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Mundial de Clubes - 2020

Quem são os palmeirenses que vão assistir ao time no estádio no Mundial

Silvio Arroyo Filho, a mulher e os filhos: torcida brasileira para o Palmeiras no Qatar - Arquivo pessoal
Silvio Arroyo Filho, a mulher e os filhos: torcida brasileira para o Palmeiras no Qatar Imagem: Arquivo pessoal

Tiago Leme

Colaboração para o UOL, em Doha (Qatar)

07/02/2021 04h00

Por causa do fechamento das fronteiras do Qatar para os turistas, em razão da pandemia do coronavírus, os torcedores do Palmeiras não tiveram a chance de viajar para assistir de perto a disputa do Mundial de Clubes da Fifa. No entanto, mesmo em número reduzido, a torcida do Palmeiras estará, sim, presente no estádio para incentivar a equipe na semifinal marcada para as 15h deste domingo, contra o Tigres, do México.

Isso porque os residentes no país do Oriente Médio estão autorizados a irem aos jogos. Mas quem são esses torcedores privilegiados que estarão nas arquibancadas representando os milhares de palmeirenses que não puderam viajar e os milhões espalhados pelo Brasil e pelo mundo? A reportagem do UOL conversou com quatro brasileiros de coração verde que moram em Doha e vão apoiar o atual campeão da Libertadores da América.

Cada um deles tem uma experiência de vida diferente, um motivo especial para estar vivendo no Qatar, mas todos têm um sentimento em comum: o amor pelo Verdão. Silvio Arroyo Filho é veterinário de cavalos e está no país há dez anos. Carolina Stuksa é comissária de voo e tem a cidade de Doha como base da companhia aérea. Aluísio Castro é físico médico e vai ser voluntário da Fifa no Mundial. E Paula Caroline Campos e Silva é estudante e namorada do atacante Dudu, ex-Palmeiras e que hoje atua pelo Al Duhail.

Confira abaixo a história de cada um desses palmeirenses que vão representar no Qatar toda a fanática torcida alviverde.

Sensação surreal

Arroyo - Tiago Leme/Colaboração para o UOL - Tiago Leme/Colaboração para o UOL
Silvio Arroyo Filho participa de programa de TV no Qatar
Imagem: Tiago Leme/Colaboração para o UOL

Vivendo em Doha desde 2010, Silvio Arroyo Filho, paulista de Mogi das Cruzes, é veterinário de equinos e trabalha com cavalos de corridas de resistência no Al Shaqab. Palmeirense fanático, ele já participou esta semana de programas esportivos da TV Al Kass, emissora que detém os direitos de transmissão do Mundial no Qatar, para falar sobre o clube brasileiro.

Casado com Paula Nascimento, que é corintiana, e pai de três filhos alviverdes (Gabriel, de 14 anos, Leandro, de 8 anos, e Maria Eduarda, de 4 anos), ele ainda vibra com o recente título da Libertadores. Silvio também lamentou a ausência da torcida que não poderá viajar do Brasil para seguir a equipe de perto, mas destacou o seu privilégio de estar presente no estádio.

"A sensação é surreal, a ficha ainda parece que não caiu da Libertadores, muito pouco tempo para assimilar e imaginar isso. A gente viveu tudo em 2019 com o Flamengo aqui, a festa que foi, a quantidade de brasileiros que veio, eles aproveitando o país, conhecendo o país. E pensar que a gente não vai poder viver isso com a nossa torcida, deixa a gente bem chateado, principalmente para os meus filhos, que iriam poder curtir bastante essa festa toda. Por outro lado, ter esta oportunidade é uma responsabilidade também, tentar representar todo mundo que está no Brasil, essa torcida enorme, linda, fanática. Vamos tentar ajudar a empurrar o time aqui do jeito que der", afirmou.

Sonhando em encontrar o poderoso Bayern de Munique na decisão, Silvio destacou a força do time alemão, mas também fez um alerta para as dificuldades que o Palmeiras deve encontrar neste domingo contra o Tigres, citando problemas como o desgaste físico dos atletas e o fuso horário.

