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Marcelo revela crise de ansiedade antes de final: "Não conseguia respirar"

Marcelo coloca o filho Liam dentro da taça da Champions League - Kirsty Wigglesworth/AP
Marcelo coloca o filho Liam dentro da taça da Champions League Imagem: Kirsty Wigglesworth/AP

Do UOL, em São Paulo

31/10/2019 11h09Atualizada em 31/10/2019 20h59

O lateral Marcelo, do Real Madrid, revelou que passou por um momento complicado antes da final da Liga dos Campeões de 2018. Na ocasião, o clube espanhol enfrentou o Liverpool, e o brasileiro teve uma crise de ansiedade: "Não conseguia respirar".

Ao The Players Tribune, Marcelo relatou em primeira pessoa:

Eu não conseguia respirar. Tentava não entrar em pânico. Isso aconteceu no vestiário pouco antes final da Champions contra o Liverpool em 2018. Era como se tivesse uma coisa presa no meu peito. Uma pressão monstruosa. Você sabe qual é essa sensação? Não estou falando de ficar nervoso. Ficar nervoso é normal no futebol. Estou falando de uma coisa diferente. Tô te falando, cara, era uma parada sufocante.

Na noite anterior, ele já se sentia mal, mesmo tendo faturado a taça antes. "Não conseguia dormir, não conseguia comer... (...) . Talvez as pessoas achem isso estranho. Nós já tínhamos conquistado duas Champions League seguidas. E todo mundo queria que o Liverpool fosse o campeão".

Marcelo diz que é comum sentir pressão ante uma oportunidade de fazer história. "Mas, por alguma razão, estava sentindo de verdade daquela vez. Nunca tinha sentido com tanta intensidade, então, não sabia o que estava se passando. Pensei em chamar um médico, mas fiquei com medo de ele não me deixar jogar".

O brasileiro tinha um duelo com Salah o preocupando - em parte como pressão, em parte como motivação, já que um ex-jogador havia falado na TV que ele deveria pregar um pôster de Salah na parede e "rezar todas as noites". "Depois de 12 anos e 3 conquistas da Champions, ele me desrespeitava desse jeito, ao vivo, na TV. Esse comentário foi feito para me derrubar. Mas acabou me motivando muito."

Marcelo tentava manter o controle, com a respiração.

"Me perguntava: 'Quantos meninos pelo mundo jogam bola? Quantos sonham com uma final da Champions? Milhões. Relaxa, cara. Amarra as chuteiras, irmão.' Quando finalmente pisei no gramado, eu ainda estava com alguma dificuldade de respirar, e daí pensei no seguinte: 'Se eu tiver que morrer no gramado hoje, f***-se, vou morrer.".

A calma voltou depois do aquecimento. "Nos alinhamos para o pontapé inicial, debaixo de todas aquelas luzes, vi a bola, o círculo central, e tudo mudou. O peso foi tirado do meu peito e fiquei em paz".

Marcelo ainda conta que chorou durante o jogo. "Faltando apenas 10 minutos, nós já estávamos ganhando por 3 a 1, e daí que me toquei que nós seríamos campeões. A bola foi pra fora de jogo, eu tive um momento para pensar e?Irmão, de verdade: comecei a chorar. Estava soluçando, lá no gramado. Nunca tinha acontecido nada igual comigo antes. (...) Foi apenas por 10 segundos, e depois a bola foi colocada em jogo novamente, e eu pensei: 'Caraca, tenho que marcar o adversário'. Voltei à realidade e segui jogando, como uma criança."

O lateral disse que isso o fez entender que jogadores "não são super-heróis". "Somos humanos, sangramos, nos preocupamos, como qualquer pessoa".

Marcelo em lance da final da Champions, em 2018 - Getty Images - Getty Images
Marcelo em lance da final da Champions, em 2018
Imagem: Getty Images

E citou uma situação de ansiedade de Cristiano Ronaldo no Real, antes de enfrentar a Juventus em 2017. Na época, o português perguntou aos companheiros se mais alguém sentia aquela pressão no estômago.

"Ninguém queria admitir, mas se aquele cara estava sentindo isso, então, todos nós estávamos O.K. para admitir, tudo bem, entendeu? Cristiano é frio como o gelo. Uma máquina. Nós temos uma expressão em português, praticamente impossível de traduzir. Basicamente: ele é um homão da porra. E mesmo ele estava se borrando de medo. Isso quebrou toda a tensão. Somente ele poderia ter feito aquilo."

Marcelo encerrou a entrevista falando da fase do time e de seu amor pelo Real Madrid: "A última temporada foi um fracasso. Nós sabemos disso. Nós não ganhamos nada. Foi uma experiência terrível. Mas estou de cabeça erguida, porque isso nos deu fome de novo."

"Quando eles colocaram o contrato na minha frente, assinei meu nome muito rápido. Eu teria assinado com o meu sangue, irmão. Me lembro que era um contrato de cinco anos, e meu objetivo era ficar aqui por dez. Bem, faz 13 anos agora, e o pequeno Marcelinho do Rio ainda está aqui", concluiu