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Ederson desafia limites, coleciona lances de efeito e impressiona: "Louco"

REUTERS/Phil Noble
Imagem: REUTERS/Phil Noble

Caio Carrieri

Colaboração para o UOL, em Manchester (ING)

19/01/2019 04h00

O WhatsApp de Ederson tocou em Manchester ao receber a seguinte mensagem: "Você é louco mesmo".

O recado partiu de Osasco (SP), cidade natal do goleiro do Manchester City, e teve um dos seus melhores amigos como remetente. Ricardo Valentim, ex-companheiro de posição na base do São Paulo, também estava extasiado com o que Ederson fizera na última segunda-feira (14), quando o City venceu o Wolverhampton por 3 a 0 pela Premier League.

Mesmo com a amizade de longa data e cinco anos de formação juntos no clube do Morumbi, Valentim não se conteve ao ver Ederson sair quase até a linha do meio de campo para interceptar um lançamento e, com a posse da bola, tabelar no centro do gramado com Ilkay Gündogan e Fernandinho.

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A técnica apuradíssima do jogador de 25 anos com os pés foi um dos principais motivos para Pep Guardiola dar o sinal verde na contratação do arqueiro canhoto, que custou R$ 145 milhões ao se transferir do Benfica-POR antes da temporada passada.

Desde então, Ederson coleciona lances de efeito com a bola e impressiona os espectadores da Premier League. Antes da investida como líbero na última rodada, ele já havia protagonizado outras jogadas que desafiaram os limites do papel de um goleiro, mesmo com a evolução da posição: só nesta temporada, ele driblou um adversário com extrema tranquilidade dentro da pequena área, arriscou um passe "olha para um lado e toca para o outro" à la Ronaldinho e anotou uma assistência para Sérgio Agüero ao cobrar um tiro de meta açucarado no pé do argentino a uma distância de 90 metros.

Valentim (à esquerda) ao lado de Ederson, na base do São Paulo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Valentim (à esquerda) ao lado de Ederson, na base do São Paulo
Imagem: Arquivo pessoal
"O cara é f***. Está cada dia mais louco [risos]", brinca Valentim. "O jogo pode estar pegando fogo, pode ser uma final de Liga dos Campeões, mas ele vai encarar com a naturalidade como se fosse uma brincadeira. Ele não fica nervoso".

"Ele sempre foi muito ousado. Batia falta, no futebol de salão e jogava como líbero. Teve bastante qualidade com o pé desde moleque, graças à nossa base no São Paulo. Com a referência do Rogério Ceni no time principal, nossos treinadores sempre exigiam jogar com o pé. Quando ele foi para Portugal, aos 15 anos, já era completo", acrescentou o amigo, que abandonou a carreira por falta de oportunidades e hoje é autônomo em Osasco (SP).

"Um dia, estávamos treinando e tinha de repor a bola para os meias, que na época eram Oscar e Rodrigo Caio, por exemplo. Com o nosso treinador de costas, brincamos de tentar acertar a bola nele. Na hora que o Ederson conseguiu, a bola foi na cabeça do técnico e derrubou o boné dele. Nós choramos de rir".

Toninho, a vítima, também guarda na memória o episódio. "Como nós às vezes voltávamos para Osasco juntos, havia uma liberdade deles comigo. Sabiam também que eu ficava nervoso, mas passava rápido", conta o atual coordenador dos times até sub-14 do São Paulo, orgulhoso do pupilo. "É provável que o Ederson seja o melhor do mundo com os pés", complementa Toninho, que indicou o jovem ao Benfica após a dispensa do São Paulo, aos 15 anos.

A família de Valentim também teve papel fundamental no sonho de Ederson de seguir os mesmos passos de Ceni, ídolo da dupla. Como a condição financeira do amigo era bem limitada, as caronas ficavam por conta dos pais de Valentim.

"Minha mãe sempre levava sanduiche, maçã, banana e suco para gente depois dos jogos e treinos. O Ederson era muito pobre, a família dele ajudava quando podia, mas quando não dava, a minha família entendia".

Ederson, goleiro do Manchester City, com o amigo de infância Ricardo Valentim - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
No futebol de várzea paulista, Valentim só veste luvas e chuteiras enviadas pelo dono da meta do City. A presença do goleiro no elenco da seleção brasileira da Copa da Rússia faz o amigo de infância pensar ainda mais alto.

"Ele já realizou parte do meu sonho e da família dele, que foi ter ido para a Copa do Mundo. Para completar, tem de ser campeão como titular. Tenho certeza que isso vai acontecer no Qatar", projeta.

Enquanto isso não acontece, Ederson segue como intocável no time de Guardiola. Vice-líder da Premier League e quatro pontos atrás do Liverpool, o City enfrenta o lanterna Huddersfield, no domingo (20), às 11h30 de Brasília, com o objetivo de conseguir defender o título inglês. Os Reds encaram o Crystal Palace, 14º colocado, neste sábado, em Anfield, às 13h.