Não era apenas dono de time. Leicester chora por quem fez a cidade famosa
“Você deixou um enorme legado para o Leicester City, mas partiu muito cedo”. “A felicidade que você proporcionou ao nosso clube não tem preço, por isso será sempre amado e lembrado”. “Você será eterno no coração da cidade que ensinou a sonhar”.
Escritas em centenas de camisas e cartões acompanhados de incontáveis buquês de flores, as palavras de afeto e carinho contrastam com o silêncio absoluto. Na vigília que torcedores fazem há dois dias na frente do Estádio King Power em lembrança a Vichai Srivaddhanaprabha, dono do clube que morreu no último sábado (27), as vozes são raras. Sobram olhares marejados, abraços confortantes e desolação.
A morte do bilionário de 60 anos abalou a cidade multicultural de cerca de 330 mil habitantes, localizada na região central da Inglaterra, onde o empresário tailandês resolveu investir parte do seu patrimônio avaliado em cerca de R$ 10 bilhões. Os laços dele com o município vão além da surpreendente conquista do Campeonato Inglês em 2016 e se estreitaram com iniciativas filantrópicas, como doações milionárias para instituições locais.
Apenas dois anos e cinco meses depois de levar o Leicester ao inesperado título da Premier League, Khun Vichai, como era chamado nos bastidores do clube, perdeu a vida em uma tragédia – ao repetir o conhecido ritual de deixar o estádio de helicóptero no último fim de semana, depois do empate com o West Ham por 1 a 1, a aeronave caiu logo em seguida no estacionamento dos funcionários. Além do dono do Leicester, foram vítimas fatais as outras quatro pessoas a bordo: dois de seus colaboradores, Nursara Sukamai e Kaveporn Punpare, e os pilotos Eric Swaffer e Izabela Lechowicz.
“É um choque gigantesco, muito difícil de compreender”, afirmou Diani Stratham, 59 anos e há mais de três décadas detentora do carnê da temporada, que dá direito a comparecer a todas as partidas. “Normalmente nós saímos do estádio quase ao mesmo tempo do que a decolagem. Desta vez deixamos nossas cadeiras com o helicóptero ainda no gramado. Foi só chegar em casa, 15 minutos depois, que recebi a notícia. Estamos devastados”.
Embora a suspeita da morte do empresário tenha surgido desde que o veículo virou chamas na noite de sábado, o clube só confirmou a fatalidade nas últimas horas de domingo, o que ampliou a comoção e as homenagens desde o amanhecer de segunda-feira.
“Cheguei às 6 horas da manhã e é incrível a quantidade de pessoas que já visitaram o estádio para prestar homenagem. São milhares de pessoas. É como se fosse um dia de jogo, e os torcedores não pararam de aparecer com flores, cachecóis e mensagens de apoio”, relatou Al Booth, repórter da Rádio BBC Leicester.
O luto do Leicester sensibilizou torcedores de outros clubes. O azul e branco se misturaram com as cores de Liverpool, Manchester United e Celtic, por exemplo, cujos aficionados ofereceram artigos no espaço destinado aos tributos na frente do estádio. Andy Dorans, 56, fã do Arsenal, viajou quase 90 km, desde Milton Keynes, e fez questão de comparecer ao local com uma jaqueta dos Gunners.
“Vim para demonstrar o meu respeito e lamentar essa perda tão dura para o Leicester. Faço isso pelo amor que tenho pelo futebol, com a rivalidade deixada de lado. Também compartilho da mesma dor dos torcedores do Leicester, porque todos nós amamos o mesmo esporte", relatou. "As pessoas me agradeceram pelo gesto, o que mostra a união de todos nesse momento difícil”.
Assim como diversos presentes na tarde desta segunda, Dorans se emocionou quando o técnico do Leicester, Claude Puel, e o elenco acompanharam a esposa do empresário, Aimon, e o filho e vice-presidente, Aiyawatt, no momento em que colocaram uma coroa de flores no local. O goleiro Kasper Schmeichel e o atacante Jamie Vardy, os dois principais astros do plantel, estiveram todo tempo ao lado de Aiyawatt e deixaram as lágrimas escorrerem assim que o público fez uma salva de palmas.
Proprietário do Leicester desde 2010, quando desembolsou 39 milhões de libras (R$ 185 milhões, pela cotação atual) para investir em um clube até então na Segunda Divisão, Vichai Srivaddhanaprabha ainda se notabilizou pelo ambiente de família que incentivou no estádio e no dia a dia da agremiação. No palco onde transformou a utopia do título do Leicester em realidade, ele ainda distribuiu mimos. Em mais de uma oportunidade, forneceu 30 mil garrafas de cerveja e bolo de graça em comemorações do próprio aniversário e em outras ocasiões especiais.
O sabor inesquecível, porém, será o de campeão da Premier League.
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