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Jovem morto a tiros em Goiás foi dispensado do Corinthians por indisciplina

Da esquerda para a direita: Ronald, Leandro (de azul, morto na sexta), Du, Vitinho e Guilherme, em 2017, no Sub-17 - Rodrigo Gazzanel/Agência Corinthians
Da esquerda para a direita: Ronald, Leandro (de azul, morto na sexta), Du, Vitinho e Guilherme, em 2017, no Sub-17 Imagem: Rodrigo Gazzanel/Agência Corinthians

Lucas Faraldo

Do UOL, em São Paulo

07/07/2019 08h00

O jogador Leandro Augusto Santos Soares, de 18 anos, morto a tiros na última sexta-feira (5) em Valparaíso de Goiás, teve passagem pelo Corinthians nos anos de 2016 e 2017. Considerado um jovem promissor quando ainda estava no Sub-15, ele acabou deixando o clube por conta do histórico de indisciplina.

Leandro chegou ao Parque São Jorge por indicação devido ao destaque que estava ganhando como atacante na região norte do Paraná pelo pequeno PSTC, clube de Cornélio Procópio (PR). A diretoria de base do Timão, porém, também havia sido alertada sobre problemas extracampo que o garoto carregava consigo. Ainda assim, o clube alvinegro topou apostar no jovem atleta, levá-lo para São Paulo e fornecer alojamento, alimentação, estudos e, claro, os treinos.

Mas foi justamente o comportamento complicado fora dos gramados, combinado a uma grave lesão, que culminou na saída de Leandro do Corinthians. Ainda no Sub-15, sofreu ruptura de ligamentos no joelho - nas categorias de base, um dos maiores dramas qual um jogador pode passar é ficar afastado de campo sem poder mostrar serviço. Ainda assim, foi promovido ao Sub-17, mesmo machucado.

O garoto era brincalhão no departamento médico, onde sempre pedia para ser filmado prometendo se recuperar logo. Paralelamente, porém, acumulava problemas extracampo e advertências na escola por mau comportamento. Em um dos episódios, ameaçou uma professora.

Leandro chega à Arena Corinthians para jogo da Copa do Brasil sub-17 em 2017 - Rodrigo Gazzanel/Agência Corinthians - Rodrigo Gazzanel/Agência Corinthians
Leandro chega à Arena Corinthians para jogo da Copa do Brasil sub-17 em 2017
Imagem: Rodrigo Gazzanel/Agência Corinthians

Recuperado de lesão, viveu um dos dias mais felizes de sua passagem pelo Corinthians quando, relacionado para um jogo da Copa do Brasil Sub-17 que seria disputado na Arena, conheceu o estádio de Itaquera. Os casos de indisciplina, contudo, seguiam acompanhando Leandro. Por conta deles, o clube decidiu se desvincular do atleta.

Fato é que saída de Leandro do Corinthians entristeceu, lá mesmo em 2017, dirigentes, comissão técnica e demais funcionários do clube que com ele conviviam. De forma geral, ele era visto como um garoto com potencial dentro de campo. Não à toa foi contratado mesmo com histórico de indisciplina e promovido ao Sub-17 ainda lesionado.

Na relativamente breve passagem pelo Corinthians, Leandro foi colega de elenco de jovens que hoje são conhecidos pela ala da torcida que mais acompanha as categorias de base. Nomes como Guilherme, Ronald, Du, Vitinho e Gustavo Mantuan, hoje no Sub-20 do clube e monitorados por Fábio Carille, treinavam diariamente com Leandro, que foi comandado no Parque São Jorge pelos técnicos Vinicius Marques, que segue por lá, e Marcos Soares, hoje à frente do Sub-20 do Botafogo.

Leandro é o quinto em pé da esquerda para a direita - Rodrigo Gazzanel/Agência Corinthians - Rodrigo Gazzanel/Agência Corinthians
Imagem: Rodrigo Gazzanel/Agência Corinthians

Novos problemas e sumiço marcaram passagem por último clube

Leandro jogava atualmente no Capital CF, de Guará, no Distrito Federal, que fica a aproximadamente 40 km de Valparaíso de Goiás, onde morava com o pai e foi morto. Lá, apesar de não integrar o elenco profissional, Leandro sabia da perspectiva de, se promovido ao plantel principal, ser treinado por Waldemar Lemos, irmão de Oswaldo de Oliveira e hoje técnico da equipe de Guará. Também seria também colega do veterano Jobson, atacante com passagem pelo Botafogo e que também acumula diversos problemas extracampo, como suspensão por doping e prisões por acusação de estupro e descumprimento de medidas cautelares.

As semelhanças com Jobson e com a passagem pelo Corinthians vinham se repetindo. Ouvidos pelo UOL, membros da comissão técnica relataram um sumiço de Leandro nas últimas semanas. Há cerca de um mês, ele chegou a procurar integrantes do grupo técnico recém-chegado para explicar os problemas com a comissão antiga e pedir nova chance. Ouviu reposta positiva. Poucos dias depois, porém, não apareceu para os treinos.

Ele comentava com os mais próximos que não vinha se sentindo útil e que isso o chateava. Triste, não saía de casa e apresentava "pensamentos negativos". A preocupação virou tristeza e choque neste final de semana.

A notícia da morte deixou funcionários arrasados. Circularam diversos boatos na região sobre o que teria ocorrido naquela manhã de sexta-feira. Nenhum, porém, foi confirmado. Apesar de a polícia ainda não dar maiores informações além da confirmação de que um PM disparou um tiro que lhe acertou o tórax, o que se fala entre profissionais do Capital e familiares de Leandro é que ele teria levado três tiros (um deles nas costas) quando estava numa praça acompanhado da namorada e carregando uma arma de brinquedo.

Outra curiosidade sobre o Capital é que, desde novembro do ano passado, o clube tem Marcelinho Carioca como diretor. O ex-meia, hoje com 47 anos, foi ídolo quando jogador justamente com a camisa do Corinthians, ex-clube de Leandro.

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