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Ele brilhou como "carrasco" do SP na Copinha e hoje trabalha com pizzas

Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook

Juliana Alencar e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

20/01/2016 06h00

Os 22 anos que se passaram desde a final da Copa São Paulo até hoje não foram suficientes para que Pitarelli, herói do título do Guarani sobre o São Paulo, se esquecesse de detalhes da partida. O 1 a 1 que levou a disputa para os pênaltis está tão vivo na memória do ex-goleiro quanto às cobranças defendidas por ele. 

Mas Pitarelli, hoje com 40 anos, não gosta de se vangloriar do feito, até hoje lembrado pela torcida bugrina. "Ninguém me julgava como pegador de pênaltis, até porque ninguém é pegador de pênaltis. Eu tinha altura privilegiada, uma envergadura boa. Então se eu acertasse o canto eu teria grande chance de pegar", explica ele, minimizando um pouco o fato de ter pegado os chutes de Jamelli, Douglas e Nem. "Não existe goleiro que vai na bola, ele vai num canto. Tendo agilidade, reflexo rápido, ele consegue pegar o pênalti.”

Joia da base, Pitarelli havia chegado ao Guarani em 1990, com 15 anos. Fez parte do clube numa época profícua, quando a base do time campineiro revelou nomes como Luizão e Amoroso. Na final de 1994, no entanto, o São Paulo era tido como franco favorito. "Eles tinham jogadores mais conhecidos, que atuaram no time profissional e vinham do título de 93", explica o arqueiro. "Mas a gente sabia que podia vencer".

Pitarelli revira mais um pouco a própria memória e cita como uma reportagem de um jornal de Campinas serviu de motivação para o elenco do Guarani no dia da decisão. "Dizia assim a manchete: 'Missão quase impossível'. Pô, aquilo lá mexeu bastante com a gente. Falamos: 'vamos ganhar isso aqui'", conta.

"Hoje tem moleque que ganha R$ 30, 40 mil reais na base, na minha época a gente ganhava nem metade de um salário mínimo, era uma ajuda de custo e uma passagem por mês para ir para a casa dos pais. Não tinha nem como ser exibido, era outro tempo, nada a ver com o que é hoje.”

Escolhas equivocadas

A final da Copinha foi, talvez, um dos capítulos mais importantes da carreira de Pitarelli. Depois que saiu do Guarani, em 1999, não conseguiu ser tão decisivo nos clubes que defendeu. Ele se arrepende especialmente de ter saído do Santos em 2002, quando recebeu uma proposta do Gama. 

"Saí porque eu quis. O Santos estava numa crise financeira danada na época, queriam reduzir o meu salário e eu não aceitei", lamenta. "Na época, o Leão ainda tentou me convencer a ficar. É a única coisa de que eu me arrependo no futebol. Deveria ter ficado, até porque o Santos foi campeão brasileiro naquele ano, com a molecada jogando". 

Escolha feita, não se estabeleceu no clube do Distrito Federal e acabou parando no futebol português. Uma cirurgia do joelho da qual demorou a se recuperar fez com que o retorno ao futebol brasileiro fosse pouco glorioso. "Saí do mercado e a carreira regrediu", recorda-se.  "Mas ainda fui campeão brasileiro da Série C pelo União Barbarense, e encerrei a carreira em 2011, na Santacruzense."

Aposentado, Pitarelli vive de um negócio próprio, uma franquia de pizzas pré-assadas, em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. Conta que a vida se encarregou sozinha de tirar a importância do futebol no seu dia a dia. "É difícil eu ver  jogo até na televisão, eu não sei explicar o porquê. Sou um ex-jogador mais desligado do futebol que existe", diz, franco.

Mas até mesmo por momentos mágicos vividos por causa do esporte - como o título da Copinha e a marca que deixou na torcida do Guarani  -, não descarta retornar à antiga paixão.  "Hoje eu seria gerente de futebol", comenta.