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Quem é o atacante acusado de nazista que rouba manchetes de Messi e CR7

Roman Zozulya em ação pela seleção ucraniana  - Dennis Grombkowski/Getty Images
Roman Zozulya em ação pela seleção ucraniana Imagem: Dennis Grombkowski/Getty Images

Marcus Alves

Colaboração para o UOL, em Lisboa (Portugal)

26/11/2017 04h00

Berço do craque Iniesta, o Albacete era uma figurinha carimbada na Liga Espanhola nos anos 90 e hoje tenta se reerguer na segunda divisão local.

No início do mês, o time, que possuía a família do meia do Barça entre seus acionistas até pouco tempo atrás, foi visitar o Rayo Vallecano. A sua lista de relacionados, no entanto, provocou controvérsia por um motivo: a ausência do atacante Roman Zozulya. A versão oficial é de que se tratou de uma decisão técnica, que acabou evitando que o ucraniano viajasse até Madri e provocasse uma confusão gigantesca com a torcida local.

Com os seus direitos federativos vinculados ao Bétis, Zozulya havia sido emprestado ao Rayo em 31 de janeiro, porém, não durou 15 horas no clube. Ele foi ‘expulso’ pelos torcedores sob a acusação de ser neonazista e fascista.

Mais do que Messi, Cristiano Ronaldo ou qualquer outro, o atleta de 28 anos está por trás de uma discussão que mobiliza a todos na Espanha, incluindo do Ministro de Negócios Estrangeiros à embaixada ucraniana no país e chegando a acusações de influência russa na divulgação de ‘fake news’ (em português, notícias falsas).

Não seria exagero dizer que a carreira de Zozulya esteve ameaçada fora de seu país.

Devolvido pelo Rayo Vallecano ao Bétis após protestos que mobilizaram três viaturas policiais e contaram com faixas dizendo “Vallecas não é lugar para nazis”, ele foi obrigado a ficar sem jogar todo o restante do primeiro semestre por já ter sido inscrito por dois clubes espanhóis. Surgiu, então, o interesse vindo do futebol sueco, mas a suposta fama freou as conversas. O ex-atacante Shevchenko, atual técnico da seleção ucraniana, saiu em sua defesa “indignado”.

Zozulya nega qualquer ligação com o regime neonazista e tem a sua postura corroborada por ex-colegas.

Roman Zozulya  - Laurence Griffiths/Getty Images - Laurence Griffiths/Getty Images
Roman Zozulya em disputa de bola com a camisa da seleção ucraniana
Imagem: Laurence Griffiths/Getty Images
“O relacionamento com ele era muito bom, ele tinha uma liderança muito forte no time por ser um dos principais jogadores, da seleção ucraniana e era fundamental para a gente. Sempre se deu muito bem com todos, não havia problema com ninguém”, conta o zagueiro Douglas, emprestado pelo São Paulo à Chapecoense, em entrevista ao UOL Esporte.

“Ele é um jogador de muita personalidade, tem uma personalidade muito forte. E, claro, quando começaram os conflitos na Ucrânia, ele, por ser muito nacionalista, fazia de tudo para poder ajudar no que podia. Vi diversas vezes ajudando ao arrecadar dinheiro com outros jogadores e doou até ambulância”, prossegue. “O que posso falar é que sempre foi grande patriota, fez e faz de tudo para defender da melhor forma possível o seu país. Acredito que deve ter sido mal interpretado. Espero que as coisas se resolvam porque ele é uma boa pessoa e não merece estar passando por esse problema. É um cara que ama e defende o seu país”, completa.

Douglas atuou ao lado de Zozulya no Dnipro entre 2013 e 2016. Foi exatamente neste período que estourou o conflito entre Rússia e Ucrânia, com a região que moravam, a terceira maior do país, se tornando base para a operação militar que tenta recuperar a parte de seu território ocupada por rebeldes.

A estrela ucraniana nunca se furtou de suas responsabilidades e teve papel fundamental na fundação da organização militar Narodna Armiya (em português, Exército do Povo), foi exaltado publicamente pelo Serviço de Inteligência local ao doar um drone para “salvar a vida de nossos soldados” e ainda leiloou a sua medalha de vice-campeão da Liga Europa em 2015 para ajudar a família de combatentes.

Ao desembarcar vindo do Dnipro para o Bétis em 2016, Zozulya vestia uma camiseta com um símbolo ucraniano que, segundo explicado por ele ao deixar o Rayo Vallecano, foi interpretado de forma equivocada por parte da imprensa como sendo do Batalhão Azov, grupo de extrema direita a quem tanto o atacante quanto a Narodna Armiya garantem não ter qualquer ligação.

Os seus compatriotas ainda culpam os veículos estatais russos de fazer campanha de desinformação para vincular o nacionalismo ucraniano à ideologia neonazista.

O ministro do Exterior Pavlo Klimkin disse através de sua conta no Twitter que Zozulya é “um exemplo de como a propaganda russa pode manipular todos os lados”. Pablo Iglesias, secretário geral do Podemos, partido populista que ganha espaço na Espanha, rebateu, por sua vez, ao dizer que o jogador é, sim, neonazista e que os torcedores do Rayo Vallecano agiram muito bem.

Com quatro gols em 11 jogos na atual temporada, Zozulya refutou todas as acusações recebidas até aqui.