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OPINIÃO

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Menon: Carta do Brusque é aula de racismo estrutural

Celsinho, meia do Londrina - Reprodução/Instagram
Celsinho, meia do Londrina Imagem: Reprodução/Instagram

30/08/2021 12h05

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Esse negro dá muito problema.

A frase acima foi dita milhões de vezes por senhores de escravos. A solução? Chibata neles. Ou a venda para outro dono. Ou a morte. Ao negro, de quem duvidavam ter alma, era proibido pensar.

A escravidão acabou há 133 anos e o Brusque, de Santa Catarina, repete o argumento contra Celsinho, do Londrina, que relatou ter sido vítima de racismo por dirigentes do clube

Leiam a nota oficial do clube

"O atleta, por sua vez, é conhecido por se envolver neste tipo de episódio. Esta é pelo menos a 3a vez, somente este ano, que alega ter sido alvo de racismo, caracterizando verdadeira "perseguição" ao mesmo. Importante esclarecer que, ao árbitro, o atleta não relatou ter sido chamado de "macaco", mas sim que teriam dito "vai cortar esse cabelo de cachopa de abelha", o que constou da súmula e revela a total contradição nos seus relatos."

É a terceira vez que alega racismo? Ora, ele gosta de se envolver nesse tipo de episódio. Que negro complicado!?

Nunca vi um clube ou uma pessoa assumir de forma tão escancarada o racismo estrutural. A lógica é perversa. Reversa. Se Celsinho disse ter sido vítima de racismo três vezes, não significa que o racismo existe e que Celsinho é lutador e consciente, significa apenas que Celsinho é encrenqueiro e gosta desse tipo de episódio?

Gosta?

Duvido que goste.

Ele quer apenas usar o cabelo alto, por estética, ideologia ou qualquer outro motivo. Apenas não quer ser ofendido.

Só lembrando que nas duas vezes anteriores, o ato racista foi sobejamente comprovado. Foi feito por radialistas que pagaram com demissão.

O Brusque preferiu outro caminho. Culpa a vítima "por se envolver nesse tipo de episódio". Culpa a vítima por reagir. Culpa Celsinho por ser um negro problemático.

1888 ainda não chegou para os diretores do Brusque.