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"Cigano do futebol", Paulo Rink sofreu com carne de cachorro na Coreia

Rink (e) corre ao lado de Mathaus durante treino da Alemanha para a Copa das Confederações de 1999  - Thomas Kienzle/AP
Rink (e) corre ao lado de Mathaus durante treino da Alemanha para a Copa das Confederações de 1999 Imagem: Thomas Kienzle/AP

Jones Rossi

do UOL, em São Paulo

11/10/2013 15h00

Em 15 anos de carreira no futebol profissional, o ex-atacante Paulo Rink se tornou um cigano do futebol. Morou em cinco países diferentes, inclusive o Chipre, e defendeu 11 clubes, de Atlético-PR a Vitesse, do mundialmente famoso Santos ao desconhecido Omonia Nicosia (Chipre).

Graças a tanta peregrinação, é fluente em seis idiomas: alemão, inglês, espanhol, grego, italiano e, claro, português. Mas nem todo esse conhecimento o tirou de uma enrascada em 2005, ao assinar contrato com o Jeonju, time coreano controlado pela montadora de automóveis Hyundai.

“Poucas pessoas falam inglês na Coreia do Sul. Eu andava com tradutores quase o tempo todo, mas não gosto de depender de outras pessoas. Até cachorro acabei comendo lá. Eu emagreci alguns quilos porque no final só comia repolho em conserva.”

A experiência na Coreia não durou muito.  “Com 33 anos, achei que não valia a pena ficar ali sofrendo.” Ainda em 2005 ele voltou para o Chipre, onde já estivera antes defendendo o Olympiakos Nicosia, mas desta vez para jogar pelo Omonia Nicosia. Por mais que pareça uma má ideia jogar em um país com tão pouca representatividade dentro do futebol mundial (o Chipe ocupa a 134ª posição no ranking da Fifa, atrás do Cazaquistão), para Paulo Rink a experiência foi boa.

“Para a família, foi uma mudança positiva. Podia passar mais tempo com ela. Até hoje, tenho amigos lá e vou para lá nas férias". Mesmo pelo lado profissional, a passagem teve seu lado proveitoso. “Praticamente iniciamos o país na Liga dos Campeões. E tinha de tudo no time: policial, bombeiro…”

Rink teria continuado no Chipe se não tivesse sido chamado pessoalmente pelo atual e também em 2006 presidente do Atlético-PR, Mario Celso Petraglia. “Ele me ligou pedindo ajuda para tirar o time daquela situação.” Na época, o time corria sério risco de rebaixamento e só escapou nas últimas rodadas.

Paulo Rink ajudou mais com sua experiência, entrando no final dos jogos. Gol mesmo, só na derrota contra o Juventude, por 3 a 2. Mas o objetivo final foi alcançado, com 48 pontos, o Atlético-PR terminou na 13ª posição, e escapou do rebaixamento.

Essa foi a segunda vez que Mario Celso Petraglia recorreu ao atacante para livrar o time da segunda divisão. Em 1995, depois de duas passagens vitoriosas pela Chapecoense, quando foi vice-artilheiro do Campeonato Catarinense em 1993, com 21 gols, e artilheiro absoluto em 1995, com 23, chegou ao Atlético-PR já na 8ª rodada da Série B. Com Oséias, formaria uma dupla memorável que levaria o Atlético ao título aquele ano e às quartas-de-final da Série A no ano seguinte, já com o técnico Evaristo de Macedo.

Em uma das melhores apresentações daquele time, quebrou a invencibilidade do Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo em meia hora de jogo na Baixada. “Com o Evaristo não tinha retranca. Ele dizia pra gente na preleção: Se for pra morrer, quero morrer atacando, não quero morrer defendendo.”

As boas atuações o levaram para o Bayer Leverkusen, na Alemanha, por 8 milhões de dólares. “Foi a maior transferência da história do futebol paranaense”, afirma Rink, com uma ponta de orgulho. Mas o início foi complicado. “No começo foi traumático. Não conseguia fazer o que o técnico queria. E não davam atenção especial pelo idioma diferente. Mas com o tempo me adaptei.”

