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Filho de Herzog comemora condenação e critica choro de Marin: "É patético"

Divulgação
Imagem: Divulgação

Adriano Wilkson*

Do UOL, em São Paulo

22/08/2018 16h50

Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog, comemorou a condenação a quatro anos de prisão do ex-presidente da CBF José Maria Marin pela Justiça Federal dos Estados Unidos. Marin foi condenado pelos crimes de conspiração para organização criminosa, fraude financeira e lavagem de dinheiro.

Nos anos 70, quando era deputado em São Paulo, Marin proferiu um discurso na Assembleia Legislativa apontado por críticos do regime como indutor do assassinato de Herzog nas dependências do DOI-Codi. O ex-cartola também foi governador biônico e pertencia aos quadros da Arena, o partido de sustentação do regime militar.

“É uma vitória”, disse Ivo Herzog, presidente do instituto que leva o nome do pai. “Essa é uma pessoa que tem sabido histórico de crimes e abusos e faz parte daquele grupo de pessoas que se achavam intocáveis pela lei. Mas fica a frustração porque a punição para essas pessoas sempre acontece fora do Brasil. Aqui dentro não conseguimos.”

Em um discurso na Assembleia em 1975, Marin cobrava providências em relação ao jornalismo da TV Cultura, comandado por Herzog, que estaria causando “intranquilidade” na população.

“Já não se trata nem de divulgar aquilo que é bom e deixar de divulgar aquilo que é mau. Se trata de grande intranquilidade que já está tomando conta de todos em São Paulo. É um assunto que não é comentado apenas nessa tribuna.” De acordo com Marin, a TV Cultura estava “pregando apenas fatos negativos, apresentando miséria, apresentando problemas sem apresentar inclusive soluções.”

Duas semanas depois do discurso, Vladimir Herzog foi morto após ir prestar esclarecimentos no DOI-Codi. No ano seguinte, Marin voltaria à tribuna para elogiar o delegado Sérgio Paranhos Fleury, que trabalhava no DOI-Codi. Em julho de 2018, o Estado brasileiro foi condenado por não investigar o assassinato e a tortura do jornalista.

Ivo Herzog se tornou um militante pelos direitos humanos e encabeçou um movimento de boicote a José Maria Marin. Em 2013, Ivo organizou uma petição pedindo o afastamento de Marin da presidência da CBF.

Marin Herzog - Julio Cesar de Moraes/UOL Esporte - Julio Cesar de Moraes/UOL Esporte
Romário chega à CBF ao lado de Ivo Herzog com a petição pública que pede a saída de Marin
Imagem: Julio Cesar de Moraes/UOL Esporte

A corte federal americana condenou Marin por crimes cometidos durante sua passagem pela presidência da entidade, entre 2012 e 2015. “Os discursos não são crimes”, disse Ivo Herzog, “mas mostram de que lado que ele estava na história. Não conheço todo o histórico de crimes dele, a ficha é bem longa.”

Condenado a quatro anos em regime fechado mais US$ 1,2 milhão de multa e confisco de US$ 3,3 milhões em bens, Marin já cumpriu 13 meses. Ao se pronunciar à juíza Pamela Chen, o ex-cartola chorou copiosamente, disse que não sabia que estava cometendo crimes e que nunca quis ferir ninguém. A defesa argumentou que Marin deveria ter a pena diminuída por ter 86 anos.

“Acho isso absolutamente patético”, disse Herzog em relação ao choro do ex-cartola. “Essa reação que ele tem é porque durante 90% da vida dele, ele se achava acima da lei. Tem um grupo de pessoas aqui que se acha acima da lei, e elas até têm uma certa razão porque nunca são julgadas, não acontece nada com elas. Mas a coisa está mudando lentamente.”

"Marin e seus co-conspiradores foram um câncer para o esporte que ele diz amar”, disse a juíza Chen em sua decisão. “Seus crimes foram de uma ganância pura, não mitigada e sem controle"

A defesa de José Maria Marin promete recorrer da decisão da corte federal. "Temos que esperar a publicação da sentença para apelar", disse o advogado de Marin, Júlio Barbosa, ao UOL Esporte. "Provavelmente [será solto] em 24 meses, caso a pena não seja modificada na apelação. Acatamos a decisão, mas respeitosamente dissentimos e por isto apelaremos."

* Colaborou Ricardo Perrone, de São Paulo