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Cuca já cogita deixar Santos após "bicho não pago" e palpites de presidente

Presidente Peres ao lado do técnico Cuca durante treino do Santos - Ivan Storti/SantosFC
Presidente Peres ao lado do técnico Cuca durante treino do Santos Imagem: Ivan Storti/SantosFC

Samir Carvalho

Do UOL, em Santos (SP)

24/10/2018 04h00

Apesar da boa campanha do Santos no segundo turno do Campeonato Brasileiro, o clima entre Cuca e José Carlos Peres não é dos melhores. Após a dupla trocar farpas na imprensa, o UOL Esporte apurou que o treinador tem algumas insatisfações com o presidente. A principal delas, segundo pessoas ligadas ao técnico, é que o dirigente não cumpre suas promessas.

Internamente, Cuca já admitiu que não descarta deixar o Santos após o término desta temporada. O treinador tem vínculo até o fim do próximo ano, mas está insatisfeito com o presidente santista e não tem cláusula de rescisão no contrato. Até publicamente o treinador não quis confirmar que ficará para 2019. "Eu tenho contrato até 2019, vamos pensar nesse ano que é o mais importante. Ano que vem a gente não sabe nem se estará vivo", disse.

O estopim foi um "bicho", premiação por vitórias ou objetivos alcançados, não pago à comissão técnica após o clássico contra o Corinthians no último dia 13, válido pela 29ª rodada do Campeonato Brasileiro, vencido pelo Santos por 1 a 0, com gol de Gabigol.

Após um pedido de Cuca antes do jogo, o presidente santista havia prometido pagar o "bicho" ainda no vestiário do Pacaembu para atletas e comissão técnica. No entanto, somente os jogadores receberam a premiação.

A turma de Cuca alega não estar preocupada com o dinheiro, mas insatisfeita com promessas não cumpridas pelo dirigente.

A diretoria santista, por sua vez, alega que a premiação foi prometida nos vestiários somente aos atletas e que o "bicho" da comissão técnica será pago por meio da folha de pagamento.

O grupo de Cuca ainda ressalta que premiações atrasadas e problemas com pagamentos ao elenco já ocorreram mais uma vez desde a sua chegada. O treinador tem o perfil que briga por atletas e profissionais e, por isso, entra em rota de colisão com os dirigentes.

Se não bastasse, Peres criticou a escalação de Cuca publicamente na semana passada. O dirigente disse em reunião do Conselho Deliberativo que o meia Bryan Ruiz está jogando fora de posição e, por isso, não apresenta o seu melhor futebol. O treinador não deixou por menos e reprovou a atitude do mandatário em público.

"Só lamento pois eu sempre que coloco o jogador, coloco na posição dele. É um cara que a gente gosta (Bryan Ruiz), um baita profissional. Às vezes eu tenho outros gostos por estar aqui o dia inteiro. Eu lamento essas palavras do presidente, mas bola para a frente. Vamos lá", disse.

Nessa terça-feira (23), na Federação Paulista de Futebol, José Carlos Peres disse que já se entendeu com Cuca e até elogiou a preleção do treinador antes do empate contra o Internacional por 2 a 2 nesta segunda-feira, em Porto Alegre. Além disso, o dirigente ainda prometeu que montará o time que o treinador pedir para a próxima temporada.

"Eu digo que essa relação é de família. O Santos é uma família. No segundo turno, somos o segundo. Se fossemos bem na primeira parte estaríamos entre os dois, três primeiros. Me entendi bem com Cuca. É sempre bem resolvido. Família é família. A relação é ótima. É um grande treinador, fez uma grande preleção ontem. Quanto mais você assiste mais você tem certeza. Ele manda no time. Vamos montar o time do Cuca. E ele vai ficar com a gente", disse Peres.

O problema é que o treinador já deixou a entender que este projeto prometido pelo presidente santista ainda não foi iniciado. Questionado na última sexta-feira, no CT Rei Pelé, se participou da reunião entre Peres e outros dirigentes sobre o planejamento de 2019, Cuca foi irônico ao responder. "Eu faltei nessa aula".

A relação entre Peres e Cuca começou a estremecer publicamente logo após a eliminação do Santos para o Independiente, na Libertadores. Na ocasião, Cuca disparou contra a diretoria pelo erro envolvendo a escalação irregular do volante uruguaio Carlos Sánchez. Ele disse que os dirigentes precisavam melhorar administrativamente.

Peres respondeu, também publicamente, alegando que cabia ao treinador cuidar somente da parte técnica, não da administrativa. Posteriormente, Cuca negou ter feito críticas e disse que não precisaria fazer um pedido de desculpas ao dirigente. Por isso, se recusou a participar de uma entrevista coletiva ao lado do mandatário para selar a paz.

Para a cúpula santista, a turma de Cuca quer criar um desgaste que não existe. Eles lembram que já foi desnecessário "desgastar" a partida contra o Corinthians pelo local em que o Santos decidiu mandá-la. Vale lembrar que o treinador ficou pedindo a Vila Belmiro como palco do jogo em entrevistas coletivas mesmo após o presidente ter definido o clássico no Pacaembu. Irritados, eles até citaram que o time sofreu para ganhar dos reservas do Corinthians e que o "bicho" não deveria ser cobrado, mesmo que seja internamente.