Necessário, Aidar quer achar 'novo Juvenal' se assumir o São Paulo
Carlos Miguel Aidar saiu do Morumbi no início da madrugada de quinta-feira, depois de assistir à vitória do São Paulo por 6 a 3 sobre o Rio Claro, ao lado de outros membros da diretoria, e trabalhou até as 3h30 revisando documentos para seu escritório de advocacia. Às 7h, pouco depois, acordou para uma sessão de fisioterapia – trata dores nas costas, três vezes por semana, decorrentes de uma queda. Antes do almoço, cuidou de outros assuntos profissionais, para à tarde visitar a redação do UOL Esporte. Alguma pressa e dificuldade para acertar a agenda. No calendário eletrônico do celular que ele mostra estão também os compromissos como candidato à presidência do São Paulo: no início da noite, foi ao encontro de Juvenal Juvêncio para uma reunião sobre o paralisado projeto de cobertura do Morumbi. Juvenal, que foi cria de Aidar, hoje vira criador. Para que a história e o sucesso se repitam, Aidar tenta encontrar um novo Juvenal Juvêncio para ter a seu lado caso seja eleito em abril de 2014.
Aidar tem ideais semelhantes aos de Juvenal Juvêncio. A diferença está nos meios. Visto como um conservador em uma versão mais moderna, ele se descreve como empreendedor e chegou ao pleito de 2014 com projetos ousados para o futebol do São Paulo. Aos 67 anos, ele é pai de três filhas e tem carreira de sucesso como advogado – presidiu a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) na capital paulista e atualmente defende a CBF para tentar manter a decisão do STJD sobre o Brasileirão de 2013. No futebol, foi o presidente mais novo da história do São Paulo, eleito aos 36 anos, governou entre 1984 e 1988, criou dirigentes como Juvenal Juvêncio – mais velho que ele – e foi o principal idealizador do Clube dos 13, que tirou da entidade máxima o controle sobre a liga do futebol brasileiro.
As diferenças entre Carlos Miguel Aidar e Juvenal Juvêncio são nítidas. O próprio candidato de situação se sente à vontade para dizer que é “completamente diferente” do atual presidente. Diz que Juvenal aceita suas ideias e modo de gestão porque ele é o candidato necessário, a escolha segura. Para que a situação se elegesse e se mantivesse forte frente à oposição de Kalil Rocha Abdalla e Marco Aurélio Cunha, Juvenal Juvêncio fez uma manobra política interna em seu grupo e até se indispôs com o vice-presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, que esperava a nomeação para concorrer, assim como aguardou em 2011.
E apesar das diferenças, Aidar quer um novo Juvenal. A dupla se conheceu em 1983. Antes, Juvenal Juvêncio havia sido dirigente da Cecap, hoje CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo), seguidor do então governador do estado e ex-presidente do São Paulo Laudo Natel. Aidar, então, passou a admirar Juvenal pela inteligência e poder de discurso. Quando se tornou presidente do São Paulo, em 1984, o advogado insistiu diariamente durante um mês para que Juvenal se tornasse seu diretor de futebol. O admirado não queria, mas aceitou o convite no último dia do prazo para que o organograma da diretoria fosse apresentado pelo novo presidente.
Desde então, Juvenal decolou. Para Aidar, “nunca houve um diretor de futebol no São Paulo como Juvenal Juvêncio”. Os elogios do advogado à competência do atual presidente como diretor de futebol são diversos. Aidar afirma que só conseguiu criar o Clube dos 13 porque a habilidade de Juvenal Juvêncio permitiu que ele se afastasse do São Paulo em alguns momentos. A parceria resultou em sucessão: em 1988, Juvenal Juvêncio se tornou presidente do clube pela primeira vez, em um mandato do qual não sairia reeleito.
Vinte e seis anos depois dessa sucessão, as cartas trocam de lugar. Aidar diz em tom de brincadeira que convidou Juvenal Juvêncio para que fosse diretor de futebol em sua gestão, agora, mas ouviu resposta negativa. O novo Juvenal, então, na visão do candidato, se faz necessário. Alguém em quem possa identificar as mesmas competências vistas em Juvenal em 1983. Aidar ainda não tem esse nome. Afirma também que, se tivesse, não falaria. Ele mostra certa preocupação por não conseguir identificar este braço-direito até agora, mas fala convicto que encontrará.
Os projetos de Aidar para o futebol do São Paulo incluem a aproximação a fundos de investimentos – algo que Juvenal recusa – para viabilizar contratações impactantes. O exemplo utilizado na conversa desta quinta-feira foi o atacante uruguaio Edinson Cavani, do Paris Saint-Germain (FRA), que recentemente reclamou de seu posicionamento no setor ofensivo e gerou cobiça de grandes clubes ingleses, às vésperas do fechamento da janela de transferências. É apenas um exemplo, mas Aidar sonha em poder montar um modelo em que possa levar ao Morumbi um jogador como esse.
Outra ideia marcante para o futebol é a criação de um modelo autônomo de negócio para Cotia. A categoria de base do São Paulo seria independente. O departamento de futebol profissional teria de comprar jogadores formados em Cotia para que pudesse aproveita-los. Os atletas formados sob este sistema teriam facilitações contratuais para que se mudassem para o São Paulo por valor reduzido. Se não fossem aproveitados, seriam vendidos a outros clubes. Aidar admite que esse modelo fará com que bons jogadores sejam formados e contratados por rivais. Para o candidato, é um risco que se corre na tentativa de produzir um modelo de excelência na formação de atletas.
Aidar não canta vitória. Diz que ganhará a eleição, mas trabalha diariamente para angariar votos. Se eleito em abril, pretende dar início a estudos para a criação de uma nova liga dos clubes, independente da CBF. Ele quer aproveitar ideias do Bom Senso F.C., fala em estaduais reduzidos e um campeonato nacional com 16, e não 20 clubes. Mas não quer ruptura com a CBF para tal feito. Quer a liga dos clubes ao lado da entidade. Essas e outras questões ainda são lapidadas por Aidar.
Nos próximos dias ele intensificará as iniciativas de campanha, a poucos meses do pleito que deverá acontecer em 16 de abril, após a eleição de 80 conselheiros para o novo corpo do conselho deliberativo que elegerá o presidente.
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