Briga de R$ 150 mi: promessa que "sumiu" do Atlético-PR brilha no Benfica
Bernardo Silva, Ederson, Gonçalo Guedes, Lindelof, André Gomes, João Cancelo e outros. Em comum entre eles, não apenas o potencial gigantesco, mas também o ‘berço’ que compartilham: o centro de formação do Benfica no Seixal. Nos últimos anos, os portugueses garantiram mais de 200 milhões de euros (R$ 935 milhões) com a sua base. E não devem ficar nisso.
Um de seus diamantes que mais reluz nesta temporada vem de sua equipe sub-23, que disputa a recém-criada Liga Revelação, competição nacional que abrange a categoria. Em três jogos, o atacante Vinícius Jaú balançou as redes duas vezes.
A promessa, entretanto, não é fruto genuíno dos Encarnados. Jaú poderia estar desfilando seu potencial no Brasil: ex-Atlético Paranaense, a joia de 20 anos tem passagem pelas seleções de base e era considerado um dos garotos mais promissores de sua idade antes de abandonar o CT do Caju e se mudar para a Lisboa em setembro de 2016.
Desde então, o canhoto habilidoso está no centro de uma briga ainda longe de uma definição.
Atlético-PR e Benfica brigam nos tribunais para resolver a situação
O time paranaense obteve uma vitória parcial no caso e pede uma indenização de 30 milhões de euros (cerca de R$ 150 milhões, no câmbio de agosto de 2018) na Fifa pela saída prematura do jovem jogador. O episódio é considerado emblemático nos bastidores do futebol brasileiro como exemplo da fragilidade dos clubes.
O futuro de Vinícius Jaú em Curitiba havia virado novela após ele se recusar a renovar contrato em 2015. O atleta conseguiu a sua liberação na Justiça alegando assédio moral (estaria supostamente sendo forçado a assinar um novo vínculo, caso contrário, ficaria encostado).
A visão do Atlético é inversa. O clube se queixa da diferença entre o que prevê a lei brasileira e o que existe no regulamento da Fifa. Para o Furacão, o problema é amplo e interessa a todos os clubes do Brasil, que acabam desprotegidos no momento da profissionalização do atleta.
A disputa central opõe o chamado “contrato de formação”, em que o clube tem que dar uma assistência ampla e completa para o atleta, com amparo educacional, médico, psicológico e garantir convívio com a família, além pagar uma “bolsa” – um salário, num eufemismo técnico.
"A lei brasileira cobra esse suporte, mas também uma série de proteções ao clube. Mas no plano internacional isso acaba se fragilizando. E muitos atletas que, por algum motivo, acabam brigando com o clube, abrem mão de atuar, 'somem' do clube, e aparecem num clube no exterior", questionou o advogado Victor Eleutério, da Bichara & Motta Advogados, que representa o Furacão na ação na Fifa.
"A gente acredita que, pelas garantias que o Jaú teve no contrato de formação, de receber uma bolsa, para a Fifa, na definição dela sobre o que é um atleta profissional, o Jaú era um profissional, pelo que ele tinha de benefícios", argumentou o advogado, que imagina que o caso só terá uma primeira resposta da Fifa em 2019 – e depois disso, ainda caberá recurso de qualquer uma das partes ao CAS, Comitê Arbitral do Esporte, na Suíça. "Esse caso é único no Mundo", comentou Eleutério.
O advogado de Jaú no caso, Diego Barreto, foi procurado pelo UOL Esporte para comentar a disputa. Ele alegou estar ocupado com um compromisso, mas manifestou interesse no debate. "A ação em si não é o ponto mais importante, mas sim o debate que casos como o dele devem gerar. Algo muito próximo de um 'Passe na Base'".
O valor pretendido pelo Furacão junto ao Benfica, a título de indenização, é equivalente a quase 40% da dívida do clube – em disputa judicial com o Estado do Paraná – pela obra da Arena da Baixada, de acordo com o valor colocado pelo próprio Atlético no seu último balanço financeiro.
“Sumiço” envolveu rival Coritiba e “mudança’ de nome
Vinícius Jaú chegou a treinar por um breve período no rival Coritiba antes de acertar com o Benfica. Na ocasião, foi oferecido ao Sporting, mas não houve acordo. O Arsenal, o Villarreal e o Valencia, que também o monitoravam, preferiram não se envolver e ficar de fora da disputa. O Atlético notificou o Coxa, que justificou desconhecer a situação e retirou Jaú dos treinamentos.
Em Lisboa, Vinícius Jaú deixou de lado a sua cidade natal e virou Vinícius Ferreira. O potencial segue o mesmo, no entanto: na última terça-feira, em clássico com o Sporting transmitido na televisão aberta, ele esteve em campo e contribuiu na vitória de 1 a 0, fora de casa.
Nas rodadas anteriores, o camisa 17 marcou contra o Braga e fez um golaço diante do Vitória de Setúbal, recebendo na direita, cortando para o meio e acertando o ângulo do goleiro adversário em chute com a perna esquerda.
No grupo sub-23 do Benfica, ele tem a companhia de outros dois compatriotas: Daniel dos Anjos, ex-Flamengo e Figueirense, e João Victor, ex-Fluminense.
Os portugueses cogitaram o seu empréstimo ao Panathinaikos, da Grécia, na última temporada, porém, o atacante seguiu no time B do clube. Em contatos extraoficiais, eles descartam pagar o que o Atlético pede e sinalizaram com cifras muito mais modestas: em torno de 350 mil euros (R$ 1.6 milhão) como ressarcimento.
Ex-colegas de Vinícius, Rúben Dias, Gedson Fernandes e João Félix são hoje destaques da equipe principal comandada por Rui Vitória.
Furacão x portugueses: há outra disputa
Esse não é o único caso que o Atlético-PR enfrenta envolvendo a saída de um de seus garotos para Portugal. O meia Marcos Antônio ‘Bahia’, 18 anos, é outro que repetiu o roteiro recentemente ao romper unilateralmente e fechar com o Estoril, time que pertence à Traffic (rebatizada de TFM). Representante legal da Traffic em outros casos, o escritório de advocacia que representa o clube brasileiro na ação com Vinícius Jaú não atua na ação de Bahia. Os advogados alegaram conflito ético e evitaram assim escolher entre algum de seus clientes.
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