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Marcel Rizzo

REPORTAGEM

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Confusão em Brasil x Argentina atrapalha plano do Rio por Mundial de Clubes

Maracanã antes de Flamengo e Grêmio, pela Copa do Brasil, que teve público - Paula Reis/CRF
Maracanã antes de Flamengo e Grêmio, pela Copa do Brasil, que teve público Imagem: Paula Reis/CRF

Colunista do UOL

16/09/2021 16h00

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A pandemia e o calendário atrapalham o plano do Rio de ser sede do Mundial de Clubes da Fifa em dezembro — o Japão desistiu do torneio porque não poderia colocar público nos estádios, por causa da covid-19, e teria prejuízo. Há também uma desconfiança da Fifa com o Brasil depois do clássico contra a Argentina ter sido paralisado com invasão do campo por funcionários da agência sanitária do país. O jogo válido pelas Eliminatórias foi cancelado.

O secretário de Fazenda e de Planejamento do Rio de Janeiro, Pedro Paulo, disse nesta quinta-feira (16) em entrevista à Bandnews que o Rio vai se colocar como candidato, com o Maracanã e o Engenhão como opções para realizar os jogos do Mundial, que no Japão estava marcado de 9 a 19 de dezembro.

Não é tão simples, entretanto, por alguns motivos segundo a coluna apurou. Primeiro porque pegou muito mal na Fifa o cancelamento de Brasil x Argentina há pouco menos de duas semanas, em São Paulo. Representantes da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) paralisaram a partida para retirar do campo quatro jogadores argentinos que estiveram no Reino Unido e, segundo as normas brasileiras, nem poderiam ter entrado no país sem quarentena.

A Argentina deixou o campo e o confronto foi cancelado. O caso foi parar na Comissão de Ética da Fifa, que é um órgão independente da direção da federação internacional e vai definir o que vai acontecer — a confederação considerada culpada pode perder os pontos do jogo, que pela regra poderia até ser realizado em outra data, algo improvável pelo calendário apertado.

Mesmo sem atuar diretamente no caso, a direção da Fifa, que organiza as Eliminatórias, se assustou com o que entendeu como "desorganização" dos três entes que participaram da confusão: a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), responsável pela parte operacional do confronto, a CBF, anfitriã e que deveria prezar pelos protocolos, e a AFA (Associação do Futebol Argentino), que abandonou a partida.

Há, porém, outros fatores, tudo relacionado aos impactos da pandemia:

1) Há preocupação na Fifa com relação à pandemia no Brasil, apesar dos números de mortos e contaminados estar em queda. Hoje, por exemplo, viajantes estrangeiros que venham do Reino Unido não podem entrar no país sem terem feito uma quarentena de duas semanas em outro local — os brasileiros podem entrar, mas precisam ficar 14 dias isolados em casa.

O Chelsea é o atual campeão europeu e vai participar do torneio, viajando, claro, da Inglaterra para a sede escolhida. Daqui três meses essa determinação pode ter caído, pode haver uma exceção para os participantes do Mundial, mas qual a certeza da Fifa e das autoridades sobre isso a curto prazo? A nova sede terá que ser escolhida logo.

2) O calendário no Brasil está apertado e a CBF precisou marcar as finais da Copa do Brasil para dezembro, dias 8 e 12, já em meio às férias dos atletas. A Fifa pede que durante o Mundial o país-sede não tenha jogos de sua elite nacional, no que a Copa do Brasil se insere.

Há também a possibilidade que Flamengo ou Atlético-MG estejam na decisão do torneio mata-mata da CBF e classificados para o Mundial, como campeão da Libertadores. Isso já pode gerar problemas para a CBF mesmo se a sede do Mundial for em outro país.

3) A Fifa vai realizar o Mundial em um país que puder receber público, mesmo que só local. O Rio de Janeiro liberou torcedores nos estádios, apesar da confusão que gerou porque alguns estados ainda proíbem e a maioria dos clubes da Série A querem isonomia, ou seja, que todos possam ter torcida ao mesmo tempo, o que o Flamengo não concorda.

Neste momento, o clube carioca está proibido de colocar torcedores em seus jogos no Brasileirão, pelo menos até 28 de setembro, quando clubes e CBF voltarão a se reunir para tratar do tema. A Fifa quer dar o Mundial a um país no qual a questão sanitária esteja estável, até para não ter a surpresa de veto de público de última hora.

Opções

Até agora dois países africanos demonstraram interesse no Mundial: Egito e África do Sul. A Fifa gostaria de colocar o torneio no Qatar, que será sede da Copa-2022 e que recebeu as duas últimas edição do campeonato de clubes. Só que em dezembro o país do Oriente Médio vai ser sede da Copa Árabe, competição de seleções e evento-teste da Copa do ano que vem. Seria preciso adiar o Mundial para fevereiro de 2022 para ser no Qatar, o que não agrada.

Já estão classificados para o Mundial deste ano o Chelsea, da Inglaterra, campeão da Liga dos Campeões, o Auckland City, da Nova Zelândia, indicado pela Confederação da Oceania, já que o seu continental foi novamente cancelado por causa da pandemia, e o Al Ahly, do Egito, vencedor da Champions africana e terceiro colocado do Mundial 2020, quando venceu o Palmeiras na decisão do 3º lugar nos pênaltis.

O Mundial no formato atual, com sete participantes (o campeão de cada continente, mais um representante do país-sede) é realizado desde 2005, mas a edição de 2021 pode ser a última. Como o blog revelou, a Fifa não colocou em seu orçamento de 2022 previsão para o torneio, que por causa da Copa do Mundo em novembro e dezembro, para minimizar o calor do Qatar, não terá calendário para acontecer.

O Super Mundial de Clubes com 24 participantes, que deveria estrear em 2021 na China, mas foi cancelado por causa da covid-19, não tem data mais para acontecer (e a prioridade da Fifa agora é mexer no calendário para que a Copa do Mundo de seleções ocorra a cada dois anos).

Já houve um Mundial de Clubes no Brasil, em 2000, em formato diferente (com oito participantes, dois sul-americanos e dois europeus) e o campeão foi o Corinthians, batendo o Vasco na final do Maracanã.