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Caso Daniel

"Culpado é quem foi provocar", diz mãe de Cristiana sobre morte de Daniel

Cristiana e Allana Brittes estão presas  - GIULIANO GOMES/PR PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Cristiana e Allana Brittes estão presas Imagem: GIULIANO GOMES/PR PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Dimitri Valle e Karla Torralba

Do UOL, São José dos Pinhais e São Paulo

03/04/2019 10h05

O primeiro depoimento de hoje (3) na audiência de instrução do caso Daniel procura reforçar a linha de defesa adotada pelos advogados da família Brittes ao responsabilizar o jogador pela própria morte e por ter "acabado com a família dela". A fala é da mãe de Cristiana Brittes, Gessi Rodrigues, que falou à Justiça no fórum de São José dos Pinhais-PR.

Daniel foi morto, degolado e emasculado após uma sessão de espancamento na casa de Edison Brittes Júnior, que teria flagrado o atleta deitado na cama ao lado de sua mulher, Cristiana Brittes, em um "after party" na residência da família depois da celebração do aniversário de Allana Brittes, filha do casal.

Gessi Rodrigues foi perguntada pelo advogado de Edison Brittes Júnior, Cláudio Dalledone Júnior, sobre "quem causou a morte". "Ele mesmo. Sinto muito pela família dele, mas ele é o culpado. Essa brincadeira acabou com a minha família", respondeu a mãe de Cristiana, também acusada de homicídio.

A "brincadeira" citada por Gessi seria a ação de Daniel antes do crime. O jogador foi até o quarto do casal Brittes, deitou-se ao lado de Cristiana, que dormia, e tirou foto. Ele também mandou um áudio a amigos afirmando que havia "comido" a mulher de Edison Brittes Júnior.

Edison Brittes Júnior entrou no quarto e viu Daniel deitado ao lado da mulher. Nesse momento, teria afirmado aos outros convidados que o atleta estuprava Cristiana. O meia foi espancado e depois levado em um Veloster preto por Edison, David Vollero, Ygor King e Eduardo Henrique da Silva até o local em que foi morto.

"Eu entendo que ela [Cristiana] é uma vítima. Culpado é quem foi provocar, se deitar na cama com ela. Tinha banheiro lá fora. Não tinha que ter ido lá dentro do quarto", continuou Gessi Rodrigues. "O que aconteceu foi uma fatalidade, aconteceu porque foi provocado, ninguém foi atrás", afirmou.

Esta foi a mesma linha adotada pelo pai de Cristiana, Pedro Rodrigues, em seu depoimento ontem. "Se fosse meu filho, tinha passado outro tipo de educação: 'meu filho, nunca vá na cama de uma mulher casada, pois você pode ter problemas'. Do meu modo de ver, minha filha foi vítima do Daniel", disse ele, após pedir perdão à família do jogador.

Depois dos depoimentos da manhã, Cláudio Dalledone Júnior explicou a defesa dos Brittes. "Daniel é um jovem que infelizmente teve a vida ceifada e ninguém está feliz com isso. Há uma tragédia na qual não há vencedores. Tratamos de histórias infelizes que se cruzaram. O que fazemos, e a defesa faz, são circunstâncias que devem ser adequadas que a lei prevê. Ele é um assassino confesso como a imprensa fala, ele é confesso, mas ele quer que entendam as circunstâncias que o levaram a essa tragédia, mas há uma consternação geral com a morte", disse.

Desde os primeiros dias após a morte de Daniel, a defesa da família Brittes afirma que Cristiana Brittes foi importunada sexualmente por Daniel. Em vídeo gravado após confessar o assassinato, Edison Brittes Júnior afirmou ter perdido a cabeça, porque foi defender a mulher. A tese de estupro foi descartada pela polícia no inquérito e também pelo promotor que fez a denúncia, João Milton Salles.

Cristiana é acusada de homicídio, porque teria dito para os homens que agrediam Daniel "parar de fazer sujeira" em sua casa. Ela também responde por fraude processual e coação de testemunha.

Estilo de vida dos Brittes

A fala de Gessi também cita o perfil da família antes do crime e exalta, principalmente, a relação com sua neta Allana Brittes e o estilo de vida "humilde" levado pelos três Brittes presos. "Edison sempre trabalhou. Minha filha também. A casinha deles é obra do suor do trabalho deles", falou.

"Ela não é só uma neta, é uma filha. Queria sempre trabalhar. Comentou sempre pra estudar direito e ser uma delegada", afirmou Gessi Rodrigues emocionada. Cristiana, Edison e Allana choraram com as falas.

O assistente de acusação e advogado da família de Daniel Nilton Ribeiro questionou Gessi sobre conversas da neta e do genro com a mãe de Daniel, Eliana Correa, após o crime. Eliana procurava o filho e conversou com os Brittes na tentativa de ter pistas sobre seu paradeiro. Allana e Edison falaram a todo momento que ajudariam a mãe do atleta. "Só sei que ele desrespeitou a casa da minha filha e começou a provocar tudo isso", respondeu Gessi.

Os depoimentos que acontecem nesta semana são de testemunhas de defesa dos sete réus. Em fevereiro, falaram as testemunhas de acusação. Após todos os depoimentos, será a vez dos réus darem suas versões à juíza Luciani Regina Martins de Paula.

Sete pessoas são acusadas em diferentes níveis pela morte de Daniel. Edison Brittes Júnior, réu confesso; David Vollero, Eduardo Henrique da Silva, Ygor King, Cristiana Brittes, Allana Brittes, todos presos. Evellyn Perusso responde em liberdade por falso testemunho.

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