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Cruzeiro se desfez de metade de Arrascaeta por dívida com investidor

Giorgian De Arrascaeta comemora gol pelo Cruzeiro diante da Universidad de Chile - AFP PHOTO / DOUGLAS MAGNO
Giorgian De Arrascaeta comemora gol pelo Cruzeiro diante da Universidad de Chile Imagem: AFP PHOTO / DOUGLAS MAGNO

Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

09/05/2018 04h00

O Cruzeiro adquiriu 50% dos direitos econômicos de Arrascaeta em janeiro de 2015 por 4 milhões de euros (R$ 12 mi à época). Menos de três anos depois, o clube tem apenas metade deste percentual - 25%. Onde está o restante do atleta?

Hoje, o camisa 10 uruguaio, um dos principais alvos do futebol estrangeiro na Toca da Raposa II, é dividido em três. Os mineiros detêm 25%, o Supermercados BH, do conselheiro Pedro Lourenço, tem parcela semelhante, e o Defensor Sporting, do Uruguai, seu ex-clube, tem 50%.

Até 2016, a Raposa detinha 30% e a rede de supermercados 20%. Como há uma dívida com a empresa ainda por conta da contratação do jogador, os números foram atualizados em 2017 e a companhia passou a ter um percentual idêntico ao da equipe. Os percentuais são constatados na Demonstração de Resultados do Exercício (DRE) de 2017, divulgada em 30 de abril passado.

Logo após o anúncio de Arrascaeta, em janeiro de 2015, o Cruzeiro informou que teria 50% dos direitos do jogador. Pedro Lourenço, proprietário do Supermercados BH, quitou metade da contratação - 2 milhões de euros. A outra fatia foi parcelada em 29 vezes. As prestações eram avaliadas em 70 mil euros.

Como possui uma dívida com o responsável por financiar parte da contratação do atleta, o Cruzeiro teve que ceder metade do que seria o seu percentual. Isso foi feito de forma gradativa. Em 2015, os mineiros tinham 50% dos direitos do atleta. O número caiu para 30% em 2016 e foi reduzido a 25% no ano passado, último da gestão de Gilvan de Pinho Tavares. Em 2018, a agremiação mantém esta fatia.

Procurado para falar sobre o fato, o ex-presidente se confundiu e não assumiu que o fato ocorreu durante a sua gestão, mesmo que os balanços mostrem o contrário. "O problema do Arrascaeta é que não sei o que fizeram com o Arrascaeta, mas tínhamos 50% dos direitos econômicos do Arrascaeta. Não sei se eles negociaram algum percentual, mas era 50%", disse Gilvan de Pinho ao UOL Esporte.

Javier Manzo, empresário do meia-atacante, confirma a apuração da reportagem: "Haviam pedido dinheiro e cederam parte do que tinham direito ao investidor", afirmou ao UOL.

Principal nome para venda no atual elenco, Arrascaeta renovou o seu contrato com o Cruzeiro em 20 de fevereiro passado. O novo compromisso do uruguaio se encerra em dezembro de 2021 e estipula multa de 30 milhões de euros (R$ 126,9 mi).

Ainda há uma dívida em aberto do Cruzeiro com o Defensor Sporting, do Uruguai. O valor foi negociado entre as partes e é pago mensalmente pela atual diretoria, chefiada pelo presidente Wagner Pires de Sá.

"Já entraram em acordo com o Defensor Sporting. Porém, não terminaram de pagar ainda", concluiu Javier Manzo. 

Por que não infringe lei da Fifa

Mas como o dono de um supermercado pode ter percentual de um atleta sem burlar o regulamento da Fifa que proíbe investidores no futebol desde 1º de maio de 2015?

Há dois aspectos que permitem. A divisão dos direitos de Arrascaeta foi feita em janeiro de 2015. Como o fato antecede a instituição do regulamento feito pelo órgão que rege o esporte, é possível que o empresário possua parte dos direitos, de acordo com o advogado Louis Dolabela, especialista em direito esportivo.

Outra possibilidade é firmar um acordo civil com o Cruzeiro que estabelece permuta nos direitos econômicos do jogador.

"Como o contrato foi feito antes do novo regulamento, a divisão dos direitos pode permanecer. Mas se ele tem um percentual a mais depois que a lei entrou em vigor, pode ser que tenham feito por meio de um contrato civil com o Cruzeiro, o qual estabeleceria como pagamento de uma dívida o percentual de determinado atleta. É muito comum hoje no futebol", disse Louis Dolabela ao UOL Esporte.