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Simone Biles brasileira seria vítima de ódio do caça-medalha nas Olimpíadas
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A notícia surpreende. Simone Biles não é Nice, a deusa alada, filha de Palmas e Estige. Os seus voos, os seus saltos, seu equilíbrio não são divinos. São feitos de muito trabalho.
Simone Biles, acreditem, é apenas uma mulher. Uma mulher que tem boa parte da parede do quarto reservada para expor 30 medalhas conquistadas em Mundiais e Olimpíadas, cinco delas na Rio-16.
Uma mulher às portas do Olimpo do Esporte. Sim, uma deusa no sentido figurado. Uma deusa que sucumbiu à mulher. Biles desistiu de competir provisoriamente por não suportar a pressão de vencer sempre. "Preciso cuidar de minha saúde mental", disse.
O caminho ficou aberto para a brasileira Rebeca Andrade ao brasileiro "caça-medalha". Aquele que não aproveita o sofá de casa para ver os maiores atletas do mundo. Para sentir prazer com o esporte. Para se deliciar com o manjar servido apenas de quatro em quatro anos.
Não, ele está ali para torcer pela queda de um skatista, pelo afogamento de um surfista, para que algum judoca torça o tornozelo. De leve.
O Barão de Coubertin - "o importante é competir" - é desrespeitado todo dia. Simone Biles seria ofendida. "Saúde mental? Por que não tratou antes? Amarelona, irresponsável. E a nossa medalha, como fica"?
Foi assim com Fabiana Murer quando desistiu do salto com vara em Londres por causa do vento. Amarelona foi o mínimo. E o vento era perigoso. A vara poderia quebrar. Ela poderia morrer.
Sim, o brasileiro caça-medalha se sente dono da conquista. Não acompanha, não ajuda, mas a medalha é dele.
E aí, de quem tentar atrapalhar. A hashtag Hiroshima e Nagasaki chegou aos TTs do twitter por causa da eliminação de Gabriel Medina. Descobriram que o juiz que não deu o wazari para Maria Portela foi candidato a alguma coisa em Acapulco e tome ofensa...
Mas o ódio do brasileiro caça-medalha não se volta apenas a estrangeiros. O caso do skate foi exemplar. Letícia Bufoni não comemorou a prata de Kelvin. Cada um é de um rolê diferente. E a sua eliminação no dia seguinte foi comemorada por pessoas que nunca tinham ouvido falar dos nomes dos skatistas anteriormente. É preciso tomar um lado. É preciso odiar alguém.
Como a Rebecca do vôlei de praia. É um corpo moldado com coxinha e lasanha. Ela tem um corpo fora do padrão esperado para uma atleta olímpica. Para ser aturada, para ser aceita, para não ser hostilizada e ofendida, precisa vencer. Ganhar uma medalha. Como perdeu, tome ódio. Ninguém se pergunta se a parceira errou. A culpa de eu não ganhar uma medalha é da gorda. Do mordomo.
E o caso do Nory? Ele teve atitude racista em 2015. Sinceramente, acho que quem tem atitude racista, é racista. Ponto.
Mas os que comemoraram sua eliminação pelo ato criminoso de 2015, são antirracistas? Como eles reagem quando o tio do churrasco credita a um "serviço de preto" o fato de a picanha estar queimada?
As Olimpíadas são um espetáculo esportivo, cultural, multiétnico. Não são palco para velhos preconceitos deixarem o armário. Não são catapulta para ódios mal resolvidos. Não são para os caça-medalhas pachecos exigirem seu quinhão no butim.
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