"Acho que a semifinal vai ser muito difícil, porque o time do México é muito bom, muito experiente, já está aqui faz tempo. O Palmeiras chegou agora na quarta-feira, tem só quinta, sexta e sábado para se preparar, e tem o fuso horário de seis horas de diferença. Quando eu venho do Brasil pra cá demora de uma semana a dez dias para voltar ao ritmo normal, dormir uma noite inteira. Então, eu acho que isso pode complicar um pouquinho o Palmeiras", analisou.

Estreia em um estádio de futebol

Comissária - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A comissária de bordo Karolina Stuksa mostra a sua torcida pelo Palmeiras
Imagem: Arquivo pessoal

Comissária de bordo da Qatar Airways, a paulistana Karolina Stuksa, de 24 anos, mudou-se em 2018 para Doha, cidade que é a base da companhia aérea. Ela, que adora a cidade e diz não se ver morando em outro lugar do mundo, terá a oportunidade neste domingo de ir pela primeira vez na vida em um estádio de futebol.

Única palmeirense da família, Karolina garante que vai fazer a parte dela como torcedora e se mostra animada com a chance de estrear nas arquibancadas.

"É uma sensação única, inexplicável. Ver o meu time no país que eu moro há três anos me deixa muito orgulhosa. Eu nunca fui a um estádio, só assistia a todos os jogos pela TV. Sempre foi o meu sonho ir a um jogo do Palmeiras no Brasil, mas infelizmente nunca tive a oportunidade, pois ninguém da minha família é palmeirense e eu me sentia de alguma forma insegura em ir sozinha. Sempre foi um desejo meu e eu vou realizá-lo nesse domingo", contou.

Karolina também lamentou o fato de a pandemia impedir a entrada de turistas no Qatar e consequentemente uma festa maior e mais bonita, mas falou sobre o seu sentimento de estar presente nos jogos. "Muita emoção em representar os milhões de palmeirenses nesse jogo, mesmo em meio a pandemia. Infelizmente, não estamos planejando nenhuma festa após o jogo, pois a pandemia atrapalhou um pouco os nossos planos, porém eu tenho certeza que cada um vai aproveitar ao máximo caso o Palmeiras vá para a final".

Sorte dupla: jogo no estádio e de graça

Aluisio - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Aluísio Castro vai ver o Palmeiras no Mundial de Clubes de graça
Imagem: Arquivo pessoal

Aluísio Castro vai assistir ao Palmeiras no Mundial de Clubes de uma forma que todos gostariam: de graça, sem precisar pagar ingresso. Este paulista de Guaratinguetá que vive no Qatar há três anos é um dos voluntários da Fifa no torneio e estará no estádio para as partidas do Verdão tanto neste domingo, na semifinal, quanto na próxima quinta-feira, seja na final ou na disputa de terceiro lugar.

Na vida profissional, ele é físico médico do Instituto Nacional do Câncer do Qatar (NCCCR), mas também encontra tempo para aliar o trabalho ao voluntariado, deixando clara a sua paixão pelo esporte e pelo Verdão.

"Dei sorte de ser escalado para os dois jogos do Palmeiras e de poder trabalhar dentro do estádio e bem pertinho do campo. Eu vou orientar o público a encontrar seu lugar na arquibancada. Eu já tinha sido voluntário na Olimpíada do Rio, em 2016, e adorei a experiência. Na época, eu morava no Rio de Janeiro. Vim pra cá há três anos e logo que cheguei me inscrevi na Fifa para ser voluntário da Copa e dos eventos que iriam anteceder. Foram algumas entrevistas e treinamentos antes dos jogos começarem. Agora é trabalhar e curtir", explicou.

As restrições por causa da covid-19 fazem Aluísio lamentar a ausência da massa palmeirense no Qatar. Quando morava no Brasil, ele costumava frequentar os estádios para acompanhar a equipe, desde a época do antigo Parque Antártica. Mesmo sabendo das dificuldades diante do Tigres e depois possivelmente contra o Bayern de Munique, ele está confiante em um bom papel do Palmeiras.