Passado o tempo de adaptação, o bom futebol apresentado por Rink fez com que fosse o primeiro brasileiro convocado para a seleção alemã. “Fiquei num dilema muito grande. Liguei para o Luxa [Vanderlei Luxemburgo, técnico da seleção entre 1998 e 2000] e ele disse que a concorrência era muito grande [naquela seleção jogavam Ronaldo, Rivaldo e Edmundo, por exemplo]. Optei pela Alemanha. No final acabou sendo bem tranquilo. Metade da seleção era conhecida, sete dos que disputaram a Eurocopa 2000 eram do Leverkusen.”

Antes da Eurocopa, Rink chegou a disputar a Copa das Confederações de 1999, ao lado de Lothar Matthaus, que se tornaria mais tarde, em 2006, técnico do Atlético-PR, mas não chegou a dirigir Rink.

Cigano do futebol


Atlético-PR: 1990 Atlético-MG: 1991 Chapecoense: 1993-1995 Atlético-PR: 1995-1997 Bayer Leverkusen (Alemanha): 1997-1999 Santos: 1999 Bayer Leverkusen (Alemanha): 2000 Nuremberg (Alemanha): 2001-2002 Energie Cottbus (Alemanha): 2003-2004 Olympiakos Nicosia (Chipre): 2004 Vitesse (Holanda): 2004-2005 Chonbuk (Coreia do Sul): 2005 Omonia Nicosia (Chipre): 2005-2006 Atlético-PR: 2006-2007

Na mesma época, ele também teve uma passagem pelo Santos. De volta à Alemanha, cumpriu mais um ano de contrato com o Bayer e se transferiu para o Nuremberg (2001-2002) e para o Energie Cottbus (2003-2004), dois times de menor expressão na Alemanha. “Eu ia para o Hertha Berlim depois de sair do Bayer, mas a TV que detinha os direitos faliu e os clubes ficaram sem dinheiro. Foram dois anos de baixa.”

Após a aposentadoria em 2006, Rink fez cursos para se tornar gerente de futebol. A oportunidade veio em 2011, mas um jogo de pôquer o atrapalhou. Em uma partida contra o Avaí, pelo Campeonato Brasileiro, em um momento de folga dos jogadores, ele foi participar de um campeonato profissional que estava ocorrendo em Florianópolis.

O presidente do clube na época, Marcos Malucelli, que havia sido eleito com o apoio de Mario Celso Petraglia, mas havia rompido pouco tempo após a eleição, resolveu demitir Rink, então gerente de futebol por esse episódio.

“Para desviar a atenção da derrota me demitiram”, defende-se Rink. Eu tinha ido contra a contratação de Morro García, atacante uruguaio do Nacional, que chegou ao Atlético, por 2,5 milhões de reais, a maior contratação da história do futebol paranaense, mas que pouco fez no Atlético e teve um resultado positivo para cocaína em um exame antidoping realizado quando ainda jogava no Uruguai.

Da disputa política interna no clube, Paulo Rink passou para a disputa política municipal.  Se candidatou a vereador pelo Partido Progressista e foi eleito com 5.625 votos. Voltou ao futebol na Câmara Municipal como Presidente da Comissão Especial para Assuntos Relacionados à Copa do Mundo de 2014.

Por ser atleticano, o vereador Paulo Rink beneficiaria o clube do coração? “Nunca me curvei a nenhum interesse. Estamos tentando colocar transparência em todas as etapas, verificando erros e questionando obras”, diz.

Sobre a boa campanha do Atlético-PR no Campeonato Brasileiro, Paulo Rink tem a fórmula, à la Evaristo de Macedo. “Já que está em uma fase boa, tem que garantir os 50 pontos. Depois vai para o tudo ou nada.”