"Prostituição emocional": o obscuro mercado das esposas russas
Uma rápida busca na internet não deixa dúvidas: aparentemente, homens de todo o mundo estão loucos para irem à Rússia. Não apenas para assistirem à próxima Copa do Mundo, mas para encontrarem o grande amor de suas vidas.
São muitos os sites de relacionamento voltados especificamente para quem deseja encontrar uma esposa russa. O termo “russian wives” (esposas russas) traz cerca de 18 milhões de resultados no Google. Parte considerável deste volume é formado por páginas que prometem colocar homens solitários de qualquer canto do planeta em contato com mulheres que são o estereótipo perfeito da beleza branca e ocidental.
“Russian Young Single Ladies” (“jovens damas russas e solteiras”), “Russian wifes”, “The Russian Wife” (“a esposa russa”) e “Amazing Russian Wifes” (“maravilhosas esposas russas”) são algumas das opções que já aparecem logo de cara. Em comum, todas oferecem vastos catálogos de candidatas a esposas.
Sites diferentes, mesmo padrão
O “Amazing Russian Wife”, por exemplo, mostra já em sua página inicial os perfis de dez mulheres, com idades entre 20 e 40 anos, que estariam cadastradas no site. Há loiras, morenas, ruivas, e todas parecem top models.
No “The Russian Wife”, um carrossel com fotos de mulheres no topo da página tenta fisgar os corações e mentes dos homens solteiros. Nas imagens, as candidatas seguem o mesmo padrão físico. Passam a impressão de estarmos diante do catálogo de uma agência de modelos, não de mulheres comuns em busca de um parceiro.
As fotos vêm acompanhadas de supostos “nicknames” das candidatas, como “give it to me” (algo como “me dê aquilo”) e “promise_hapiness” (“promessa de felicidade”) e “godessodessa” (“deusa de Odessa”).
O termo “esposas russas”, aliás, na prática não se refere apenas às russas. Como uma espécie de estratégia para aproveitar os fetiches e generalizações dos homens ocidentais, os sites de relacionamento o utilizam como um guarda-chuva sobre o qual estão mulheres de praticamente qualquer parte do Leste Europeu, como Ucrânia, Belarus e Sérvia.
Credibilidade questionável
Quem estiver pensando em aproveitar tais serviços em uma eventual ida à Rússia durante a próxima Copa do Mundo, porém, deve se precaver. Primeiro porque, claro, estes sites são pagos, e muitos deles cobram cada minuto de conversa em um chat. Depois, porque ainda é impossível saber se falamos de um serviço legítimo ou de um golpe.
Embora ofereçam variadas opções para contato, os sites são avessos a pedidos de qualquer tipo de informação institucional. O UOL Esporte tentou, por e-mail e telefone, conseguir respostas de três deles. O objetivo era entender como funcionam, se são confiáveis e se a Copa do Mundo, de alguma maneira, tem influenciado na busca pelo serviço.
Nenhuma resposta foi dada apesar da insistência, então o UOL Esporte acessou a única ferramenta pela qual os sites respondem, e rápido: o chat online para tirar dúvidas de clientes e possíveis clientes.
A pergunta sobre a Copa do Mundo irritou a atendente, que respondeu dizendo se tratar de um “site para pessoas sérias” e pedindo “por favor” para não “misturarmos futebol com os serviços deles”.
O desconhecido que respondeu a tudo
Em um segundo chat, a reportagem quis saber se um brasileiro também teria chances com as candidatas do site ou se elas estão interessadas apenas em europeus e norte-americanos. “Depende da garota”, respondeu a atendente desta vez. “Muitas gostam de peruanos, sul-americanos.”
Um raro momento no qual alguém de dentro desse universo se dispôs a tirar dúvidas aconteceu em 2012. Um funcionário do site RussianLoveMatch.com se colocou à disposição dos usuários do site Reddit para responder a tudo o que eles quisessem saber sobre o serviço.
A curiosidade envolvendo tais serviços de relacionamento era tão grande já naquela época que o site de negócios Business Insider entrou em contato com o RussianLoveMatch.com para saber se a pessoa no Reddit trabalhava mesmo para eles. A resposta foi afirmativa.
Entre as perguntas feitas pelos usuários da gigantesca comunidade virtual está “are they really hot?” (elas são mesmo “gostosas”?), que recebeu como resposta “algumas delas são realmente gostosas. A julgar pelas fotos e vídeos, elas estão mandando bem. Não são ricas, mas também não estão cavando batatas na tundra congelada”.
Outro internauta questiona a beleza de uma candidata específica que aparece de calcinha e sutiã na foto do perfil. Diz que ela poderia ser facilmente uma modelo, o que o faz questionar a credibilidade do serviço. “Isso é uma preocupação totalmente válida”, responde o misterioso funcionário, que completa: “tenha em mente, porém, que as candidatas estão todas arrumadas para aparecerem o melhor possível, e os perfis das mais ´gostosas` aparecem primeiro. Temos muitas mulheres de aparência ´comum”.
Decepcionados e sem grana
Sobre a que é, provavelmente, a mais importante das perguntas, o funcionário garante que o RussianLoveMatch.com toma todas as providências legais e burocráticas para evitar que golpistas usem os serviços do site. Neste caso, porém, talvez seja melhor saber o que o jornalista Shaun Walker relata em uma reportagem para o jornal inglês “The Guardian” em 2014.
Walker viajou à Ucrânia para acompanhar um grupo de clientes do site de relacionamentos Anastasia Internacional. Eram homens, a maioria americanos, viajando para encontrarem ao vivo suas paqueras virtuais.
Ao invés de lindas e bem-sucedidas histórias de amor, o que o jornalista viu foram homens voltando para casa tristes, decepcionados e sem dinheiro. Conversando com eles, Walker descobriu o que, em regra, costuma acontecer: depois de receberem dinheiro do site para manterem um diálogo com os “gringos” e iludi-los, as mulheres desaparecem assim que eles chegam à Ucrânia.
“Prostituição emocional”
Algumas até chegam a encontrá-los, mas desaparecem logo depois ou se dizem confusas, levando em “banho-maria” as expectativas dos clientes do site. O próprio jornalista soube disso após conhecer uma garota chamada “Alina” que abriu o jogo para ele: tratava-se de “prostituição emocional”, algo que elas faziam porque precisavam de dinheiro.
Um dos homens que o jornalista conheceu era um texano, então com 62 anos, que já estava em sua 11ª viagem à Ucrânia em sua busca desesperada pela pessoa amada.
Outro americano, com 43 anos à época, fez hora extra no trabalho durante meses para conseguir juntar os cinco mil dólares então necessários para fazer a viagem. Também voltou da Ucrânia sem esposa.
De acordo com a reportagem, o lucro da Anastasia à época girava em torno de 140 milhões de dólares.
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