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"Tem de matar o jogo", pede Bebeto, herói do Flamengo contra o Inter em 87

Bebeto chuta para fazer o gol sobre o Internacional, na final do Brasileiro de 1987 - Reprodução Instagram
Bebeto chuta para fazer o gol sobre o Internacional, na final do Brasileiro de 1987 Imagem: Reprodução Instagram

Alexandre Araújo e Leo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

16/02/2021 04h00

Uma "final" em meio aos pontos corridos. Flamengo e Internacional se enfrentam no domingo (21), no Maracanã, em partida que ganhou ares de decisão na briga pelo título do Campeonato Brasileiro. A circunstância do confronto, porém, não chega a ser novidade: em 1987, Rubro-Negro e Colorado duelaram na final do Módulo Verde da Copa União, e a taça foi para a Gávea, tendo Bebeto como herói.

O atacante balançou a rede no empate em 1 a 1, no Beira-Rio, e fez o gol da vitória por 1 a 0, no Maracanã. O Flamengo dava a volta olímpica novamente depois de quatro anos. A conquista, porém, até hoje, é envolta em polêmicas.

Na atual edição, o Internacional ocupa a liderança, com 69 pontos, enquanto o Fla está na segunda colocação, com 68. Após a partida, restará apenas mais uma rodada, quando os cariocas visitam o São Paulo e os gaúchos recebem o Corinthians.

"Foi um dia especial. Fiz o gol, mas acho que todos foram muito importantes. Foi a realização de um sonho. Eu tinha sido campeão pelo Flamengo em 83, mas aquele título foi maravilhoso. Era um time muito forte. Depois, cinco foram tetracampeões do mundo: eu, Leonardo, Aldair, Zinho e Jorginho. Tínhamos um time forte, com linhas bem definidas, e tínhamos o Zico, meu ídolo. Estávamos muito preparados para aquela final", disse, ao UOL Esporte.

Bebeto e Zico foram companheiros pelo Flamengo - Reprodução Instagram Bebeto - Reprodução Instagram Bebeto
Imagem: Reprodução Instagram Bebeto

"Estávamos preparados para aquele jogo. Em 87, eu era titular, já jogando pela seleção e, em campo, senti um grupo muito forte, muito unido. Fiz o gol, que foi importante, mas ninguém ganha nada sozinho", completou.

Uma das grandes lembranças de Bebeto daquele jogo foi a massiva presença da torcida. O Maracanã, naquela tarde, recebeu 91.034 torcedores, mesmo em um dia chuvoso. O atual cenário, em meio à pandemia de coronavírus, porém, não permite a presença de torcedores nos estádios, o que Bebeto lamenta.

"A decisão foi no Maracanã e, apesar de ser um dia de chuva, a torcida foi em massa. Aquele jogo aconteceu em um dia chuvoso, mas o Maracanã estava lotado. A torcida do Flamengo faz a diferença e, infelizmente, o Maracanã vazio se torna neutro. Essa pandemia nos traz uma tristeza muito grande em diversos aspectos. E acho que Flamengo, Internacional e todos os times de massa têm sentido bastante em jogar sem torcida".

A ausência da torcida, inclusive, é um fator que fez com que Bebeto considerasse a atual edição do Brasileiro como sendo ainda mais complicada aos times.

"Um campeonato muito difícil, sem torcida. O jogo é um momento especial de todos nós jogadores, assim como os atores, músicos. Jogar sem público é um negócio impressionante. Eu parei de jogar faz tanto tempo [2002], mas fico imaginando entrar em campo sem torcida. Esses caras têm sido uns guerreiros. Fazer aquilo que gosta já é uma alegria, mas sem a torcida, sem esse empurrão... Tem dias que você acorda e vê que não está legal e, nestes dias ruins, tem ali a torcida para empurrar", afirma.

O tetracampeão do mundo pela seleção brasileira, em 1994, acredita que o confronto entre Flamengo e Internacional será equilibrado e ressalta que Abel Braga e Rogério Ceni, outrora, estavam sob críticas. Ele afirmou ainda que o time da Gávea não poderá desperdiçar oportunidades como fez em algumas partidas recentes.

"O Inter vem mantendo uma regularidade grande e [o Flamengo] vai ter de tomar cuidado. Abel e Rogério... Futebol é isso, tem de ter paciência, deixar o cara trabalhar com calma. Os dois times estão bem. Vai ser um jogo difícil. Acho que o Rogério encontrou o time ideal, mas a equipe do Abel é bem forte, se defende bem e faz boa transição. Em um jogo como esse, não pode perder as oportunidades que tiver de matar, não pode perder os gols que tem perdido. Tem de matar o jogo, é decisão."

Bebeto não esconde a torcida pelo clube da Gávea e avisa:

"Eu sou Flamengo. Para mim, 1 a 0 está ótimo. O recado do Flamengo é que cresceu na hora certa. Então, quando deixam chegar, é, realmente, complicado."

Campeonato polêmico

O Campeonato Brasileiro de 1987 rende polêmica até hoje por diversos motivos, dentre eles a "briga" entre Flamengo e Sport sobre o legítimo campeão e, por reflexo, a batalha entre o Rubro-Negro carioca e o São Paulo pela Taça das Bolinhas, troféu entregue ao primeiro clube a vencer o Brasileiro seis vezes.

Em artigo publicado em março de 2016, PVC, então colunista do UOL Esporte, explicou o que aconteceu em 87 e lembrou as divergências entre a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o Clube dos 13, organizador daquela edição do torneio. O texto pode ser lido na íntegra aqui.

"Em 1986, a CBF prometeu mudar o sistema e criar, para 1987, a Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro. Os 24 melhores de 1986 formariam a Série A do ano seguinte.

Terminado o campeonato, com o Botafogo fora da elite de 24, a CBF mudou de ideia. Primeiro, afirmou que não tinha condição financeira para promover o torneio.

Em abril daquele ano, os grandes se reuniram e fizeram o movimento que criou o Clube Dos Treze. Os fundadores (Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Grêmio, Internacional, Atlético Mineiro, Cruzeiro e Bahia) anunciaram que disputariam um campeonato próprio, organizado por eles mesmos.

A CBF, então, se mobilizou e anunciou que faria o campeonato com 40 clubes. Os grandes fizeram uma composição com a CBF, mas criaram a Copa União, com a participação, também, de Santa Cruz, Goiás e Coritiba, que se juntavam aos treze de maior torcida.

A CBF criou o regulamento, que previa o cruzamento de campeão e vice do Módulo Verde (Copa União) com campeão e vice do Módulo amarelo (suposta segunda divisão).

O Clube dos 13 dizia que não disputaria o cruzamento, a CBF dizia que haveria o cruzamento. Essa confusão reforçou-se porque o representante do Clube dos 13 na CBF, Eurico Miranda, aceitou o acordo com a CBF e assinou o regulamento com o cruzamentos dos módulos.

Quando informou a direção do Clube dos 13, este recusou veementemente. O campeonato começou com a CBF dizendo que haveria o cruzamento, o Clube dos 13 dizendo que não aceitava e que não disputaria".

A CBF acabou considerando o Sport como campeão de 87. Por causa de todo este imbróglio, o São Paulo, ao vencer o Brasileiro de 2008, o sexto na história, levou a Taça das Bolinhas. Porém, uma batalha judicial se formou, uma vez que o Flamengo ainda lutava para ser considerado o campeão de 87 e, consequentemente, o primeiro hexa do país.