Lembra do Chuchu? Ele foi 10 do Fla e ídolo de time de senador cassado
Iranildo Hermínio Ferreira. Ou Chuchu para os mais íntimos – entre eles Romário e o Papai Joel Santana. Ambos foram os responsáveis pelo apelido no mínimo curioso do meia que realizou o sonho de infância ao defender o Flamengo na década de 90. Mas por que Chuchu? Em entrevista ao UOL Esporte, Iranildo – hoje aos 41 anos e já aposentado – revela a origem do apelido e fala sobre a emoção de ter tido a oportunidade de defender o time que torce desde a infância.
Natural de Igarassu, cidade do litoral de Pernambuco, Iranildo tinha 13 anos quando chegou ao Rio de Janeiro acompanhado do pai, que buscava mudar de vida em terras cariocas. Mas quem mudou mesmo de vida foi o filho, que aos 15 anos conseguiu passar em um teste no Madureira com cerca de 400 concorrentes. Desde então, Iranildo e o futebol viraram uma coisa só.
Do Madureira, Iranildo foi parar no Botafogo. E as coisas não paravam de melhorar para o meia. “Aí no Estadual de 95 eu fui bem demais, joguei contra o Flamengo, que tinha Romário, Branco, e foi onde o Botafogo me contratou por empréstimo, depois do Estadual, para disputar o Brasileiro de 95, quando eu fui campeão pelo Botafogo”, acrescenta.
O SONHO DE SER O CAMISA 10 DO FLAMENGO
Depois de brilhar pelo Botafogo, Iranildo parou no Flamengo e conseguiu realizar seu grande sonho de infância. Foram cinco anos vestindo a camisa rubro-negra, de 1996 a 2000. “Eu sempre quis ser jogador de futebol e o meu time sempre foi o Flamengo. E, na minha época de garoto, sempre se falava do Zico, o camisa 10, eu sempre fui fã dele. E eu realizei o meu sonho, jogar no Flamengo, com a camisa 10, do Zico. Realizei todos meus sonhos possíveis: jogar ao lado do Romário, ganhar títulos, então todo sonho possível foi realizado. É coisa de Deus, e também foi determinação minha, perseverança, de querer. A oportunidade que eu tive, eu agarrei. Independente de sorte, tem que correr atrás, tem que trabalhar”, diz.
Eu sempre quis ser jogador de futebol e o meu time sempre foi o Flamengo. E eu realizei o meu sonho, jogar no Flamengo, com a camisa 10, do Zico"
Além de Zico, Iranildo tinha outro grande ídolo: Romário. Ainda aos 18 anos, antes de profissionalizar, viu o Baixinho ser o grande nome do tetra da seleção brasileira. Poucos anos depois, Iranildo jogava ao lado do camisa 11. Mais um sonho realizado: “Em 94 eu vi o Baixinho levantando o caneco da Copa do Mundo e, dois anos depois você estar ao lado do ídolo, de um dos maiores jogadores da história do futebol, campeão do mundo... Pô, foi bacana demais”.
Iranildo recorda que Romário, o “Rei do Rio” na época, costumava fazer algumas promessas, e geralmente as cumpria. “Ele mandava, desmandava, ele era tudo [risos], mas o importante é que ele resolvia. Ele me chamava de chuchu, tinha dia que ele falava: ‘chuchu, hoje eu vou fazer três gols’. Porra, e o cara fazia três mesmo. Fazer um gol já é difícil, imagina três. Ele era fera”.
APELIDO VEIO DE MÚSICA DOS MAMONAS ASSASSINAS
“Eu sempre fui fã dos Mamonas Assassinas. A carreira dos Mamonas foi meteórica, foi rápida demais, e eu ganhei o apelido em 95/96. Nessa época eu gostava de cantar as músicas dos Mamonas Assassinas, e tinha uma parte naquela música, ‘você é meu chuchuzinho’, e o Romário e o Joel colocaram o apelido em mim. Pegou e até hoje eu tenho esse apelido [risos]”, disse.
JOGO INESQUECÍVEL E OS GRITOS DE ‘ÃO, ÃO, ÃO, IRANILDO É SELEÇÃO’
Um jogo em especial ainda está mais do que guardado na memória de Iranildo. Era 10 de outubro de 1998: o Flamengo recebia o Corinthians – futuro campeão nacional daquele ano – em um Maracanã completamente lotado. Romário, grande astro do time carioca, saiu machucado ainda no primeiro tempo, abrindo espaço para outros jogadores brilharem. Iranildo fez um dos quatro gols da goleada por 4 a 1 (Marcos Assunção, Beto e Jorginho marcaram os outros), e nunca mais esqueceu esse dia.
“98 foi marcante porque teve um jogo no Maracanã que tinham 120 mil flamenguistas. O Romário saiu machucado logo no primeiro tempo e foi uma das melhores partidas que eu fiz com a camisa do Flamengo. E tinham 120 mil flamenguistas gritando: ‘ão ão ão, Iranildo é seleção’. Pô, aí foi demais. Foi Flamengo x Corinthians, Campeonato Brasileiro de 98, 4 a 1 para o Flamengo. Depois eu peguei uma sequência boa”, lembra Iranildo.
“O Flamengo foi tudo para mim, em todos os sentidos. Foi a realização de um sonho. Foram cinco anos de Flamengo, e ser reconhecido até hoje pela torcida, receber o carinho da torcida, para mim não tem preço, foi a melhor coisa da minha vida. E o meu ano no Flamengo foi 98, que eu até era para ter sido convocado para a seleção brasileira”, acrescenta.
O FUTURO DE IRANILDO: “TÉCNICO NÃO”
Casado e pai de um casal, Iranildo, que hoje mora no Rio de Janeiro e está aposentado desde 2013, quando se despediu do Brasiliense, já tem planos para o futuro. Porém, destaca: não passa pela sua cabeça virar treinador de futebol. Segundo ele, é ‘muita dor de cabeça’.
VEJA OUTROS TRECHOS DA ENTREVISTA
Saída do Flamengo e chegada ao Brasiliense
Luiz Estevão: “um dos melhores dirigentes”
Foi um dos melhores dirigentes que eu trabalhei. O que ele te prometer, ele cumpre. Comigo ele nunca deixou a desejar em nada, como com todos os atletas. Eu passei oitos anos seguidos campeão no Brasiliense e o Luiz Estevão sempre cumpriu tudo direitinho, sempre. Sempre pagou em dia, inclusive bichos, e foi corretíssimo comigo e com vários jogadores.
O ex-senador está preso desde 2016 cumprindo a pena de 31 anos no Complexo da Papuda por condenação em segunda instância por crimes relacionados às obras do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, nos anos 1990.
Xodó de Joel Santana logo em sua chegada ao Fla
Quando eu cheguei, em 96, eu fui campeão invicto, e eu era o garoto do Joel [risos]. O Papai Joel me colocava sempre no segundo tempo. Eu adoro o papai Joel [risos], ele tinha um carinho por mim.
Saída do Bota para o Fla em 1996: “dormiram no ponto”
[Risos] Ah, o Botafogo naquela época dormiu no ponto. Tinha um acordo de que quando terminasse o meu contrato a prioridade era do Botafogo, mas, como o Botafogo não depositou, o Flamengo do Kleber Leite foi lá e depositou e fez a compra. Aí eu fui para o meu clube de coração, sempre foi o meu sonho [risos].
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