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O que aconteceu para Mourinho virar o jogo contra Guardiola em Manchester

Reuters / Darren Staples
Imagem: Reuters / Darren Staples

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

20/01/2017 04h00

A cidade de Manchester, no norte da Inglaterra, vive, atualmente, um dos maiores duelos técnicos e táticos do planeta. José Mourinho e Pep Guardiola disputam, ponto a ponto, o posto de número 1 de uma das cidades mais importantes do futebol mundial. E, nas últimas semanas, o português tem virado o jogo contra o espanhol.

Não que a temporada do United, o time de Mourinho, seja espetacular. Mas a equipe que já esteve dez pontos atrás do rival na tabela do Campeonato Inglês hoje está a uma vitória de superá-lo. Mais ainda, Mourinho e sua equipe não perdem há 12 partidas, melhor série atual da competição.

Enquanto isso, no mesmo período, o City caiu muito de rendimento. Perdeu a liderança do torneio e caiu para o quinto lugar. Perdeu quatro partidas, incluindo a goleada do Everton na última rodada, por 4 a 0. E perdeu, principalmente, o rumo em relação ao futuro, com o trabalho de Guardiola (e até sua linguagem corporal) sendo questionada por imprensa e torcedores.

Mas o que aconteceu em dois meses para essa reviravolta?

United agora tem o seu trio de estrelas

Quando Mourinho atingiu o ponto mais baixo de sua temporada, em outubro (quando perdeu por 4 a 0 para o Chelsea), seu time estava um caos. Ele não sabia quem eram seus zagueiros e seu trio de estrelas era ineficiente.

Pogba, maior contratação para a temporada, era testado em várias funções do meio-campo e não funcionava em nenhuma delas. Ibrahimovic, autoproclamado o melhor do mundo, vivia uma seca de seis rodadas sem marcar (incluindo Copa da Liga e Liga Europa, foram 12 jogos só com um gol). E o armênio Mkhitaryan ainda lutava para entrar em forma e convencer o português a escalá-lo.

Em dois meses, Pogba encontrou seu lugar com a camisa vermelha – foram dois gols e três assistências nos últimos dois meses. Ibra voltou a balançar as redes – oito gols desde o início de dezembro. E, principalmente, Mkhitaryan se encontrou. Jogando pelos lados do campo, ele tem sido importantíssimo para a equipe. Em dezembro, foram três jogos seguidos marcando gols, incluindo o golaço de calcanhar contra o Sunderland, pelo Campeonato Inglês.

Além disso, Mourinho, sempre conhecido pela solidez defensiva de suas equipes, finalmente achou sua zaga ideal. Fixando o argentino Rojo e o inglês Phil Jones como sua dupla titular, foram apenas cinco gols sofridos nos últimos 11 jogos. Não parece tão impressionante, mas é bom lembrar que esse é o mesmo time que abriu a temporada levando 11 gols nos primeiros 11 jogos...

Guardiola perdido na defesa

A defesa também é um problema no lado azul de Manchester. E um problema gigante. Usando os mesmos 11 jogos como comparação, foram 16 gols sofridos pelo time de Guardiola. Nessa sequência, o time levou 3 a 1 do Chelsea, 4 a 2 do Leicester e 4 a 0 do Everton – a quarta derrota foi o 1 a 0 para o Liverpool.

A culpa, para a imprensa inglesa, tem sido colocada em dois jogadores. O mais criticado tem sido o goleiro Claudio Bravo, chamado de pior goleiro da Inglaterra. Os números, convenhamos, não ajudam. O goleiro do City tomou 14 gols nos últimos 22 chutes que foram em sua direção.

O outro mártir é o zagueiro Stones, que já foi considerado o futuro entre os defensores ingleses e hoje é questionado. "Ele tem 22 anos e jogou mais de 100 partidas na Premier League. E todos continuam dizendo que ele será um grande jogador. Mas o que eu vejo é que ele continua cometendo erros atrás de erros", disse o ex-atacante Alan Sheares na BBC após os 4 a 0 para o Everton.

Parte da explicação para isso, usando também uma teoria adorada pela imprensa inglesa, deve ser a filosofia Guardiola de defender. Quando chegou ao Manchester City, ele anunciou que buscava jogadores que sabiam sair com a bola. Ou seja: em sua busca por reforços, privilegiou defensores habilidosos, em detrimento daqueles com maior capacidade de, realmente, defender.

Bravo entrou nesse pacote, já que tinha capacidade de iniciar as jogadas com os pés (mas, pelo menos na Inglaterra, fica abaixo da média quando o assunto é defender as bolas que vão para o gol). Stones, pelo visto, também. As improvisações de Guardiola em seu miolo de zaga também mostram isso. Os laterais Kolarov e Clichy já foram usados no centro da defesa, assim como o brasileiro Fernandinho. Nenhum deles deu muito certo.

Tudo isso faz com que o trabalho ofensivo de Guardiola, que tem funcionado, acabe em segundo plano. Lembra daquela sequência de 16 gols sofridos nos últimos 11 jogos? O City marcou 20 gols nessas partidas. Entre os sete primeiros colocados da Premier League, o time é dono da pior defesa, com 26 gols sofridos nas 21 partidas da competição – é a pior defesa entre times que mais venceram do que perderam no Inglês.

O resultado disso são as críticas cada vez mais inusitadas que Guardiola vem recebendo. Sua decisão de trocar Joe Hart, emprestado ao Torino, da Itália, por Bravo já virou piada. Desde segunda-feira, até mesmo sua postura corporal está sendo questionada. Fotos de suas reações contra o Everton viraram memes e ele perdeu algumas vezes a paciência com repórteres durante a temporada.

Pensando nisso, a defesa deve contar com investimentos no City ainda nesta janela de transferência – que termina, para a Inglaterra, em 31 de janeiro. O clube já esteve envolvido em rumores sobre as chegadas do holandês Van Dijk, do Southampton, e do alemão Badstuber, do Bayern de Munique.