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De ator a queridinho de Messi: Arthur conquista Barcelona como "novo Xavi"

REUTERS/Albert Gea
Imagem: REUTERS/Albert Gea

Thiago Arantes

Colaboração para o UOL, de Barcelona (ESP)

27/10/2018 04h00

Barcelona, 23 de fevereiro de 2018. Em entrevista coletiva antes do duelo contra o Girona, pela Liga Espanhola, uma repórter pergunta ao técnico Ernesto Valverde por Arthur. “Qual é o sobrenome dele mesmo? Pensava que era um ator”, respondeu o treinador.

Na época, pouca gente em Barcelona conhecia Arthur Henrique Ramos de Oliveira Melo. O volante do Grêmio completava três meses sem jogar por causa de uma lesão no tornozelo, havia perdido o Mundial de Clubes e tinha seu caminho rumo à Copa do Mundo complicado pela falta de chances na seleção brasileira.

Fosse um ator, seria quase um figurante no mundo de estrelas do Barcelona.

Camp Nou, 24 de outubro de 2018. Oito meses depois daquela entrevista, Ernesto Valverde já sabe quem é Arthur. A torcida do Barcelona, também. E, das arquibancadas do maior estádio da Europa, o treinador do time catalão levou uma vaia pouco comum naquele palco em que os aplausos costumam ser predominantes. O motivo: aos 33 minutos do segundo tempo do duelo contra a Inter de Milão, o sistema de som anuncia a saída de Arthur para a entrada do chileno Arturo Vidal.

O Barcelona, que vencia por 1 a 0, ampliou a vantagem cinco minutos depois. Mas, na entrevista pós-jogo, Valverde foi questionado sobre a substituição. “Ele saiu porque está com uma pequena sobrecarga e eu não queria arriscar”, explicou-se. Arriscar, no caso, é poder perder o meio-campista brasileiro para El Clásico contra o Real Madrid, no domingo, no Camp Nou.

Sim, porque depois do duelo contra a Inter de Milão, Arthur já é considerado peça fundamental no meio-campo do Barcelona. A torcida deixou isso claro com as vaias a Valverde; o treinador, reconhecendo a necessidade de poupá-lo; e a sempre exigente imprensa catalã também já se curva ao talento do meio-campista.

Para Jaume Naveira, narrador de todos os jogos do Barcelona na rádio Cadena SER, a transformação de Arthur em jogador fundamental começou no jogo contra o Tottenham, pela segunda rodada da fase de grupos da Champions League. “O time estava com muitos problemas de perda de bola com Dembele, e a entrada de Arthur no time titular mudou isso, deu mais controle da bola e do jogo”, lembra.

Depois daquela vitória por 4 a 2 sobre sobre os ingleses, Arthur foi comparado a um dos mais importantes jogadores da história do Barcelona. A capa do jornal Sport do dia 5 de outubro estampava a manchete “Arthur, aprendiz de Xavi”.

As comparações com o ídolo azul e grená são cada vez mais recorrentes. O próprio Xavi já disse que “Arthur tem o DNA do Barcelona e pode marcar uma era no clube”. Outro ídolo catalão, Carles Puyol, mostrou-se mais prudente, afirmando que “as comparações podem atrapalhar Arthur”.

Messi e Arthur - JOSE JORDAN / AFP - JOSE JORDAN / AFP
Arthur recebeu elogios de Messi
Imagem: JOSE JORDAN / AFP
Mas o que fazer se até Lionel Messi já citou Xavi para falar das características de Arthur? Em setembro, durante entrevista à Catalunya Radio, o craque argentino disse que “guardadas as proporções, Arthur tem um estilo de jogo muito parecido ao de Xavi, de querer jogar com a bola e saber que não vai perdê-la”

O argentino, inclusive, é um dos entusiastas de Arthur no vestiário, segundo apurou o UOL Esporte. A pessoas próximas, o camisa 10 já comentou que, com o brasileiro no meio-campo, ele joga mais fácil, porque não precisa buscar tanto o jogo e recebe a bola mais perto da área.

“A adaptação dele já está quase completa e foi muito rápida. Ele é um jogador que ajudará muito no meio-campo do Barcelona. É a peça que o time precisava para jogar no estilo que o Camp Nou acostumou-se a ver”, afirma o jornalista Marc Puigpelat, do canal Movistar.

O estilo a que a Puigpelat se refere - e que muitos, como Xavi, chamam de “DNA Barça” - tem características bem marcadas: manutenção da posse de bola, passes curtos e movimentação para sempre dar duas opções de passe para o companheiro. Dentro do clube, a história é tão séria que existe até um Departamento de Metodologia, que tem como trabalho proteger e propagar o estilo de jogo.

A ideia é que La Masia, a famosa categoria de base do Barcelona, seja a provedora desses jogadores para o time principal. Mas, nos últimos anos, nem a fábrica de talentos nem o dinheiro foram capazes de colocar um jogador com essas características para ocupar a cadeira de Xavi.

Arthur na seleção brasileira - REUTERS/Waleed - REUTERS/Waleed
Imagem: REUTERS/Waleed

Da cantera, surgiram Sergi Roberto, que acabou ganhando espaço como lateral improvisado, Rafinha, que ainda não se firmou, Denis Suárez e Sergi Samper, esquecidos entre empréstimos e lesões. Da carteira, chegaram Ivan Rakitic (titular e peça importante, mas com outro estilo de jogo), Paulinho e André Gomes, que já deixaram o clube.

Após o duelo contra a Inter, a sensação nos escritórios do Camp Nou é de que, finalmente, o clube encontrou seu meio-campista com “DNA Barça”. Ernesto Valverde deve manter contra o Real Madrid, no domingo, o mesmo time que venceu os italianos, com Coutinho jogando na linha ofensiva, junto de Luis Suárez, e Rafinha - possível substituto do lesionado Messi.

No meio-campo, ao lado de Busquets e Rakitic, Arthur fará a estreia contra o maior rival. Diante de um estádio que já começa a adotá-lo e de um treinador que já o conhece muito bem.