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Ao menos um crime foi cometido no caso Lusa. E o MP diz que pode provar

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

06/02/2014 06h00

A investigação que o Ministério Público de São Paulo realiza sobre a última rodada do Campeonato Brasileiro de 2013 já identificou pelo menos um crime. O teor e o autor da infração, contudo, ainda são mantidos em sigilo.

“Consegui uma prova documental de que um crime foi cometido. Eu já poderia até oferecer denúncia, mas ainda estamos estudando todos os pontos do caso para entender exatamente o que aconteceu”, disse Roberto Senise Lisboa, promotor da Promotoria do Consumidor.

A Promotoria do Consumidor tem feito desde o início de 2014 uma investigação sobre o que levou a Portuguesa a escalar o meio-campista Heverton na última rodada do Brasileiro, em empate sem gols contra o Grêmio. O STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) considerou que o jogador estava em situação irregular e por isso tirou quatro pontos da equipe rubro-verde, que então foi rebaixada à segunda divisão nacional.

Heverton havia sido expulso em jogo contra o Bahia e cumprido suspensão automática diante da Ponte Preta. No entanto, ele foi julgado pelo STJD na sexta-feira que precedeu o embate com o Grêmio. Pegou duas partidas.

Senise Lisboa já ouviu mais de 12 pessoas ligadas ao caso para tentar entender por que o jogador foi colocado em campo – Heverton entrou no lugar de Wanderson aos 32min do segundo tempo. Além disso, o promotor tem analisado e-mails e documentos.

O advogado Oswaldo Sestário, que representou a Portuguesa no STJD, disse à promotoria que ligou para a diretoria rubro-verde e avisou sobre a suspensão de Heverton. Pessoas que trabalhavam no clube paulista contestam isso.

A preocupação da Promotoria do Consumidor é saber se alguém teve vantagem ilícita na escalação de Heverton. Senise Lisboa já chegou a dizer que “há fortes indícios” de que alguém se beneficiou.

Por causa disso, o promotor também pediu quebra de sigilos telefônicos e bancários dos personagens envolvidos no caso. Ele já começou a analisar a relação de ligações telefônicas.

“O que importa aí não é apenas saber se o Sestário ligou ou não ligou para a Portuguesa. Estamos fazendo uma análise mais ampla e demorada para saber se retiramos algum indício a mais”, explicou Senise Lisboa.

A investigação tem analisado até a imobiliária de Manuel da Lupa, ex-presidente da Portuguesa, e empréstimos feitos pelo clube no banco Banif. Como a equipe do Canindé não tinha acesso a crédito, o então mandatário e Luis Iaúca, que ocupava a vice-presidência de futebol, pegaram dinheiro no nome deles.

Em janeiro de 2013, o Banif moveu ações civis para cobrar um total de R$ 43 milhões desses empréstimos. Da Lupa e Iaúca foram diretamente responsabilizados – a imobiliária do então presidente, por exemplo, está proibida de fazer negócios.

“Eu estou em uma zona cinzenta. Então, estou reunindo informações de todos os lados para tentar juntar as peças”, afirmou Senise Lisboa. O promotor tem mantido sigilo sobre os próximos passos da investigação.

A investigação sobre responsáveis pela escalação de Heverton é apenas um dos pontos do inquérito no MP-SP. A Promotoria do Consumidor também avaliou o dispositivo usado para punir a Portuguesa.

O entendimento do MP-SP é que o artigo 133 do CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva), que foi usado na condenação, foi revogado em 2010 pelo Estatuto do Torcedor. A Promotoria do Consumidor chamou a CBF para assinar um TAC (termo de ajustamento de conduta) e rever a punição, mas a entidade se recusou. Na próxima segunda-feira, Senise Lisboa deve entrar com uma ação civil pública sobre o caso.