Álbum da Copa do Mundo "ressuscita" bancas de jornal em meio à crise
Por motivos óbvios, os fãs de futebol estão ansiosos para a chegada do álbum de figurinhas da Copa do Mundo - os cromos começam a ser vendidos nesta sexta-feira e o livro ilustrado fica à disposição dos consumidores a partir de domingo, como encarte de jornais, e na terça-feira, em venda avulsa. Mas tem um grupo de pessoas que está ainda mais inquieto pelo álbum e toda a febre que o envolve: os donos de bancas de jornais e revistas. A explicação é simples: a venda das figurinhas eleva em "40% ou até mais" o faturamento anual dos jornaleiros.
Nos últimos anos, as bancas têm sofrido com a crise do mercado editorial e se transformaram em pequenas lojas de conveniência espalhadas pelas cidades, com produtos para comer e beber e até brinquedos de pequeno porte à venda. Em dez anos, de acordo com informações do Sindicato dos Jornaleiros de São Paulo, a própria existência das bancas caiu em 40% (eram 5 mil registradas e hoje são 3 mil, em números aproximados). Por tudo isso, a venda do álbum de figurinhas da Copa do Mundo é um boom aguardado ansiosamente para deixar as contas em dia.
"O aumento é muito forte e está sendo extremamente aguardado pelas bancas, que precisam muito que esse movimento aconteça. A banca de jornal, nesse período de quatro meses em que é vendido o produto (de março a julho), vai aumentar 30%, 40%, algumas até mais no faturamento. Isso vai representar no fim do ano como se o jornaleiro ganhasse um 13º salário, algumas que forem mais felizes até 14º salário. O álbum é um produto típico de banca de jornal, que você não tem como fazer online porque não tem graça. Por conta disso que esperamos que vai dar uma renovada, os jornaleiros todos estão ansiosos", conta José Antonio Mantovani, presidente do Sindicato de Jornaleiros, ao UOL Esporte.
Entidades ligadas a jornaleiros em São Paulo e Rio de Janeiro tiveram reuniões com representantes comerciais e de marketing da Panini, editora responsável pelo álbum de figurinhas da Copa do Mundo, para definir detalhes da divulgação do produto. Já há bancas que ostentam banners e adesivos referentes ao álbum, que teve cerca de 8 milhões de edições comercializadas na última Copa, número aproximado de 10 bilhões de figurinhas produzidas.
Neste ano a expectativa é maior, com o álbum a R$ 7,90 (R$ 49,90 a edição em capa dura em kit com mais 60 figurinhas) e o pacote de cinco cromos por R$ 2,00. O faturamento, assim, também será ampliado, para alegria dos jornaleiros.
"Estive reunido com várias bancas e me disseram que a venda de publicações, inclusive da Panini, hoje representa 20% das vendas. Ou seja, são vendidas muitas coisas além de revistas. Durante a Copa do Mundo esse número cresce, então sabemos que é uma ajuda muito grande às bancas. A expectativa é enorme, todos esperam vender muito porque a demanda já existe", diz José Eduardo Severo Martins, presidente da Panini, que sabe o papel de seu produto neste momento de crise das bancas.
"Temos que fazer algo para salvar as bancas, porque senão elas vão desaparecer. As pessoas estão acostumadas a ir à banca buscar as figurinhas, e isso não vai mudar", completa.
Bancas vão incentivar até a troca de figurinhas
As bancas de revista são responsáveis pela venda dos pacotinhos de figurinhas. Isso significa que quando os consumidores iniciam o período de trocas das repetidas o fluxo acaba ficando menor, certo? Não necessariamente. De acordo com José Antonio Mantovani, presidente do Sindicato dos Jornaleiros, a classe está buscando modos de aproveitar até mesmo o período em que os colecionadores trocam figurinhas, e não compram mais, para lucrar.
"Antigamente os jornaleiros não gostavam que ocorressem trocas, porque achavam que isso faria eles venderem menos pacotinhos de figurinha. Só que na Copa do Mundo, e já é assim há três edições, isso das trocas se acentuou. Com a questão da tecnologia, Whatsapp, comunicação, as pessoas se reúnem mais facilmente. Então os locais que começaram a fazer isso foram bem divulgados, o pessoal que vai para trocar acaba comprando mais também", diz Mantovani, proprietário de uma banca na Zona Norte de São Paulo.
"Meu ponto de vendas arrebenta nos eventos de trocas de figurinha. Chegaram a ter 800 pessoas na minha loja em fim de semana de troca. O grande segredo é o velho conceito: trate bem que o seu cliente volta".
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