Topo

Lucas diz que está mais confiante. E ele prova isso com jogada de Maradona

Fernando Duarte

Do UOL, em Paris (França)

03/03/2014 16h58

Lucas arrancou do campo de defesa, passou por diversos marcadores, driblou o goleiro e só não fez o gol porque o zagueiro tirou a bola em cima da linha. O lance antológico aconteceu neste domingo, na vitória de 2 a 0 do PSG sobre o Olympique de Marselha, e mostra um Lucas bem mais confiante e satisfeito em meio ao elenco milionário de estrelas da equipe parisiense.

Dois dias antes da partida, Lucas recebeu a reportagem do UOL Esporte em seu apartamento nos arredores de Paris para uma conversa exclusiva  na qual revelou sua disposição para arriscar mais lances “brasileiros” em sua primeira temporada completa no futebol europeu (ele foi contratado em janeiro do ano passado).

Em busca de uma adaptação rápida aos rigores físicos e táticos que mesmo na França se mostram num nível muito acima do brasileiro, Lucas se submeteu a uma rotina de aprendizado que incluiu o sacrifício de uma postura mais ofensiva em favor de maior participação na marcação e desarmes. Tudo isso ao mesmo tempo em que precisava lidar com a mudança radical de São Paulo para a França.

Apesar de estar cercado de caras conhecidas em casa – a mãe, Fátima, vive com ele e a casa está sempre com amigos e parentes do Brasil para fazer companhia -, no campo Lucas precisou buscar a afirmação sozinho, com o peso de uma das maiores transferências da história do futebol brasileiro nos ombros.

A rapidez desejada esbarrou nos planos do então treinador do PSG, o italiano Carlo Ancelotti. Lucas disputou apenas 15 partidas pelo clube no meio de temporada que pegou e ainda teve o ritmo atrapalhado por lesões. Uma combinação que ajudou a encurtar seu espaço na seleção brasileira. Fora das últimas convocações de Luiz Felipe Scolari, o jogador ainda mantém a esperança de estar no grupo da Copa do Mundo, especialmente depois de uma subida de produção nos últimos meses – na atual temporada, apenas o sueco Zlatan Ibrahimovic tem mais assistências que o brasileiro. Leia a entrevista:

UOL Esporte -  Depois de uma primeira temporada de aprendizado você parece finalmente estar se encontrando no PSG. Como se sente?
Lucas - Minha primeira temporada foi de aprendizado e ainda tive uma sequência de lesões, algo que nunca havia acontecido na minha carreira. Houve mudanças no clube no final da última temporada e a chegada de um novo treinador e de novos jogadores. Perdi um pouco de espaço e acabei saindo da seleção também. Mas mantive minha cabeça fria e as oportunidades começaram a aparecer. Estou evoluindo bastante, já percebi muita melhora no meu jogo, na movimentação e na marcação. As pessoas gostam de mim no clube e estou feliz em Paris.

UOL Esporte -  Em qual momento você sentiu que as coisas começaram a mudar?
Lucas - Tanto o Ancelotti quanto o atual treinador (o francês Laurent Blanc) cobram muito a parte tática, eu não fico tão livre como no Brasil, onde podia rodar o campo inteiro. Aqui eu fico um pouco mais preso do lado direito, para fazer a marcação na passagem do lateral. Tive que amadurecer e aprender para aproveitar as oportunidades que surgissem. Eu sei da minha capacidade e isso me ajuda.

UOL Esporte -  O Marquinhos há alguns meses elogiou sua postura de não “fazer beicinho” por ter ficado fora das convocações do Felipão. Qual foi sua maneira de lidar com a perda de espaço?
Lucas -
Quem me conhece sabe que meu espírito foi estar de cabeça erguida e tentar ser feliz. Claro que algumas situações te desanimam. Não ser convocado tão perto de uma Copa do Mundo chateia qualquer um, mas tentei encarar como algo para me motivar a trabalhar ainda mais. A vida às vezes te apresenta situações para você ligar o sinal de alerta, para se doar um pouquinho mais. A gente precisa provar cada dia mais. Nunca baixei a cabeça, porque vou precisar fazer o meu melhor para chegar à seleção.

UOL Esporte - Sua chegada ao PSG causou muito interesse por conta do investimento feito pelo clube e o sueco Zlatan Ibrahimovic até brincou um pouco com isso na imprensa. Agora você virou o melhor “garçom” dele em campo...
Lucas -
Foi natural que o aumento da minha confiança fizesse as pessoas me olharem um pouco diferente. Mas sempre tive apoio dos meus companheiros. Os brasileiros são muito unidos. Quando as coisas começam a dar certo, tudo melhora. O Ibra sempre foi muito legal comigo. Temos uma amizade muito bacana e é engraçado como ele se transforma dentro do campo. O espírito de luta dele é impressionante. Ele às vezes extravasa. Dia desses a gente discutiu num jogo porque dei um passe errado, mas depois botei ele na cara do gol com um passe e aí ele veio todo sorridente (risos).

UOL Esporte - Você hoje se sente um jogador taticamente mais preparado que há um ano, daqueles que pode funcionar mais para o conjunto?
Lucas -
Sem dúvida. Muito mais pronto para ajudar a equipe. Eu ainda quero fazer golaço, mas também fiquei satisfeito por conseguir ser mais útil no conjunto.

UOL Esporte - O quão verdadeiros foram os rumores  de que você voltaria ao Brasil para tentar ‘’aparecer” mais?
Lucas -
Não passou pela minha cabeça. As pessoas falam como se fosse uma garantia, como se jogar no Brasil fosse me garantir na seleção. Meu pensamento está na Europa, ainda tenho muita coisa para conquistar aqui ainda. Meu pai diz que a gente não pode sair correndo para casa quando tem a primeira dor de cabeça. Minha carreira ainda está no início, tenho muito a aprender na Europa ainda, tanto profissionalmente quanto pessoalmente.

UOL Esporte - Com toda a sinceridade: quando você olha o calendário, como fica a ansiedade com a proximidade da Copa?
Lucas -
Tenho que confiar no meu trabalho e na vontade de Deus. A comissão técnica da seleção acompanha, sabe do que posso fazer. Tenho certeza que o Felipão está sempre observando. É diferente de outubro, quando não estava jogando, o futebol é momento e estou numa boa sequencia de jogos. Esta Copa é um sonho que vou manter até o final.