"É um mix de sentimentos. Por um lado me sinto um privilegiado de poder estar aqui, no quintal de casa, vendo o meu time do coração disputar o Mundial. Por outro lado, é triste saber que quase não vai ter torcida para apoiar o time e fazer a festa na cidade e no estádio. Sei que temos uma pedreira pela frente contra o Bayern, mas primeiro precisamos passar pelo Tigres, que pode ser complicado também. O jogo só se ganha no campo. Ganhamos a Libertadores de forma inquestionável. Temos nosso valor".

Torcida mais do que especial

Paula Caroline - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Paula Caroline e Dudu comemoram a vitória do Palmeiras na final da Libertadores
Imagem: Arquivo pessoal

Namorada do atacante Dudu, ídolo do Palmeiras e que atualmente joga pelo Al Duhail, do Qatar, a estudante Paula Caroline também vai apoiar de perto o time do técnico Abel Ferreira. Ela está morando em Doha junto com o atleta, que foi emprestado ao clube qatari em julho do ano passado, e os dois estarão juntos na torcida para que o Verdão consiga conquistar o sonho do título mundial.

"Apoiar o Palmeiras já é uma alegria, ao lado do Dudu com certeza será melhor ainda, como disse eu a ele. Esperamos que o Palmeiras possa ganhar, e a gente possa viver esse momento aqui de perto", afirmou.

Neste domingo, porém, Paula não estará no estádio Education City para a semifinal contra o Tigres. Isso porque no mesmo dia, poucas horas mais cedo, ela estará apoiando o namorado no estádio Ahmed Bin Ali, também, em Doha. Dudu entra em campo pelo Al Duhail na disputa do quinto lugar, contra o Ulsan Hyundai, da Coreia do Sul.

"O horário do jogo dele é um horário próximo ao jogo do Palmeiras. Apesar da vontade de irmos, estarei no jogo dele apoiando ele, não importa se for pelo quinto ou sexto lugar estarei lá na torcida dele", disse Paula Caroline.

Ela, no entanto, espera estar no estádio ao lado de Dudu torcendo para o Palmeiras na final da próxima quinta-feira, representando também os palmeirenses que estão longe.

"É um momento muito especial, com certeza. Tenho algumas amigas que me mandaram mensagens querendo saber um jeito de vir ao Qatar para assistir à semifinal. Inclusive meu pai e minha irmã, que são palmeirenses fanáticos, nós queríamos também estar vivendo isso com eles, mas infelizmente com tudo isso acontecendo não será possível. Nós que moramos aqui no Qatar sabemos a importância que eles têm com as restrições e segurança. Mas estaremos aqui torcendo e com certeza eles estarão de lá torcendo pelo Palmeiras".

Normas rígidas para entrar no estádio

De acordo com as regras do Governo do Qatar em acordo com a Fifa, todas as pessoas que forem aos estádios no Mundial de Clubes precisarão apresentar um resultado negativo de teste da covid feito no máximo 72 horas antes de cada partida. Apenas os residentes no país poderão ir aos jogos, já que as fronteiras estão fechadas para o turismo.

Os estádios poderão receber público com apenas 30% de sua capacidade. Sem torcedores vindos de outros países, o clima de festa que normalmente acontece em outras edições da competição não será o mesmo. Muito pelo contrário. A guia brasileira Leila Martinez, que mora há oito anos em Doha, lamentou a situação atual por causa da pandemia e lembrou do ambiente alegre e festivo que aconteceu no Mundial de 2019 no Qatar, quando o Flamengo foi derrotado pelo Liverpool na decisão.

"A gente estava sonhando com o Mundial de novo aqui, porque a energia da torcida do Flamengo foi uma coisa espetacular, não só para a comunidade brasileira, mas para o país em si. Quando ele foi adiado de dezembro para fevereiro, a gente imaginou que as coisas poderiam estar melhores agora, mas infelizmente não estão, seguem as restrições de turistas. Eu acho triste, pois é um título super esperado pelo Palmeiras, e é um evento muito esperado pelos brasileiros que curtem futebol", disse Leila.