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Como usar o 'minuto de silêncio' proporcionado por Abel para refletir?

Depois de o Palmeiras se classificar para as semifinais do Paulistão com vitória sobre a Ponte Preta, no último sábado (16), Abel Ferreira fez um pronunciamento repudiando "todo ato de discriminação, nacionalidade ou qualquer tipo de violência". Em seguida, o treinador ficou em silêncio por alguns segundos.

Abel não citou Carlos Belmonte, diretor de futebol do São Paulo, que o chamou de "português de m...". A ofensa foi proferida pelo cartola ao cobrar a arbitragem após empate no clássico entre as equipes no início do mês.

Mesmo sem o nome do são-paulino ser pronunciado pelo técnico, ficou claro que sua manifestação foi referente ao episódio. O caso resultou num acordo entre TJD-SP (Tribunal de Justiça Desportiva) e São Paulo. Foram evitadas suspensões a Calleri, Wellington Rato e Rafinha. O trato incluiu um pedido de desculpas de Belmonte. Cada jogador foi multado em R$ 25 mil reais.

O momento em que Abel ficou calado, teve o efeito simbólico de um minuto de silêncio. Por tradição, este é um instante de reflexão.

Sobre o que é possível refletir durante o silêncio do treinador? (você pode fazer a sua própria reflexão assistindo ao vídeo aqui).

A seguir, cinco temas para serem abordados na reflexão incentivada por Abel.

1 - Pedido de desculpas

De que vale um pedido de desculpas feito como parte de um acordo com um tribunal?

Belmonte gravou um vídeo pedindo desculpas para o técnico do Palmeiras por ter proferido uma frase classificada por ele como inadequada.

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Como acreditar que foi um gesto sincero, pois integrou uma composição que abrandou penas para os são-paulinos?

Belmonte deveria pelo menos ter telefonado para o treinador Alviverde se desculpando.

2 - Incentivo

O acordo que abrandou as penas dos são-paulinos não estimula os clubes a pressionarem os árbitros?

O pensamento funciona assim: "eu vou lá, encho o túnel de acesso aos vestiários de gente para intimidar o árbitro e depois faço um acordo com o tribunal. E ainda deixo os juízes pressionados nos próximos jogos do meu time".

3 - Xenofobia

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Belmonte diz que não foi xenófobo. Argumenta que usou a palavra "português" para identificar Abel ao árbitro. O argumento não é dos mais fortes.

Dada a gravidade do caso, o tribunal não deveria excluir episódios de possíveis práticas de atos discriminatórios desses acordos?

A ata do TJD informa que as penas aplicadas aos são-paulinos foram decorrentes de transação disciplinar prevista no CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva).

Mesmo sendo suspenso por 30 dias e multado em R$ 50 mil, Belmonte foi beneficiado pelo trato.

Ele havia sido denunciado em dois artigos. Por desrespeitar a equipe de arbitragem, o dirigente poderia pegar de 15 a 180 dias de suspensão.

Por "ofender alguém em sua honra, por fato relacionado diretamente ao desporto", o diretor são-paulino ficou sujeito à multa de R$ 100,00 a R$ 100 mil. Isso além de 15 a 90 dias de gancho. Ficou barato.

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4 - São Paulo

O clube do Morumbi foi denunciado por deixar de tomar providências para prevenir desordens em seu estádio. O Tricolor poderia receber multa de R$ 100 a R$ 100 mil. A agremiação foi multada em R$ 10 mil. Não é uma pena muito branda diante da ratoeira em que se transformou um dos corredores do Morumbis para a equipe de arbitragem?

Ficou a impressão de que TJD e Federação Paulista de Futebol fecharam os olhos para o problema.

Pensando na proteção dos árbitros, a FPF deveria vistoriar o local e tomar medidas para que isso não se repita.

5- Grana

Os segundos de silêncio proporcionados por Abel poderiam ser utilizados para pensarmos no que a FPF faz com o dinheiro das multas aplicadas pelo TJD. Só no caso envolvendo o São Paulo, a entidade arrecadou R$ 205 mil.

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De acordo com o departamento de comunicação da FPF, o dinheiro recebido pela instituição com multas é aplicado nas competições organizadas por ela.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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