Topo

Amigos de sambista morto em chacina espalham na rede: "#Elenãoerabandido"

Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

22/04/2015 06h00Atualizada em 24/04/2015 15h21

"Mydras Schmidt, não vamos deixar que manchem a sua história. Descanse em paz. #‎Mydrasnãoerabandido. #‎Elenãoerabandido". Mensagens como esta estão sendo replicadas sem parar nas redes sociais desde a noite do dia 18 de abril, quando o sambista Mydras Schimidt, junto com mais sete pessoas, foi assassinado na sede da torcida organizada do Corinthians Pavilhão Nove.

Poucas horas depois de o crime acontecer, policiais envolvidos nas investigações afirmaram que as vítimas "tinham passagem na polícia por tráfico de drogas". Aqueles que conheciam Mydras, porém, não acreditam que o ex-sambista era envolvido com o mundo do crime, e não estão dispostos a deixar que esta versão sobre a vítima seja a predominante na memória de quem o conheceu, pessoalmente ou só de ouvir falar. Conforme mostrou reportagem da Folha de S. Paulo na última segunda-feira, Mydras apenas tinha passagem pela polícia por roubo, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública de SP.

Schmidt era conhecido no mundo do samba paulistano. Compôs sambas enredos que foram defendidos na avenida - muitas vezes por ele mesmo - por três escolas de samba: Unidos do Peruche, Barroca Zona Sul e Pérola Negra.

Esta última, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, era a escola do coração do sambista assassinado. Junto com o parceiro e amigo Rodrigo Bola, Schmidt compôs os sambas da Pérola dos anos de 2000, 2003, 2006, 2007, 2009, 2010, 2011, 2012 e 2013. "Todo mundo gostava dele, pela sua alegria, pela sua humildade, pelo sue talento", afirma Rodrigo Bola, com quem também compôs o samba da Unidos do Peruche do Carnaval deste ano.

"Ele andava de moto, fazia entrega, serviço de motoboy. Cantava na noite, recebia um dinheiro quando tinha um samba escolhido. Tudo para sustentar a familia, a mulher e dois filhos. Estava agora trabalhando mais porque queria pagar uma festa de cinco anos para a filha mais velha. Nunca que era bandido, traficante, na disso. Ele vivia do seu trabalho e da sua música", afirma Bola, de 38 anos, os últimos 20 de amizade próxima com o corintiano-sambista assassinado.

Para Edilson Casal, que foi presidente da Pérola Negra por dez anos (até 2014), "não existe a menor chance dele ser bandido". "Mas nenhuma chance. Quem o conhecia, sempre trabalhando, batalhando para dar as coisas para os filhos, sabe do absurdo que significa falar uma coisa dessas", diz o sambista, que completa: "Quem foi ao seu enterro, viu o quanto ele era querido, uma pessoa do bem".

No enterro, compareceram ao velório amigos, familiares, torcedores e sambistas, que rezaram a oração do Pai Nosso, puxaram aplausos, cantaram canções escritas por Schmidt e hinos do time de futebol


MYDRAS SCHIMIDT NA AVENIDA COM A UNIDOS DO PERUCHE NO CARNAVAL 2015