Gabigol - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Gabigol foi titular contra o Equador e disputa vaga no time diante do Peru; Firmino ameaçado
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Essas mexidas no intervalo representam um uso racional do direito às cinco substituições com só três possibilidades de parada do jogo, mas também evidenciam que é muito comum que o time corrija a rota no intervalo. Prova disso é que dos 11 gols feitos na Copa América foram só três no primeiro tempo contra oito nas etapas complementares.

Mas a impressão que fica é que o que dá certo no segundo tempo de um jogo e é replicado desde o início a partir da atuação seguinte não consegue se consolidar e obriga Tite a novas mexidas, num indício de que ainda falta tempo de treino e desafios para que esse setor ofensivo tenha fluidez e consiga mais do que liderar estatísticas, convencer o torcedor de que está no rumo certo para o bi da Copa América.

Minutos em campo dos atacantes na Copa América:

Neymar - 393 (4 jogos)
Richarlison - 305 (5 jogos)
Gabriel Jesus - 284 (4 jogos)
Lucas Paquetá - 212 (4 jogos)
Gabigol - 199 (4 jogos)
Roberto Firmino - 194 (4 jogos)
Everton Ribeiro - 165 (4 jogos)
Éverton Cebolinha - 157 (4 jogos)
Vini Jr - 42 (2 jogos)

FICHA TÉCNICA
BRASIL x PERU

Competição: Copa América, semifinal
Local: estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro-RJ
Data/hora: 5 de julho de 2021, segunda-feira, às 20h
Árbitro: Roberto Tobar (Chile)
Assistentes: Christian Schiemann e Claudio Rios (ambos do Chile)
VAR: Derlis Lopez (Paraguai)

Brasil: Ederson; Danilo, Marquinhos, Thiago Silva e Renan Lodi; Casemiro e Fred; Richarlison, Roberto Firmino (Gabigol), Neymar e Lucas Paquetá. Técnico: Tite.

Peru: Pedro Gallese; Corzo, Luis Abram, Callens e Marcos López; Renato Tapia, Yotún, Miguel Araujo, Cueva e Sergio Peña; Lapadula. Técnico: Ricardo Gareca.