Topo

Adeus dos sonhos de Danilo e Sheik fez Corinthians relevar questões físicas

Sheik corre ao lado de Danilo em passagem anterior pelo Corinthians: última etapa - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians
Sheik corre ao lado de Danilo em passagem anterior pelo Corinthians: última etapa Imagem: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

25/01/2018 12h00

8 minutos do segundo tempo no Pacaembu.

Com a final contra o Boca Juniors empatada no placar agregado, Alex cobra falta da direita, Jorge Henrique desvia, Danilo briga de cabeça e, perspicaz como só ele, passa de calcanhar. Emerson Sheik já está bem posicionado quando ajeita a bola com o peito e rapidamente solta um foguete de pé direito antes de correr para o abraço. Era o gol que daria a primeira Copa Libertadores da história aos corintianos.

Quase seis anos se passaram desde a marcante vitória, uma das várias que a dupla de estilos tão distintos conseguiu com a camisa do Corinthians. Juntos novamente em 2018 e distantes de um cenário de titularidade, Sheik e Danilo foram atendidos pela direção do clube em um objetivo claro: respectivamente aos 39 e aos 38 anos, esperavam pela aposentadoria onde foram mais felizes na carreira. E, mesmo com dificuldades, tentarão ajudar também dentro de campo.

Nas histórias de Danilo e Sheik como membros do elenco de Fábio Carille em 2018, há muito em comum. Como a idade avançada indica, os dois nomes despertaram preocupações da parte física. O meia, em especial, sofreu uma fratura importante há duas temporadas e até hoje não conseguiu treinar e jogar regularmente por várias semanas. Mesmo assim, o Corinthians entendeu que campeões como eles - do Paulista, do Brasileiro, da Libertadores e do Mundial, entre outros - mereciam ser atendidos na ideia de se despedir dos gramados no Parque São Jorge.

Danilo deixou claro que queria seguir jogando

Danilo assina - Divulgação - Divulgação
Danilo assinou com Corinthians no fim de 2009. Nunca mais saiu
Imagem: Divulgação

Em relação à renovação com Danilo, que atuou menos de 45 minutos na temporada passada, a direção do clube buscou subsídios. Médicos e fisioterapeutas do Corinthians foram ouvidos quanto às condições físicas dele atuar em alto nível depois de uma cirurgia delicada. O consultor médico Joaquim Grava, chefe do departamento, chegou a afirmar que o veterano correu risco de amputação, tamanha a gravidade de seu problema.

Nas reuniões, alguns "poréns" foram apresentados. Danilo tinha condições totais de atuar novamente, mas poderia ter muitas dores, alguns problemas musculares e, claro, um rendimento eventualmente inferior ao de um passado recente. Muito dedicado à fisioterapia, o veterano já começa 2018 com dificuldades, e não esteve em campo na Florida Cup por conta de dores. Na última quarta (24), foi relacionado pela primeira vez, mas não atuou.

Para avançar no sentido de uma renovação, o próprio Danilo foi ouvido. Com o título brasileiro já confirmado, o então diretor Flávio Adauto e o treinador Fábio Carille chamaram o meia para uma conversa horas antes de Flamengo 3 x 0 Corinthians. Como eles já esperavam, o veterano foi taxativo, disse que desconsiderava a ideia de aposentadoria e que voltar a jogar com regularidade era seu objetivo, mesmo que com outra camisa. Assim, o salário de aproximadamente R$ 200 mil foi mantido para que ele vestisse a camisa corintiana pela nona temporada seguida.

Os poréns sobre Emerson Sheik, contratado há duas semanas, foram um pouco diferentes. Dentro da comissão técnica, havia dúvidas sobre a condição física dele em render no mesmo nível de antes, agora já com 39 anos. Quando conversas sobre o jogador surgiram ao longo de 2017, esse motivo foi determinante para que o atacante não tivesse o nome aprovado para um retorno naquele momento. Assim, optou por defender a Ponte Preta.

Um fator que dificulta a incorporação de Sheik nesse momento é a apresentação ao grupo com duas semanas de pré-temporada em andamento. Por isso, com um contrato curto em vigor, válido somente até o fim de junho, Emerson ainda aprimora sua condição. Sem histórico de lesões importantes, tem trabalhado eventualmente em dois períodos e a tendência é que faça sua reestreia no começo de fevereiro.

Danilo e Sheik sensibilizam dirigentes de maneiras distintas

Sheik assina - Daniel Augusto Jr./Corinthians - Daniel Augusto Jr./Corinthians
Imagem: Daniel Augusto Jr./Corinthians

Muito diferente de Danilo no dia a dia, Sheik sempre despertou amor e um pouco de ódio nos bastidores do Corinthians. Nas duas passagens, teve momentos de alto nível de dedicação e rendimento e outros de atrasos em atividades e passagens mais longas pelo departamento médico. Quem trabalhou com Emerson no CT Joaquim Grava costuma dizer que ele é mais amigo de dirigentes e comissão técnica que dos companheiros. Mesmo assim, no vestiário, sempre teve grande aceitação dos colegas.

Ao retornar para a pré-temporada de 2018, chamou a atenção de funcionários pelos sorrisos dos jogadores com sua volta ao clube. Querido pelo presidente Roberto de Andrade e pelo candidato e ex-mandatário Andrés Sanchez, foi saudado até pela cozinheira do CT. Com uma personalidade considerada agradável, sempre manteve as portas abertas com muitos no Corinthians. A amizade com Fábio Carille desde seus tempos de auxiliar foi fortalecida em 2017 com trocas de mensagens e cumprimentos pelo êxito do colega no primeiro ano como treinador.

Falar sobre a relação com Sanchez, porém, é inevitável. Sheik é amigo do homem mais influente do Corinthians nos últimos dez anos. A relação transcende as fronteiras do futebol, a ponto de aproximar famílias em festas de fim de ano. Os dois também são sócios em uma franquia do Restaurante Paris 6 e, durante sua gestão, o então presidente Mário Gobbi chegou a acusar o antecessor de agir nos bastidores para atrapalhar os planos para que Emerson fosse dispensado - ele acabou negociado com o Botafogo.

Danilo, um homem muito mais pacato que Emerson, é reconhecido por seu esforço, histórico e simplicidade. Quando o contrato com o Corinthians foi acordado em novembro, Carille anunciou em primeira mão aos jogadores no vestiário da Ilha do Urubu e o grupo aplaudiu, com louvor, a permanência do veterano de 38 anos.

Desde a temporada de 2013, Danilo viveu sob desconfianças de que deixaria o Corinthians por queda de rendimento. Os treinadores, porém, sempre foram aliados. Mano Menezes, primeiro, viu na sequência do veterano um fator importante em ano de reformulação. Depois, Tite, que nunca escondeu sua admiração pela frieza do jogador, o usou adaptado para atuar como centroavante.

É impossível assegurar, mas as chances de uma saída de Danilo ao fim de 2016 eram grandes até que uma grave lesão no dia 30 de agosto praticamente obrigasse o clube a renovar. Naquele momento, parte da direção estava convicta de que ele, que já havia rejeitado ofertas de Santos e Botafogo, deveria seguir seu caminho.

Desde então, pesaram a gratidão e o reconhecimento àquele que ainda é o mais velho a vestir a camisa corintiana. Até Sheik, em breve, fazer sua terceira estreia pelo clube e passar à frente de Danilo.