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Hoje no Palmeiras, ex-parceiro de Dener conta como recebeu notícia trágica

Tico - Arquivo pessoal
Tico Imagem: Arquivo pessoal

José Eduardo Martins e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

03/10/2020 04h00

Quem acompanhou futebol na década de 90 vai se lembrar da dupla Dener e Tico. Os dois encantaram os amantes do esporte com atuações inesquecíveis. Como todos sabem, a trajetória de Dener acabou em 1994, quando ele morreu em um acidente de carro, no Rio de Janeiro. O carinho de Tico pelo craque, porém, continua intacto. A relação entre os dois era tão estreita que até mesmo a última camisa utilizada por Dener no Vasco ficou para o amigo, que seguiu a sua carreira por clubes como o São Paulo e o Coritiba.

"Eu sou a pessoa que foi presenteada com a última camisa que ele usou no jogo. Foi falado que eu era a única pessoa digna de estar com essa camisa. Então, hoje eu procuro ter boas lembranças. É uma situação muita chata que aconteceu e, graças a Deus, hoje a gente superou assim de uma forma positiva. Na verdade, superar a gente não supera. Na verdade, hoje a gente consegue conviver melhor", disse Tico, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Aposentado desde 2004, o ex-jogador não conseguiu abandonar totalmente os campos. Depois de passar novamente pela comissão técnica da Portuguesa, hoje ele trabalha nas escolas de futebol do Palmeiras.

"Estou trabalhando no Palmeiras. Sou coordenador de uma unidade aqui na Pompeia [zona oeste de São Paulo], perto do CT do time profissional. Sou professor e faço Camp Palmeiras e as clínicas de futebol. Com a pandemia do novo coronavírus, deu uma parada nas clínicas e do Camp, mas os treinamentos na unidade voltaram com todo o protocolo", explicou o ex-jogador.

Tico - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Tico com a camisa de Dener
Imagem: Arquivo pessoal

Confira a entrevista com Tico:

Carreira

Desde o dente de leite eu joguei na Portuguesa. São 14 anos na Portuguesa. Eu fiquei até 1998, fui vendido para o Coritiba. Antes disso, eu fui emprestado para o Grêmio em 1992; depois para o Fortaleza em 1993; São Paulo e Ponte Preta. Depois do Coritiba, eu fui fazer dez jogos pelo XV de Piracicaba e fui para a Grécia.

Amizade com Dener

A gente começou a amizade no dente de leite. Eu estava na Portuguesa primeiro e fomos fazer um amistoso contra o Vila Maria, era um time em que o Dener jogava. Ele se destacou e aí o treinador e os diretores da Portuguesa o chamaram. Então, nós criamos essa amizade dentro e fora de campo. Na concentração éramos eu e ele no quarto. Ele é padrinho da minha filha, eu sou padrinho de casamento do filho dele, que casou em novembro do ano passado. Tenho amizade com a família dele.

Lembranças de Dener

Ah, antigamente eu não conseguia falar sobre as coisas dele. Eu chorava e ficava muito mal. Eu me afastei uma época da família, porque me lembrava muito dele. Demorou um pouco para cair a ficha, porque ele era como se fosse um irmão que eu não tive. E os meninos (filhos do Dener) me tinham como pai. Eles me chamam até nessa parte com carinho, como se eu fosse o segundo pai deles. Depois, eu comecei a me aproximar de novo da família, de todo mundo. Hoje, eu procuro me lembrar só das coisas boas que nós vivemos de época de dente de leite, de infantil, juvenil e juniores... Daquele time campeão da Copa São Paulo, campeão paulista de juniores, das brincadeiras nos vestiários, dos jogos, dos treinos.

Um dos melhores do mundo

Eu tenho certeza de que se ele tivesse uma carreira contínua, teria sido um dos melhores jogadores [do mundo]. Teria que ter uma maturidade de saber jogar na Europa, de saber que teria regras. Eu queria ter visto ele nos gramados europeus. Ele estava focado para disputar a Copa do Mundo de 1994. Ele fez aquele jogo no Vasco da Gama em que o Maradona o aplaudiu... Então, ele vinha em uma sequência muito boa e no fim ele acabou tendo essa fatalidade.

Dia da morte

Foi muito duro. Eu estava dormindo e tocou o interfone do apartamento. O porteiro me contou, mas eu estava meio dormindo e não acreditei muito. Depois, tocou o meu telefone e era o Luciano Júnior, um repórter que na época trabalhava na TV Bandeirantes. Ele me contou. Eu liguei a televisão e estava passando em todos os canais. Eu me desesperei, comecei a chorar. Queria sair de pijama já e acabei pegando a primeira roupa que vi. A rua da casa da família do Dener estava lotada e o pessoal todo chorando. Eu nem lembro da primeira pessoa da família que eu vi chorando e me abraçou. Foi aí que caiu a minha ficha.

São Paulo, Telê e Muricy

Eu joguei no São Paulo por quase um ano, em 95. Eu ganhei no Expressinho [time do B do clube que contava com jogadores como o goleiro Rogério Ceni, o zagueiro Bordon, o meia Juninho Paulista, e os atacantes Caio e Denilson, que eram promessas do Tricolor] e joguei na Copa do Brasil. Quando o Telê mesclou o time, disputei o Paulista. No Brasileiro, eu fui para a Portuguesa, onde a gente chegou a ser vice-campeão de 1996. Eu queria ter sido comprado, porque o São Paulo na época tinha estrutura e, tem até hoje. Não era a mesma estrutura que eu tinha na Portuguesa. Lá, eu tinha o seu Telê Santana e o Muricy Ramalho. Então, na verdade, eu fiquei feliz por ter convivido com grandes jogadores como Válber, Júnior Baiano, Rogério Ceni, Zetti, Dodô, Denílson... Foi muito gratificante.

Gol que Pelé não fez

Foi pelo XV de Piracicaba. A minha percepção foi muito rápida e até inteligente demais por ter visto o goleiro adiantado em outro lance. Quando o atacante recebe a bola de costas, eu peço para ele só ajeitar. Eu bati de primeira e fiz o gol um pouco antes do meio campo. Eu me dei conta quando o lateral Jorge Luiz chegou e falou para mim que eu tinha feito o gol que o Pelé não fez.

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