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Anel custou corte de ex-zagueiro na seleção e deixou sequela até hoje

Zagueiro Ronaldo Guiaro, ao ser apresentado como jogador do Santos em 2006 - Almeida Rocha / Folha Imagem
Zagueiro Ronaldo Guiaro, ao ser apresentado como jogador do Santos em 2006 Imagem: Almeida Rocha / Folha Imagem

José Ricardo Leite e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

16/10/2014 06h00

Ainda que amargue um período de críticas e trauma pelo 7 a 1, a seleção brasileira continua como um dos maiores sonhos para qualquer jogador formado no país. Se hoje receber um chamado continua sendo motivo de orgulho, imagine então quando o país era o atual campeão mundial e tinha um prestígio muito maior internacionalmente.

Pior é ser chamado para o selecionado nacional e ter que recusar a convocação por algum tipo de problema. As contusões são os motivos mais frequentes que impossibilitam atender o chamado. Mas um ex-jogador teve a infelicidade de ter que abdicar momentaneamente do sonho por uma lesão de causa totalmente atípica. A aliança de noivado foi a culpada pela baixa no time verde e amarelo.

Quem vivenciou isso foi o ex-zagueiro Ronaldo Guiaro, que passou por Guarani, Atlético-MG, Santos e fez grande parte da sua carreira no futebol português, ao atuar por seis anos no Benfica. O defensor foi titular da seleção brasileira medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 1996, quando formou dupla de zaga com Aldair.

Antes da Olimpíada, Ronaldo disputava uma das três vagas para a zaga em jogos preparatórios. E não pôde servir a seleção em sua primeira convocação por ter prendido sua aliança de noivado em um dos ganchos das traves durante um treinamento do Atlético-MG. Ao se pendurar no travessão e agarrá-lo com as mãos, o anel enroscou no gancho e adentrou em seu dedo, que tem fortes cicatrizes até hoje.

Ronaldo teve não só que deixar de atender o chamado para um jogo contra a Croácia como ficar por quase um mês fora do futebol por conta das três cirurgias que fez na mão direita.

“Quando coloquei as mãos no travessão, fiquei pendurado e não descia mais. O Hugo, goleiro, foi me ajudar. Na hora que olhei pra minha mão já tinha mais da metade da aliança, que estava dentro do meu dedo. Metade do dedo estava comido e o médico fez uma proteção para o sangramento parar; fui logo direto para o hospital”, lembrou.

“Tive que fazer enxerto e ficou sequelas. Isso aconteceu num sábado e na terça tinha convocação para a seleção. Foi a primeira vez que fui convocado e tive que assistir deitado na cama do hospital. Acabei convocado mesmo assim porque ninguém sabia o que tinha acontecido comigo. Depois acabei cortado”, prosseguiu.

Ronaldo é casado até hoje com aquela que era sua noiva e hoje é sua mulher, Juliana. Mas, depois disso, nem precisou dar tantas explicações pra ela para tomar a decisão de nunca mais jogar de aliança. E quando vê alguém com o objeto nos dedos praticando esporte, já se apressa para dar um recado e tentar evitar percalços.

“Não, nunca mais joguei de aliança. Até hoje não uso se estou jogando. Por mim não usaria mais, e até hoje se vejo alguém treinando ou jogando com anel eu falo pra tirar e mostro a minha mão e conto o que aconteceu”, salientou.

O defensor acabou tendo outra oportunidade no amistoso seguinte, contra Polônia, foi titular e carimbou seu passaporte para a Olimpíada. Lamenta até hoje a derrota para a Nigéria, nas semifinais, que impediu a chance do até hoje inédito ouro olímpico. A equipe comandada por Zagallo tinha nomes como o goleiro Dida, o zagueiro Aldair e os atacantes Ronaldo, Bebeto e Rivaldo.

“Estava tudo certo pra sermos campeões. O jogo contra a Nigéria foi atípico. Usaram o gol de ouro naquela prorrogação e depois nunca mais. Foi uma das coisas que nos prejudicou, pois o jogo estava nas nossas mãos. Estávamos ganhando de 3 a 1, com o jogo controlado e levamos dois gols por erros nossos. Se a prorrogação continuasse, iríamos conseguir virar”, comentou, ao lembrar a derrota por 4 a 3.

Depois de deixar o Benfica, em 2001, o ex-zagueiro foi jogar no futebol turco, no Besiktas. Conquistou o título nacional no ano do centenário de seu clube e formou dupla brasileira com Antônio Carlos Zago. Depois, se reencontraram no Santos, time pelo qual conquistou o Campeonato Paulista de 2006.

Ronaldo Guiaro hoje vive em Piracicaba e chegou a trabalhar como dono de uma empresa de eventos. Mas quer voltar ao futebol na função de treinador. Para isso, fez cursos da CBF e da Federação Paulista. Mas ainda aguarda oportunidade. “Agora estou procurando emprego. É uma dificuldade muito maior do que quando jogador que busca trabalho. Mas espero algo para seguir no futebol.”

Mão de Ronaldo Guiaro com dedo com cicatriz onde usava aliança - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal